POVOS ORIGINÁRIOS

A situação precária na aldeia Mbyá-Guarani Guyra Nhendu, em Maquiné (RS)

Há uma sensação de abandono e falta de apoio vivido pela comunidade, principalmente em relação à moradia segura

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Júlia Gimenes, 65 anos, mostra a situação das moradias na Aldeia Guyra Nhendu, em Maquiné - Foto: Simone Alves de Almeida

Apesar dos muitos olhos virados para a situação trágica que o Rio Grande do Sul (RS) está passando neste momento, alguns lugares continuam invisíveis.

Maquiné é um município no Litoral Norte do RS, onde resiste uma densa área de Mata Atlântica. Lá, chove muito e é bastante úmido.

O excesso de umidade frequentemente atinge as plantações e a produção de alimentos, enquanto as chuvas intensas destroem estradas, pontes e acessos, trazendo muitos prejuízos para os moradores.

Esta semana, uma lista das cidades gaúchas mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas (considerando riscos de inundações, desabamentos, entre outros aspectos) colocou o município de Maquiné no primeiro lugar do ranking. Neste momento, mais uma vez, o município encontra-se em estado de calamidade pública.

A aldeia Mbyá-Guarani Guyra Nhendu (Som dos Pássaros) tem sete anos de existência, situada em uma área particular cedida para a permanência da comunidade indígena. A comunidade enfrenta muitas dificuldades de acesso a direitos básicos. Há uma sensação de abandono e falta de apoio. Sua situação urgente decorre principalmente da falta de moradia segura.

Lá vivem cinco famílias, com  um total de 21 pessoas de diferentes faixa-etárias. Entre elas estão Júlia Gimenes, de 65 anos, seus filhos, filha, noras e netos, o mais novo tendo agora 2 anos de idade.


Casa de Júlia Gimenes fica na encosta do morro e tem sua estrutura totalmente comprometida / Foto: Simone Alves de Almeida

A casa onde vivem Júlia Gimenes e sua filha Priscila, de 8 anos, tem sua estrutura comprometida. As paredes e o assoalho estão podres e o telhado está caindo. Quando chove, molha muito dentro.  Além disso, a casa fica na encosta do morro e está sujeita a destruição total pelas tempestades e pela água que desce da encosta. Nesta construção, estão guardados os artesanatos tradicionais, fonte de renda da família.

No inverno de 2023, a situação já era de risco. A falta de acesso a moradia digna motivou uma vaquinha online entre amigos e amigos de amigos, para a compra de material e construção de um espaço seguro. Com o valor arrecadado, Gimenes e sua família construíram sua casinha. Mas em janeiro deste ano a casa pegou fogo e, mais uma vez, ela teve que voltar para a casa anterior, que agora se encontra ainda pior do que antes.


Casa atingida pelo fogo havia sido construída com valor arrecadado em vaquinha online / Fotos: Dona Júlia e Simone Alves de Almeida

Como as edificações são precárias, a intensidade das chuvas trás muitos danos, mesmo que as áreas não sejam atingidas diretamente pelos rios.

A cada chuva, Gimenes tem medo que a casa desabe. Outras moradias da aldeia, que abrigam seus filhos, noras e netos, também são vulneráveis e inseguras. Gimenes afirma ser urgente a construção de três casas na aldeia para acomodar sua família em segurança.

Infelizmente, a ajuda não tem chegado na Guyra Nhendu, que enfrenta também a insegurança alimentar e dificuldade de gerar renda. Boa parte do plantio de alimentos foi perdido em função do clima, e a venda de artesanato, que é única fonte de renda dessa comunidade, fica totalmente paralisada, ampliando ainda mais as dificuldades.

Júlia Gimenes é uma anciã de grande sabedoria, uma biblioteca viva que carrega consigo a cultura guarani. Sua vida em segurança é importante para todo um povo! É urgente que as necessidades de sua aldeia sejam atendidas e é emergencial que sejam construídas três casas na Aldeia Guyra Nhendu.

Esse texto é dirigido às instituições responsáveis pela garantia de direitos indígenas – Funai, MPI, MPF, Sesai, e a todos aqueles que são solidários a essa luta, que compreendem que a causa indígena é a causa de toda a humanidade. Que a Tekoa Guyra Nhendu seja lembrada e as suas necessidades atendidas com urgência!

Para quem puder ajudar, segue o Pix: CPF 014.825.410.17, em nome de Júlia Gimenes.

* Simone Alves de Almeida é doutora em Psicologia Social e Institucional e Mestra em Saúde Coletiva. Pesquisadora CNPq no projeto "Resistências indígenas, quilombolas e camponesas diante do Antropoceno/plantationoceno". Psicóloga Clínica.

* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Marcelo Ferreira