PAPO DE SÁBADO

'A cozinha solidária é uma ferramenta de organização social', defende diretora da UNE

Para Paulinha Silva, as cozinhas, essenciais nas cheias, mais do que encher o estômago, alimentam a alma das pessoas

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Militante do Levante Popular da Juventude, Paulinha Silva é uma das lideranças engajadas na Brigada Nacional de Solidariedade - Foto: Alexandre Garcia

Militante do Levante Popular da Juventude, diretora de políticas sociais da União Nacional dos Estudantes, a UNE, a estudante de Pedagogia da PUC-SP, Paulinha Silva é uma das lideranças engajadas na Brigada Nacional de Solidariedade. Composta por diversos movimentos sociais, a Brigada juntou voluntários de oito estados para um mutirão de limpeza das vilas e bairros castigados pelas cheias. E também reforçou o trabalho das cozinhas solidárias na periferia de Porto Alegre e Canoas.

Aqui, ela conta sobre esse mutirão, o papel das cozinhas para alimentar e acolher. Também trata das adversidades enfrentadas por uma juventude distante da escola, sitiada pelo desemprego e disputada pelas ideias de direita na mídia, na religião e na internet. Confira.

Brasil de Fato RS – Paulinha, começamos pelo óbvio: o que é a Brigada Nacional de Solidariedade?

Paulinha Silva – É uma iniciativa dos movimentos sociais. São eles o Levante Popular da Juventude, o Movimento das Trabalhadoras e dos Trabalhadores por Direitos, o Movimento Brasil Popular, o MST e o Projeto Mãos Solidárias. Diante das enchentes no Rio Grande do Sul, vendo como a população foi afetada, entendemos que era necessário um reforço nas iniciativas que o próprio Estado estava construindo. Os movimentos aqui do Rio Grande do Sul já estavam fazendo muita coisa, caso dos mutirões e das cozinhas solidárias. Era importante fortalecer as iniciativas.

O Poder Público ainda está muito devagar em atender a tudo aquilo que a população precisa. Viemos, com a Brigada, fazer as ações emergenciais. Não era uma brigada só pragmática do trabalho, mas para que pudesse contribuir também no processo de organização social. Responder à emergência, mas também contribuir com a formação política. O Rio Grande do Sul é uma escola de organização social, logo é também uma relação de troca. Aprendemos com a luta do estado e queríamos também dar esse reforço.

Veio uma galera do Mato Grosso, de Goiás, de Brasília, do Paraná, do Amapá, de Pernambuco, do Ceará, de Minas Gerais

Começou com uma formação no Instituto Educacional Josué de Castro...

Sim, a gente teve um momento de análise de conjuntura. Também um debate sobre a crise climática para se entender o que aconteceu aqui. É decorrência de uma crise. Não veio naturalmente, não é uma resposta da natureza do nada. É fruto de várias políticas de negacionismo climático. Existem medidas que podem ser adotadas para conter os danos, mas elas não foram feitas.

Os ambientalistas estão sempre alertando as pessoas, mas os políticos ignoram porque as preocupações deles são outras. São o lucro. Não é necessariamente a vida do povo. O que aconteceu tem responsáveis. Era importante que a Brigada entendesse a fundo esses elementos para que pudesse fazer o trabalho de uma forma engajada.

E quem veio nessa Brigada?

Veio uma galera desses movimentos que citei. Veio gente do Mato Grosso, de Goiás, de Brasília, do Paraná, do Amapá, de Pernambuco, do Ceará, de Minas Gerais. Trinta pessoas de vários estados.

És de São Paulo?

Eu sou mineira, uai! Não posso deixar vocês achando que sou paulista. Mas, enfim, gosto de São Paulo, a terra que me acolheu. Fui para São Paulo no ano passado para a tarefa da União Nacional dos Estudantes. Mas sou mineira. Conheci o Levante lá, me organizei, a minha escola de formação é em Minas Gerais. Com muito orgulho.

