O 5º Festival de Arte e Cultura das Escolas do Campo do Ceará, ocorrido em novembro, destacou a força da cultura camponesa e celebra os 40 anos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O festival aconteceu no Assentamento Ipueira da Vaca, na Comunidade Logradouro I, em Canindé, com formações e apresentações artísticas que ressaltam a identidade do povo do campo.
O Brasil de Fato conversou com Sandra Vitor, produtora cultural e idealizadora do Festival de Arte e Cultura das Escolas do Campo e coordenadora do Centro de Cultura e Memória Rosa Luxemburgo, sobre a importância da arte e da cultura na luta pela reforma agrária. Confira.
De 27 a 29 de novembro aconteceu o 5º Festival de Arte e Cultura das Escolas do Campo do Ceará. Como o Festival destaca a força da cultura camponesa?
Os nossos acampamentos, assentamentos e escolas do campo pulsam dia e noite a arte e a cultura camponesa. Enfrentamos o algoz todos os dias cantando e versando ao som das enxadas e das foices. Nossos quintais são palcos e a cada amanhecer nasce um novo espetáculo, e é assim que a gente chega ao quinto Festival de Arte e Cultura.
A força da cultura camponesa sempre esteve nos temas dos nossos festivais, o primeiro festival trouxe um tema "Musicalizando e versando a luta", o segundo festival trouxe o tema "Terra, campo e encanto", o terceiro, "Cultura, arte e tradição: salve as manifestações populares", e neste quinto traz o tema "MST: há 40 anos com a arte e cultura na reforma agrária". A cultura camponesa está muito presente nas nossas músicas, nas nossas ações diárias, nas nossas poesias, místicas e na troca dos fazeres e saberes culturais diariamente.
Qual a importância da arte e cultura na luta por reforma agrária?
Costumamos dizer que um povo sem memória, sem cultura, é um povo fácil de ser dominado. E diante deste modelo que aí está, esse modelo do capital, de ver a cultura como mercadoria, dentro de um processo de "desculturação", arrancando as tradições e os fazeres populares de suas raízes, é que a cultura camponesa vem na contramão, vem dando liga a uma memória coletiva, vem perpetuando o flamular da bandeira em nossas fileiras de luta.
Qual o compromisso do MST com a valorização e fortalecimento da cultura popular camponesa?
Esse compromisso do MST com a valorização da cultura camponesa se materializa em todas as nossas ações, nas nossas pautas de reivindicações, no projeto político pedagógico de nossas escolas do campo, onde este projeto dialoga o tempo todo com as forças vivas do território, onde esse projeto contempla as matrizes de formação humana como o trabalho, a organização coletiva, a luta social, a história, a memória e a cultura.
Qual o impacto que a arte e a cultura têm na vida das pessoas que lutam por direito a Terra?
Não dá para se falar de arte e cultura na reforma agrária sem falar de impacto, porque produção cultural no campo em si já é uma revolução diante de tantas invisibilizações das nossas tradições, dos nossos saberes e territórios. É importante dizer que 80% dos participantes do quinto festival nunca participaram de um festival de arte e cultura. Isso nos mostra que um festival como esse atinge dimensões sociais, dimensões simbólicas e econômicas. Não podemos também esquecer que dos 34 projetos apoiados pelo edital de apoio a festivais da Lei Paulo Gustavo, da Secult Ceará, apenas este é realizado em áreas de reforma agrária.
Este ano, o Festival Arte e Cultura das Escolas do Campo do Ceará chegou à sua quinta edição. O que isso representa?
O quinto Festival de Arte e Cultura das Escolas do Campo do Ceará representa que, dentro de um processo de cerceamento de nossos cantos, de nossas poesias, de nossas tradições nós nos mantivemos firmes e latentes na luta por terra, arte e pão, não esquecendo daqueles que tombaram na luta e com seu sangue regaram as sementes de arte e cultura na reforma agrária.
O festival tem como um dos seus objetivos destacar a força da cultura camponesa. Fala um pouco sobre essa força.
Este festival tem o objetivo de compartilharmos, de celebrarmos o nosso fazer político, pedagógico e cultural, mas, principalmente, resguardarmos o patrimônio cultural cearense e camponês.
Como foram esses dias de realização do 5º Festival de Arte e Cultura das Escolas do Campo do Ceará?
Esses dias carregaram para nós a mística da construção das políticas culturais no Brasil. Neste quinto festival podemos ver, viver e experienciar, das crianças aos idosos, vendo-os brincar neste terreno da cultura popular. Agora, depois de sairmos dessa construção coletiva que marcou os 40 anos do nosso MST aprumamos nossas bandeiras, organizamos nossas fileiras e mistificamos nossos coletivos, nossos pontos de cultura e nos mistificamos para a sexta edição do festival.
E quem quiser conhecer mais sobre o festival ou sobre as produções artísticas e culturais do MST podem buscar mais informações onde?
Mais informações sobre o V Festival de Arte e Cultura é só clicar no Instagram centro.rosaluxemburgo, nas redes sociais de nossas escolas do campo e no site do MST Ceará.
Você pode conferir nossas entrevistas no Spotify ou no nosso perfil no Anchor.
Para receber nossas matérias diretamente no seu celular clique aqui.
Fonte: BdF Ceará
Edição: Camila Garcia