No próximo dia 19 de dezembro, no Teatro da Reitoria da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, tomará posse a nova equipe de pró reitores e reitoras indicados pelo reitor eleito neste ano, Marcos Sunye. Além das Pró Reitorias já existentes, a nova gestão terá duas novas pró-reitorias. Uma delas é de Ação Afirmativa e Equidade, que terá à frente a Professora Megg Rayara, do Setor de Educação.
Travesti, negra, doutora em Educação, Megg Rayara Gomes de Oliveira, é professora do Departamento de Planejamento e Administração Escolar (DEPLAE), da UFPR desde 2017. Em entrevista ao Brasil de Fato Paraná, Megg conta que sua indicação veio da articulação de um grupo de professoras do Setor de Educação da UFPR que defendem e atuam por uma universidade mais plural e diversa.
Confira a entrevista
BDF: Gostaríamos que falasse sobre o convite para assumir a Pró-Reitoria. Qual importância para você em aceitar este desafio?
Além de pesquisar relações raciais, infâncias de crianças negras, deficiência e ouvintismo, elas defendem políticas para o ingresso e permanência de pessoas negras, pessoas com deficiência e pessoas surdas na universidade, tanto como estudantes, quanto como servidoras. Diante dessa minha trajetória, meu nome foi indicado por um grupo de professoras do Setor de Educação que fazem um trabalho importante para que a UFPR seja plural, diversa. A mediação da professora Laura Ceretta e Lucimar Dias foi fundamental para a indicação do meu nome.
Antes de fazer a indicação, elas me procuraram e conversamos a respeito das responsabilidades que iria assumir, mas também destacaram o trabalho que eu faço dentro e fora da Universidade e da importância de uma travesti negra ocupar o cargo de Pró-reitora na universidade mais antiga do país.
Foram justamente questões relativas à representatividade que me fizeram aceitar o convite. Há anos o movimento social de negras e negros e o movimento social de travestis e transexuais vem contribuindo de forma significativa nos processos de elaboração e implementação de políticas afirmativas, porém ocupamos poucos cargos de decisão.
Acredito que estar à frente de uma Pró-Reitoria em uma universidade importante como a UFPR possa contribuir para que se coloque em debate essa situação e sejam propostas ações para mudar esse quadro.
BDF: A pró- reitoria é nova e foi proposta pela gestão eleita para 2025-2028. Fale um pouco sobre o que já vem sendo construído nos últimos anos nesta área, e o que deverá ter continuidade?
A pró-reitoria é nova, porém suas bases são a SIPAD – Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade. Ou seja, a SIPAD foi elevada a categoria de pró-reitoria. As ações da SIPAD terão continuidade e outras serão elaboradas, objetivando atingir todos os Campi da UFPR, especialmente aqueles localizados no interior do Paraná – Palotina, Toledo e Jandaia do Sul – e no Litoral – Matinhos.
Embora a SIPAD tenha uma importância indiscutível, suas ações não chegavam a toda UFPR, inclusive aqui em Curitiba. O quadro de servidoras/es também era reduzido, o que comprometia a realização de algumas atividades.
Várias ações foram desenvolvidas pela SIPAD, como cursos de capacitação de servidoras/es, técnicos e docentes, objetivando o combate ao racismo, a xenofobia, ao machismo, ao ouvintismo, ao capacitismo, a LGBTIfobia; o Pré-Pós, curso preparatório para pessoas interessadas em concorrer ao mestrado e/ou doutorado; o ACOLHE SIPAD: acolhimento de pessoas ligadas a UFPR vítimas de violência racista, machista, LGBTIfóbica, capacitista, etc., além de participar da organização das bancas de heteroidenticação para pessoas negras no concurso vestibular e do vestibular para pessoas indígenas, dentre outras.
As ações desenvolvidas pela SIPAD são fundamentais para a estruturação da Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Equidade – COAFE. A COAFE, porém, terá uma estrutura maior, com mais servidores, docentes e técnicos. Serão quatro coordenadorias, duas a mais que a SIPAD, todas com uma equipe formada por especialistas:
Coordenadoria de Acessibilidade – CAS: Wagner Bitencourt ; Coordenadoria de Políticas Interseccionais para Equidade de Gênero, Raça e Sexualidade – CPI: Célia Ratusniak; Coordenadoria de Políticas para Migrantes e para Povos Tradicionais e Originários – CP-Povos: Nathielly Daiany Oliveira Santos; Coordenadoria de Políticas de Cotas – CPC: Valéria dos Santos de Oliveira.
BDF: Quais os principais desafios e prioridades para esta Pró-reitoria nos próximos anos?
As quatro coordenadorias vão trabalhar de maneira transversal, assim como a PROAFE visa trabalhar em parceria com todas as outras pró-reitorias, objetivando transformar a cultura universitária e desenvolvendo políticas de promoção da equidade e da defesa dos Direitos Humanos.
Visando, portanto, o desenvolvimento de ações afirmativas, do reconhecimento positivo da diferença e da diversidade, do atendimento aos direitos de pessoas com deficiência, altas habilidades/superdotação, surdas, negras, indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais, povos do campo, mulheres, LGBTIs, migrantes, refugiadas, solicitantes de refúgio ou portadoras de acolhida humanitária, apátridas e outros grupos histórica e socialmente subalternizados, no âmbito acadêmico, pedagógico e institucional da comunidade da UFPR, além de incentivar e desenvolver programas e ações que fomentem o Ensino, a Pesquisa e a Extensão nas áreas de conhecimento relativas ao público atendido pela COAFE.
BDF: O Brasil de Fato Paraná fez uma reportagem com denúncias de racismo feitas por alunos da UFPR. Como combater isso dentro da universidade?
Vamos propor que todas as pessoas que sejam aprovadas em concurso, teste seletivo ou contratadas por empresas terceirizadas, passem por cursos de formação específicos, para assim prevenir atitudes racistas, machistas, capacitistas, ouvintistas e LGBTIfóbicas.
Também acredito que seja fundamental que esses cursos sejam ofertados às pessoas que já atuam na UFPR e que esses temas sejam discutidos em sala de aula, pois também identificamos discursos e atitudes racistas, machistas, capacitistas, ouvintistas e LGBTIfóbicas entre estudantes. Fazer campanhas educativas de maneira permanente também é necessário.
Acredito que as primeiras ações devam ter caráter didático/pedagógico, porém precisamos desenvolver protocolos para receber e encaminhar adequadamente as denúncias recebidas.
É importante também uma assessoria jurídica para que possamos distinguir os fatos que podem ser tratados didaticamente daqueles que exigem denúncias nas esferas judiciais.
Como dito anteriormente, é necessário transformar a cultura universitária e assim construir um espaço que de fato seja acolhedor, democrático e humanizado.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lucas Botelho