Não sei se vocês chegaram a perceber isso, mas nas rádios, na internet, na propaganda, na televisão, enfim, a gente vê muito o seguinte: "O Rio Grande do Sul tem que se reerguer, chegou a hora da retomada, nós somos grandes, nós vamos ser maiores ainda, nós vamos isso, nós vamos aquele outro". Mas a pergunta básica está sendo deixada de lado. A pergunta é: "Nós vamos continuar fazendo exatamente o que estávamos fazendo antes? Ou vamos mudar?" Quando falas que, junto com esse mutirão, há uma discussão a respeito do que aconteceu, como aconteceu, e por que aconteceu, isso é sumamente importante para se colocar no debate público. É o que está faltando.

E é um debate nacional. Aconteceu aqui um grande volume de chuvas, mas o que aprendi é que são chuvas que vêm da região amazônica, que correm o território nacional, mas que precisavam desaguar também no Centro-Oeste, no Sudeste, mas, por ter uma grande massa de ar quente, acabaram se concentrando aqui. Choveu aqui um volume exponencial e o estado não estava preparado, embora isso tenha sido alertado. A crise climática é uma questão global. Há necessidade do conjunto da sociedade se engajar a respeito.

E já começou na Amazônia…

Então, essas questões, como o desmatamento, as queimadas, a mineração de forma desenfreada, isso vai afetando o nosso ambiente. Como consequência, afeta o clima e vamos vendo as enchentes, a população mais pobre perdendo suas casas, tendo sua vida toda desconstruída por ter essa exploração desenfreada dos recursos naturais e essa ausência das políticas que podem conter os danos.

Paulinha, tu acha que outros jovens com a tua idade têm essa consciência?

Não. Tem uma parte relevante da juventude brasileira que se organiza, que faz militância, a própria União Nacional dos Estudantes é um grande exponencial. Ela reúne todas as organizações de juventude na luta pela educação, mas ainda é um contingente bem pequeno. Hoje, a juventude é constantemente disputada por ideias que não são ideias que colaboram para o nosso bem viver. São as ideias que a gente chama de direita e, mais atualmente, de neofascismo, que tem uma onda crescente em todo o mundo. Não que, necessariamente, a juventude vá ser de esquerda ou de direita. Não é isso.

A juventude é uma categoria social importante que tem um papel decisivo nas grandes transformações sociais, mas a gente vive um momento de muita precarização da vida. Não temos acesso à questões básicas e, com essas ideias de direita em alta na sociedade, tanto na mídia, tanto nas religiões, na internet, acaba que esses setores têm mais condição de acessar os jovens e, assim, influenciarem nas suas opiniões.

Tem uma parte importante da juventude que é engajada na direita. Por isso, falamos dentro do Levante que a juventude no Brasil está fraturada. A gente não tem acesso à educação de qualidade, o emprego que tem disponível é extremamente precarizado, falamos da uberização, que é um emprego sem direitos, com salário baixo, sem condições de organizar e isso limita as possibilidades da pessoa estar em luta, porque ela precisa colocar comida na mesa, pagar o seu aluguel. Nosso desafio, enquanto movimento social, é buscar ferramentas que ajudem um pouco na organização para termos mais jovens do nosso lado lutando por um Brasil melhor.

Existe o termo “nem-nem”, que o jovem que não estuda por uma razão ou outra e nem tem trabalho e, assim, fica mais mais vulnerável a essa cooptação por ideias por mais estapafúrdias que sejam.

Às vezes, a mídia só fala assim "Ah, o jovem nem-nem". Parece que o jovem está desinteressado, que não quer trabalhar, que não quer estudar. Mas temos uma defasagem enorme de oferta da educação do próprio ensino superior. Quando o jovem chega no ensino médio ele já começa a evadir por conta das necessidades materiais dentro de casa. Muito cedo tem que trabalhar para contribuir com a renda da família ou, às vezes, já começa a formar a própria família. Tem essa evasão grande do ensino médio. E, no ensino superior, não tem vaga para todo mundo. Pautamos muito a questão da reforma universitária, de expandir a rede federal, das universidades públicas para ter mais vaga para a galera poder estudar.

