INTERNACIONALISMO

Solidariedade com a luta anti-imperialista na região africana do Sahel é tema de conferência histórica no Níger

Países da região passaram por levantes populares e militares nos últimos anos contra o domínio e influência francesa

Brasil de Fato | Niamei (Níger) | |
Solidariedade com os países do Sahel é tema de conferência que inicia nesta terça-feira em Niamei, capital do Níger. - Pedro Stropasolas

Mais de duas mil pessoas de três continentes se reúnem a partir desta terça-feira (19), em Niamei, capital do Níger, para a Conferência Internacional de Solidariedade com os povos do Sahel.

Com o tema "Pela unidade anti-imperialista, paz e amizade entre os povos", o evento é organizado pela Pan Africanism Today e pela Organização dos Povos da África Ocidental (OPAO) e reúne ativistas, líderes políticos, representantes sindicais e membros de movimentos sociais e comunidades pan-africanas em todo o mundo.

Marcado por dificuldades econômicas e crises de segurança, o Sahel é uma vasta região que abrange cinco países entre o deserto do Saara, no norte do continente africano, e a savana do Sudão. Nos últimos anos, esses países têm protagonizado uma onda de levantes populares e militares contra o neocolonialismo e a influência política e militar francesa na região. 

“A Conferência de Niamey vem demonstrar o apoio anti-imperialista ao povo do Sahel. Vem dizer que todos os povos da África Ocidental apoiam esta experiência e trabalharão para que o mesmo seja feito em toda a África Ocidental. É muito importante mostrarmos a nossa solidariedade, isso dará um impulso às lutas de todos os povos”, celebra Philippe Noudjenoume, primeiro secretário do Partido Comunista do Benin (PCB) e presidente da Organização dos Povos da África Ocidental (OPAO).

Golpes militares e populares

Os golpes militares no Mali, em 2020, em Burkina Faso, em 2022, e no Níger, em 2023, surgiram em meio a protestos em massa da população. No Níger, a principal exigência do povo era a expulsão das tropas francesas, que estavam há 10 anos no país sob a suposta missão de combater a presença de grupos jihadistas. 

Desde 26 de julho de 2023, com a saída do presidente em exercício, Mohamed Bazoum, o país passou a ser comandado pelo comandante da Guarda Presidencial, general Abdourahamane "Omar" Tchiani. Uma das primeiras medidas de Tchiani foi revogar a cooperação militar com a França. Todos os 1500 militares franceses foram retirados do país africano cinco meses após a mudança de governo, após intensa mobilização popular nas ruas.

O novo governo anunciou também o fim da apropriação francesa do urânio do Níger. O país é o sétimo maior produtor mundial do metal e aproximadamente dois terços da eletricidade francesa era alimentada pelo urânio proveniente do campo de Arlit, no norte do país.


População do Níger tomou as ruas do país em apoio ao novo governo / AFP

Segundo o nigerino Aboubakar Alassane, membro do conselho de coordenação da Organização dos Povos da África Ocidental (OPAO), o golpe no Níger expressa um desejo de mudança por parte da população.

“Somos um dos países mais pobres do planeta, com todos os desastres que se possa imaginar. Mas também somos um país que decidiu tomar o seu destino nas próprias mãos a partir de 26 de julho de 2023. Quando o exército tomou o poder, o povo uniu-se e encontrou no exército a sua salvação. É por isso que o exército se manteve no rumo do povo e decidiu que nunca mais estará num caminho que o separe do povo. Hoje, o povo e o exército estão juntos para encontrar o caminho para a salvação nacional”.

A Conferência Internacional de Solidariedade com os povos do Sahel ocorre até a quinta-feira (21) no Centro Internacional de Conferências Mahatma Gandhi, centro da capital do país, e conta com uma cobertura exclusiva do Brasil de Fato e de meios de comunicação parceiros ao redor do mundo, como Breakthrough News, People´s Dispatch, Pan African TV. 

 

Edição: Nathallia Fonseca