O IMPOSITOR

Guerra fiscal: Trump ameaça impor tarifas de 25% sobre o México e Canadá a partir deste sábado

Países do Brics também foram ameaçados com taxas de 100% caso continuem com tentativa de desdolarização no bloco

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Donald Trump ameaça impor tarifas de 25% sobre o México e Canadá a partir deste sábado (1) - GEOFF ROBINS/AFP

Donald Trump, que retornou à Casa Branca há pouco mais de uma semana, anunciou a intenção de impor tarifas de 25% sobre produtos do Canadá e do México a partir deste sábado (1). As consequências podem ser graves para os três países.

México e Canadá são teoricamente protegidos pelo acordo de livre comércio T-MEC assinado durante o primeiro mandato do republicano. Mas isso apenas na teoria.

Na quinta-feira (30), o magnata disse que decidiria a qualquer momento se isentaria as tarifas sobre petróleo produzido nesses dois países.

Segundo a Oxford Economics, se isso acontecesse, a economia dos Estados Unidos perderia 1,2 ponto percentual de crescimento, e o México poderia mergulhar em uma recessão.

Para Wendong Zhang, professor da Universidade de Cornell, o choque não seria tão grande para os Estados Unidos, mas certamente seria para os outros dois países. "Nesse cenário, Canadá e México podem esperar uma contração do PIB de 3,6% e 2%, respectivamente, e os Estados Unidos, em 0,3%", estimou à AFP.

"A China também sofreria com uma escalada da guerra comercial existente, mas, ao mesmo tempo, se beneficiaria (das tensões entre Estados Unidos, México e Canadá)", pontuou Wendong Zhang.

Arma político-comercial

Durante a campanha, o candidato republicano disse que queria impor taxas alfandegárias de 10% a 20% sobre todos os produtos importados para os Estados Unidos, e de 60% a 100% sobre aqueles procedentes da China.

Na época, o objetivo era compensar financeiramente os cortes de impostos que ele também pretende implementar durante seu mandato, principalmente para bilionários e empresas. Mas desde que ganhou as eleições, o tom mudou.

Em vez de uma ferramenta para compensar a queda nas receitas fiscais, as tarifas se tornaram, como foram durante seu primeiro mandato, uma arma que ele usa para forçar negociações e obter concessões.

Segundo explicação de Donald Trump, as tarifas foram uma resposta à incapacidade de seus vizinhos de impedir o fluxo de drogas, particularmente fentanil, e de migrantes para os Estados Unidos.

O indicado do magnata para o cargo de secretário do Comércio, Howard Lutnick, chamou isso de "ato de política interna" durante audiência no Senado.

Howard Lutnick foi muito claro sobre as ameaças na última terça (28): "Sei que eles se movem rápido", disse, referindo-se aos dois países. "Se fizerem a coisa certa, não haverá tarifas".

"As tarifas são simplesmente projetadas para forçá-los a fechar suas fronteiras", ele insistiu. "Esta é uma tarifa especial, criada para incentivá-los a agir".

A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, estava bastante otimista na quarta-feira: "Não achamos que isso vá acontecer, honestamente. E se acontecer, também temos nosso plano."

Preocupação com exportações

Mesmo com os discursos de Sheinbaum e possíveis planos de contenção contra as imposições Trump, o setor agrícola mexicano ainda se mostra preocupado.

"Quase 80% das nossas exportações vão para os EUA e, de qualquer forma, qualquer coisa que possa causar um choque é motivo de preocupação", disse Juan Cortina, presidente do Conselho Nacional Agropecuário do México, à agência de notícias AFP na terça-feira (28).

Do lado canadense, a possibilidade de tarifas serviu para acentuar a crise política que já corroía o governo do primeiro-ministro, Justin Trudeau, que renunciou ao cargo no início de janeiro.

O ministro da Segurança Pública do Canadá, David McGuinty, esteve em Washington na última quinta (30) para esboçar um plano para fortalecer a segurança na fronteira entre Canadá e Estados Unidos.

A situação lembra as tensões entre Washington e Bogotá no último fim de semana, quando a Colômbia inicialmente se recusou a permitir que aviões militares com migrantes expulsos pousassem, ao clamar soberania nacional e respeito pelos migrantes.

Donald Trump anunciou então uma série de sanções, incluindo tarifas de 25% que subiriam para 50%, às quais seu homólogo colombiano, Gustavo Petro, respondeu com retaliações, antes de ambos chegarem a um acordo sobre as modalidades de retorno dos migrantes.

Países do Brics ameaçados

Em 1º de fevereiro, Trump também planeja submeter os produtos chineses a um imposto de 10%. Além disso, na quinta-feira, ele reiterou as ameaças de impor tarifas de 100% ao Brics - Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul - caso evitem o uso do dólar em suas transações internacionais.

Em uma publicação no X, Trump garantiu que os EUA não permitirão a criação de uma moeda alternativa ou o apoio de moedas que desafiem a supremacia do dólar.

Ele reiterou a imposição tarifária de 100%, além de excluir esses países do mercado estadunidense se eles persistirem em suas tentativas.

Trump enfatizou que a "era de observar passivamente" as tentativas do Brics de substituir o dólar acabou. "Vamos exigir um compromisso desses países aparentemente hostis de que não criarão uma nova moeda do Brics, nem apoiarão qualquer outra moeda para substituir o poderoso dólar", declarou.

O ultraliberal também acrescentou que, se não cumprirem o compromisso, os países do bloco "enfrentarão tarifas de 100% e devem esperar dizer adeus às vendas na maravilhosa economia dos EUA".

Desde 2023 o bloco discute a possibilidade de criar uma moeda comum, o que daria início a um movimento de desdolarização mundial. Esta é uma iniciativa que, embora ainda em estágio teórico, vem causando preocupação nos círculos políticos dos EUA.

*Com AFP e Telesur

Edição: Leandro Melito