papo na laje

Projeto do MST preserva sementes crioulas e produz obras de arte em Maricá, no Rio de Janeiro

'As sementes crioulas são verdadeiros patrimônios de pequenas comunidades', explica engenheira agrônoma

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Episódio desta quinta-feira (23) recebe a artista plástica Maritania Andretta e a engenheira agrônoma Bianca Santana - Camila Rodrigues

Na semana em que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) celebra 41 anos, o programa de TV Papo na Laje traz como tema o trabalho de recuperação de sementes crioulas em Maricá, na região metropolitana do Rio de Janeiro, com a Arte da Semente. A técnica, criada em 1991, no México, foi adotada no contexto dos assentamentos do MST. A proposta também busca reafirmar a identidade camponesa e fortalecer o pertencimento nos territórios.

No episódio, a professora e artista plástica Maritania Andretta apresenta o projeto Germinando Arte, que leva a técnica para assentamentos, espaços de formação do MST, escolas e universidades. O resultado das oficinas são verdadeiras obras de arte em forma de quadros, mandalas e murais que utilizam até 80 variedades de sementes.

"A arte da semente é um despertar porque os quadros tem uma diversidade de elementos que contam a história do lugar, da resistência dos povos, da vida e do cotidiano. As pessoas se identificam e fazer esse diálogo com a sociedade é o nosso foco", conta a militante do MST Maritania.

Outra convidada é a engenheira agrônoma Bianca Santana, que trabalha em projetos de agroecologia da Cooperar, em Maricá. Maritania e Bianca fazem parte de um projeto de seleção e produção de sementes crioulas que deu origem ao primeiro banco de sementes do município.

Elas explicam que semente crioula é a cultivada por povos originários e camponeses que fazem o melhoramento natural das sementes nos ciclos de plantio. A prática ancestral é um contraponto a lógica da semente como mercadoria padronizada, explica Bianca.

"As sementes crioulas são verdadeiros patrimônios de pequenas comunidades porque são adaptadas àquele clima, condição de solo, regime de chuvas. Isso também é uma forma de garantir a diversidade das sementes em diferentes ambientes e biomas", disse.

Agroecologia

Em Maricá, a produção de sementes é um aliado da produção de alimentos e da recuperação do solo. A adaptação natural das sementes no município é realizada em unidades de produção, que são áreas públicas de produção de alimentos. Desde 2020, foram produzidas 35 toneladas de alimentos sem veneno distribuídas para instituição de interesse social.

"As sementes são uma ferramenta de soberania e segurança alimentar que o MST traz na produção de alimentos saudáveis. A semente é a garantia que os povos tem de produzir seu próprio alimento, que vem das sementes, e a soberania quer dizer que as sementes não tenham um dono e que não sejam tratadas como mercadoria", explica Bianca.


A artista plástica Maritania Andretta a engenheira agrônoma Bianca Santana no programa de TV Papo na Laje sobre sementes crioulas / Camila Rodrigues

Atualmente, a Cooperar tem um banco com 30 variedades de sementes em Maricá, incluindo 4 tipos de milhos e pelo menos 12 tipos de feijões. Algumas delas foram multiplicadas e adaptadas por meio de trocas com agricultores, moradores e instituições de pesquisa. A distribuição dessas sementes ocorre em feiras semanais da agricultura familiar ou quando são solicitadas.

A cultura de maior expressão em Maricá é do feijão guandu. Em 2022, a planta foi tombada como patrimônio cultural do município. Além de alimento nutritivo, e aliado na recuperação de áreas degradadas, o guandu remete à memória afetiva dos mais velhos. A variedade não pode faltar na entrega para os asilos e nas feiras de distribuição da semente.

Assista

Papo na Laje

Papo na Laje é um programa de TV que valoriza o protagonismo da juventude nas favelas e periferias do Rio de Janeiro. A cada novo episódio a apresentadora Dani Câmara recebe dois convidados que compartilham experiências sobre temas de interesse da juventude e da classe trabalhadora.  

A quarta temporada do programa conta com a parceria da Incubadora de Inovação Social em Cultura de Maricá, um projeto desenvolvido pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICTIM), junto à Secretaria Municipal de Cultura e ao Instituto Brasil Social (IBS).

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Vivian Virissimo