E por onde começou o trabalho da Brigada essa semana?

Começou na formação no Instituto Josué de Castro e, no dia seguinte, fomos para a Mathias Velho, em Canoas. O lugar ficou submerso e ainda tem muitas casas precisando de limpeza. Muita gente perdeu tudo. A galera vai tirando as suas coisas e que agora viraram entulho e botando na rua para poder limpar a casa. É um trabalho árduo. As pessoas precisam de muita ajuda, não dá para uma família fazer sozinha. Pessoas idosas não dão conta. Então, é preciso de um grupo para limpar tudo. As pessoas vão tirando os entulhos, botando na rua para poderem arrumar a casa e voltar a ter onde morar, mas está complicado. A rua está cheia de montes e montes e montes de sujeira.

A Brigada surgiu agora ou essa é mais uma ação que a Brigada empreende?

Surgiu agora, para ajudar na resposta para essa situação do Rio Grande do Sul.

Achas que a Brigada pode ser um elemento permanente na medida em que as mudanças climáticas são permanentes? Poderia ser um instrumento a ser acionado em determinadas situações?

É bem possível, mesmo que não seja necessariamente essa formação de pessoas. É importante manter essa iniciativa dos movimentos sociais. Nosso objetivo é contribuir nesse engajamento pelas lutas em prol do meio ambiente e do clima.

E as brigadas também estão atuando junto às cozinhas solidárias. O Levante Popular da Juventude foi um dos primeiros movimentos a montar uma cozinha solidária já no dia 1º de maio. Na vila Cruzeiro, no Barracão. E hoje vocês estão atuando junto a oito cozinhas.

O Levante aqui do estado já estava organizando as cozinhas como uma ação para o Dia do Trabalhador. E aí, como começou a enchente, fomos recebendo demandas e mantendo as cozinhas para atender a população atingida. São essas oito cozinhas que a gente constrói. Mas tem outras cozinhas que já funcionavam com as lideranças comunitárias com muita dificuldade, onde a gente tem contribuído na estrutura e no trabalho.

É um processo muito nobre o das cozinhas solidárias. Temos pessoas que não dormem com fome porque essas cozinhas existem. Fora a importância, a relevância que tem para a gente poder aprender com essas lideranças comunitárias, com essas mulheres da periferia que estão ali, mesmo sendo pobres, sendo extremamente generosas e contribuindo para as pessoas terem nutrição.

Mais do que alimentar o estômago, elas também alimentam a alma das pessoas que se sentem acolhidas porque essas marmitas chegam até elas. E a Brigada tem contribuído. Temos ido nessas cozinhas para ajudar, estar lá com elas trocando ideias, aprendendo sobre a história da cozinha, da comunidade, mas descascando cebola, lavando as panelas, montando as marmitas...

Tia Lúcia começou a tirar do bolso dela mesmo, da pouca aposentadoria que tem, para entregar marmitex

É interessante porque são mulheres que puxam essas cozinhas, seja a tia Lúcia ali na Mario Quintana, a tia Bete lá na Bom Jesus, e que já vêm com esse trabalho há muito tempo. São mulheres que já participavam do programa Fome Zero nos primeiros governos populares. Na pandemia, já estavam com essas cozinhas...

Sim. Tia Lúcia é uma dessas pessoas que ajudou, inclusive, a fundar o Fome Zero. Sempre esteve envolvida nas ações sociais, nas causas comunitárias. E iniciou essa cozinha justamente na pandemia. Na pandemia, o governo federal negacionista que a gente tinha foi um fator que aprofundou a crise social. Tivemos um aumento considerável de pessoas passando fome.

Então, ela, a Tia Lúcia, começou a tirar do bolso dela mesmo, da pouca aposentadoria que tem, para montar a sua cozinha, entregar marmitex, mandar para as pessoas. E tem várias dessas tias cozinhando aqui na periferia de Porto Alegre. E há um tempo elas estavam meio que abandonadas, com pouco apoio do poder público, até mesmo das organizações políticas. Elas precisam muito dessas contribuições, tanto ao nível da estrutura, das coisas que precisam para a cozinha acontecer, para a comida chegar para as pessoas, mas também ali no trabalho, sabe?

