O Movimento Brasil Popular inaugurou neste sábado (21) a Cozinha Popular Dona Nega, na comunidade do Paredão, no bairro Rio Pequeno, na zona oeste da capital paulista.
O evento contou com um almoço coletivo, com distribuição de marmitas para a comunidade, atividade que foi animada por uma roda de samba que prosseguiu mesmo em meio à chuva forte que caiu na região.
Moradora do bairro e responsável pelo espaço, Jeane Pereira conta que a ideia de uma cozinha solidária começou em 2018, quando iniciou o trabalho comunitário de entrega de cestas básicas na comunidade do Paredão.
"Veio essa vontade, esse sonho de montar uma cozinha solidária. Moro aqui há 44 anos e nunca teve um espaço propriamente dito voltado para essa questão da alimentação. A gente tem quadra de esporte, associação de moradores, mas nada voltado para questão alimentar. Acho que isso é muito importante, a soberania na alimentação do bairro", disse ao Brasil de Fato.
A chegada da pandemia de coronavírus escancarou a situação de insegurança alimentar na comunidade, com muitas pessoas desempregadas e com dificuldade de acesso a itens básicos de alimentação. "A gente pensou em questões de sopões, marmitaços, mas como a gente não tinha um espaço, a gente acabou deixando um pouco de lado. Mas de 2022 pra cá o negócio ficou mais intenso, conseguimos parceiros, voluntários e começou a fazer a cozinha mesmo, com alimentação saudável."
O Movimento Brasil Popular atua no território há dois anos por meio de cursos de formação de agentes populares de alimentação. "Hoje a gente consegue concretizar essa luta, esse trabalho, com a inauguração da nossa cozinha, que vai ser um espaço de resistência no território, onde a gente consegue garantir a alimentação saudável e também fazer a comunhão de alimentação, educação, cultura, para a comunidade do Paredão", explica Raquel Nascimento, do núcleo de alimentação da coordenação estadual do Movimento Brasil Popular de São Paulo.
Ela destaca que a Cozinha Solidária Dona Nega é um marco por ser o primeiro espaço de alimentação do próprio movimento, totalmente independente do poder público. "A gente tem um espaço alugado, mas que é nosso. A gente não tem que ficar dependendo de do governo, de outra instituição, então isso já é um avanço bem grande", aponta Monique Brasil, que também integra o núcleo de alimentação do movimento. Ela ponta que a intenção é replicar a experiência do Rio Pequeno em outros espaços onde o movimento mantém cozinhas solidárias.
"A gente tem uma militante do movimento que começou com o trabalho dos agentes populares de alimentação, a Jeane, que é a nossa ponta firme aqui. A gente não quer só distribuir comida para as pessoas, a gente quer que realmente a cozinha seja um ponto focal, organizativo, de enraizamento na comunidade."
Deputado estadual pelo PT, Simão Pedro esteve presente na inauguração do espaço e destacou a importância da atuação comunitária na defesa da segurança alimentar da população.
"Esse aspecto da solidariedade é fundamental, porque a gente sabe que a insegurança alimentar atinge a população nas periferias, quando não a fome mesmo. Às vezes, a pessoa tem a casa, mas o salário não chega até o fim do mês e o preço dos alimentos está caro, as pessoas acabam se alimentando muito mal, precariamente. Então a cozinha comunitária, esse movimento de vir para as periferias, propicia uma alimentação adequada."
O deputado aponta que as medidas adotadas pelo governo paulista de Tarcísio Freitas (Republicanos) tendem a agravar ainda mais o cenário de insegurança alimentar nas regiões periféricas de São Paulo. Houve cortes no Orçamento para 2025 nas áreas de assistência social, cidadania, direitos humanos, educação e agricultura.
"Ele privilegiou aquelas secretarias que fazem obras com as prefeituras, com muita isenção fiscal. E tirou agora dos bares, restaurantes, padarias, o benefício fiscal que vai aumentar em cerca de 9% o preço do da comida. Então é um governo que não tem qualquer política para para a segurança alimentar", explicou.
Edição: Thalita Pires