Os Estados Unidos começaram a impor um bloqueio contra as empresas petroleiras venezuelanas em 2017. Mesmo com as sanções que impedem o país caribenho de vender seu principal produto no mercado internacional, a Venezuela se tornou em 2024 o 3º país que mais vende petróleo para os Estados Unidos.
Os números são da Agência de Informação Energética (EIA). Ao todo, a Venezuela chegou em outubro de 2024 a uma média de 295 mil barris de petróleo vendidos por dia aos EUA. O país só fica atrás do Canadá (4 milhões por dia) e México (383 mil). Os dados representam uma alta de 77% na venda de petróleo venezuelano para os estadunidenses em relação à março de 2024.
Com os resultados, a Venezuela passou do 6º maior vendedor para se tornar o 3º exportador de petróleo para os EUA, superando Brasil, Arábia Saudita e Colômbia.
Ameaça de Trump
Em sua primeira entrevista coletiva como presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump reforçou o que foi a política de seu primeiro mandato e disse que o país não compraria mais petróleo de Venezuela. Segundo ele, os EUA têm autossuficiência para a produção do que consome.
"Não precisamos comprar energia da Venezuela quando temos 50 vezes mais que eles, o que estamos fazendo é uma loucura. Não descansaremos até que os Estados Unidos estejam mais ricos, mais seguros e mais fortes do que nunca", afirmou.
O país, no entanto, ainda está longe de atingir a autossuficiência da produção petroleira. Em outubro de 2024, os Estados Unidos produziram 13,46 milhões de barris por dia segundo a EIA. Mas o país consome cerca de 20 milhões de barris por dia.
O aumento foi registrado no mesmo período em que os Estados Unidos anunciaram a substituição da licença 44, que permitia que a Venezuela negociasse petróleo no mercado internacional. Com isso, empresas que querem negociar com a petroleira estatal PDVSA precisam ter o aval da Agência de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Departamento do Tesouro dos EUA.
A licença 44 foi substituída pela licença 44A, que determina que as empresas que mantêm negócios com a PDVSA deveriam encerrar as atividades até 31 de maio e pedir autorização da OFAC para retomar os negócios. Na prática, é uma forma de tornar o processo de negociação mais burocrático com a estatal venezuelana.
Os últimos seis meses também foram marcados pela prorrogação por 15 anos da atuação da empresa mista Petroindependência. A companhia pertence majoritariamente à estatal petroleira PDVSA (60%), mas tem participação de 34% da Chevron.
A Chevron tem participação também nas empresas mistas do setor energético da Venezuela: Petropiar, Petroboscán e Petroindependiente. De acordo com a legislação de hidrocarbonetos da Venezuela, essas empresas devem pagar 33% de royalties para a PDVSA e 50% de imposto de renda para o Estado.
Evolução e dependência
A indústria petroleira estadunidense está diretamente ligada ao petróleo venezuelano. Uma das primeiras companhias a conseguir uma concessão para explorar o produto na Venezuela foi a Standard Oil, empresa que deu origem à Chevron. As explorações, no entanto, começaram em 1922 no estado de Zulia.
De lá para cá, todas as plantas estadunidenses que estavam vinculadas à Standard Oil passaram a trabalhar com o petróleo venezuelano, que é mais denso, o que condicionou toda a estrutura da Chevron, principalmente em território venezuelano.
Para o professor de Economia do Petróleo da Universidade Bolivariana da Venezuela Vladimir Adrianza Salas, os Estados Unidos dependem historicamente da venda de petróleo venezuelano e essa tendência deve se manter nos próximos anos.
“Indiscutivelmente os EUA sempre dependeram do petróleo venezuelano em 100 anos e tudo aqui se exportava para os Estados Unidos. As refinarias estadunidenses estão totalmente associadas ao petróleo venezuelano, um petróleo denso. Desde antes da 2ª Guerra Mundial se sabia que os EUA não teriam capacidade de produzir o que consomem e quem tem mais petróleo aqui no hemisfério sul é a Venezuela”, disse ao Brasil de Fato.
Depois do início da exploração de petróleo, a Venezuela abriu uma série de concessões para empresas inglesas e holandesas e ampliou progressivamente a produção. Em 1944, o país alcançou o patamar de 800 mil barris produzidos por dia e se tornou um dos maiores produtores do mundo em meio a um aumento da demanda global pós-2ª guerra.
Nos anos 1950, a Venezuela chegou a produzir 2,5 milhões de barris por dia e nos anos 1980 ampliou para 3 milhões por dia. O país conseguiu manter uma produção neste ritmo até às sanções estadunidenses. Depois das medidas coercitivas impostas pela Casa Branca, a produção venezuela caiu para cerca de 330 mil barris por dia em 2019.
Segundo o presidente Nicolás Maduro, o país conseguiu recuperar a produção em 2024 e chega no primeiro mês de 2025 com uma média de 1 milhão e 57 mil barris. O governo tem a meta de atingir ao final do ano a produção diária de 1,5 milhão de barris.
A posição de Donald Trump com a Venezuela ainda é uma incógnita, mas para Adrianza Salas está claro que a dependência estadunidense do petróleo venezuelano pesará na balança antes de qualquer tomada de decisão por parte da Casa Branca.
“Os EUA podem ter uma visão pragmática: de que fracassaram na tentativa de derrubar o governo chavista. Trump é um negociador. Quem manda nos EUA não é o presidente propriamente, é o Estado profundo que determina as políticas", disse ao Brasil de Fato.
"Trump vai ver o que consegue negociar e como consegue a repatriação das pessoas que foram para lá. Os EUA não são o país que eram antes. Retrocedeu com o tempo. E a Venezuela é um parceiro estratégico de Rússia e China, que vai contar com o apoio desses países em caso de ataques estadunidenses” concluiu.
Edição: Leandro Melito