A cozinha parece algo novo de onde pode surgir algo novo também. Com seu exemplo, elas não alimentam apenas o estômago. Podem também alimentar o espírito. É um lugar onde as pessoas passam a conhecerem melhor, conhecerem melhor a comunidade, ao próximo…

A cozinha é uma ferramenta de organização social. Nós do Levante estamos apostando muito nessa ferramenta para nos ajudar, inclusive, a envolver a própria juventude no território para ter essa relação de colaboração e de continuidade do projeto. A cozinha, para acontecer, envolve várias coisas. Desde um processo de articulação com parceiros que podem ajudar materialmente até trazer a própria comunidade para fazer acontecer. Além disso, quem vai ali pedir comida e ajuda, pode também começar a ser construtora do projeto. Não só um beneficiário, mas também ajudando no desenvolvimento das tarefas.

Lá na Vila Barracão, bem perto da cozinha, a gente já está com a iniciativa de um cursinho popular

As cozinhas precisam ser valorizadas, tanto por atenderem a essa demanda emergencial, mas também por contribuírem nesse processo da organização social. Lá na Vila Barracão mesmo, bem perto da cozinha, a gente já está com a iniciativa de um cursinho popular. E os jovens que vão estudar para o ENEM já jantam na cozinha. É uma iniciativa que pode ajudar a construir outras também e ter um maior processo de integração da comunidade que vai se colocando em luta coletiva pelos seus direitos.

Hoje tem um ganho que virou uma política pública e com a questão do PAA, o Programa de Aquisição de Alimentos, via Conab, está dando um suporte maior para essas cozinhas.

Tem chegado alimentos produzidos pela agricultura familiar. Hoje, não falta alimento nas cozinhas. Mas elas ainda precisam ser mais desenvolvidas, possuir mais estrutura… Na cozinha da Tia Lúcia, a gente fez um corre para ela ter marmitex, por exemplo. As vasilhas para entregar ao pessoal. Tem outros projetos também para acontecer. Acho, por exemplo, muito importante que essas tias sejam remuneradas. Elas trabalham de graça. Fazem isso de coração. Mas é trabalho, elas também têm demandas.

Uma estrutura realmente que dê um sustento a elas também.

Exatamente. Elas também têm as suas famílias. Também precisam de descanso. É cada vez mais necessário valorizá-las.

A cozinha é um instrumento interessante. No mundo, estamos vivendo uma situação de fragmentação, há um processo de isolamento das pessoas, de exacerbação do individualismo. As cozinhas funcionam na contramão desse processo que parece deletério e perverso. As cozinhas, em vez de fragmentar, elas juntam, elas colam, aproximam as pessoas. São uma resposta do coletivo a essa fragmentação que a gente percebe na sociedade.

As cozinhas colocam bem em movimento um lema que o Levante gosta muito, que é o ´Nós por nós`, que é a gente mesmo fazendo por nós, pelo povo. É incrível você acompanhar o processo. Elas são mulheres periféricas, pessoas que têm pouco, mas tem tanta generosidade no fazer, não medem esforços e buscam também envolver a comunidade. Para as pessoas entenderem que, para aquela comida estar na mesa, precisa de um trabalho coletivo. As tias, que são as cozinheiras, as articuladoras, as condutoras do processo, fazem de tudo para dar certo. Mas, sozinhas, não dão conta. É muito serviço. Precisa de mais pessoas envolvidas.

A gente ouvia e meu pai interpretava comigo as letras dos Racionais MCs

A resolução dos nossos problemas individuais passa também pela coletividade, pela organização, por se colocar em movimento, da gente se entender e se enxergar enquanto povo, enquanto classe, e que busca o nosso bem comum. 

Como foi tua entrada no Levante Popular da Juventude?

Sou da periferia de Belo Horizonte, na zona Norte, do bairro Heliópolis. Meu pai e minha mãe são grandes referências para mim, mas principalmente meu pai, sempre me ensinou a pensar diferente. Meu pai sempre ouviu muito rap. A gente ouvia e ele interpretava comigo as letras dos Racionais MCs. Ali fui entendendo um pouco da desigualdade social e do racismo. Mas não tinha organização, não conhecia a esquerda.

A única coisa que eu via, assim, de esquerda era o MST no livro de história. Não sabia que existia gente que se organizava coletivamente para combater essas coisas. Então, quando entrei na universidade, conheci o Levante atuando no movimento estudantil. O Levante estava organizando um acampamento nacional e me chamaram para ir e eu fui.

Quando foi isso?

Em 2014. Aí eu fui para o acampamento e voltei organizada. Voltei querendo... Lá no acampamento tinha uma faixa enorme, escrito "Socialismo". Eu ficava olhando para aquela faixa, vendo o acampamento acontecer, e falava: "Eu quero isso para a minha vida todos os dias". E assim eu entrei para o Levante, porque eu quero o socialismo.

E a tua militância na UNE veio daí?

Sim, desde então já comecei a atuar no movimento estudantil.

Conheces a Rádio Favela de BH?

Conhecia já o Brasil de Fato, que tem uma parceria com a Rádio Favela. Quando entrei no Levante, eu sempre distribuía o Brasil de Fato. Lá em Minas, imprime, né? E aí eu tinha essa tarefa também de ir nos lugares e distribuir.

Aqui o Levante também distribuía quando a gente tinha um impresso.

É assim, sempre foi essa parceria.

O que mais te impressionou nas áreas que visitaste?

A ausência do Estado. Muitas pessoas estão com necessidade de tudo. Ali na cozinha da Tia Bete mesmo, na vila Bom Jesus, tem várias pessoas com demandas de saúde mental, de violência contra a mulher, e não tem quem cuide delas. Estão passando fome, mas aí tem a cozinha. Mas tem uma demanda da vida como um todo e não tem nada. É de sentir muito o Estado não ligar para a favela.

A periferia deveria ser uma preocupação central e não é. O que está fazendo, por exemplo, a prefeitura de Canoas? Só tem três caminhões lá tirando entulho. Ah, a prefeitura não tem estrutura? Ação no estado, ação no governo federal. Não é possível que, com tantas instâncias de poder no Brasil, executivo, legislativo, até mesmo judiciário, ninguém consiga tomar uma medida efetiva para dar resposta a essas demandas emergenciais da população. Foi uma das coisas que mais me chocou.

Não ter os movimentos sociais significa que o povo não participa do processo

O que o poder público teria de fazer como prioridade número um?

Ações de limpeza, prioritariamente. E a reconstrução das casas. Sem casa, sua vida fica insalubre, desorganizada.

Foi inaugurado em Canoas o primeiro centro humanitário, como está sendo chamado, para onde vão 630 pessoas que estão em abrigos. Uma estrutura boa, mas que foi montada praticamente com empresas. Parece que, para esses governos, os movimentos sociais, com toda a sua expertise e capacidade de organização, não existe. Não é levado em conta pelos governos. Vemos que o próprio Conselhão montado pelo governo estadual praticamente não tem movimentos sociais. Não é levada em conta a organização social do povo na reconstrução. No conselho há uma sub-representação, por exemplo, dos ambientalistas...

Não ter os movimentos sociais significa que o povo não está participando do processo. O governo perde a possibilidade de, de fato, ter uma eficiência e rapidez necessária. O povo é que sabe o que tem passado e quais são suas principais necessidades. É um erro não ter essa representação, buscar só as empresas. As universidades também têm desenvolvido pesquisa e tecnologia, inclusive para dar respostas à crise climática e para as demandas emergenciais após as enchentes. O povo e a ciência deveriam ser os principais norteadores da tomada de decisão nesse processo.

(*) Esta é uma versão compactada de entrevista no podcast De Fato. Também participou Dão Real Pereira dos Santos.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Ayrton Centeno