O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), fez elogios, durante cerimônia no Palácio dos Bandeirantes, ao secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, após dois dias que uma criança de 4 anos foi morta em uma operação da Polícia Militar em Santos.
"Você tem se saído muito bem e se tornado uma referência para todo o Brasil", declarou. Ele também disse que Derrite “tem feito um trabalho revolucionário”, do qual se orgulha. Freitas não fez referências ao menino morto.
Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, foi morto durante ação da Polícia Militar na Baixada Santista, no litoral paulista, na terça-feira (5). O menino estava brincando em uma rua do Morro São Bento, em Santos, quando foi atingido pelos disparos. Dois adolescentes, Gregory Ribeiro Vasconcelos, de 17 anos, e outro de 15 anos, também foram baleados: o mais velho morreu, e o outro foi socorrido.
Nessa quinta-feira (7), durante o velório de Ryan, policiais militares fizeram abordagens e gravações em vídeo, com presença ostensiva. O fato foi denunciado por entidades de direitos humanos de São Paulo, que se deslocaram até a Baixada Santista para acompanhar o caso, incluindo o ouvidor da Polícia de São Paulo, Cláudio Aparecido.
“Aqui no estado de São Paulo virou política governamental colocar a polícia em velório de gente que morre pelas mãos da polícia, intimidar as pessoas. Vocês viram o comportamento da polícia, batalhão de choque, Baep [Batalhão de Ações Especiais de Polícia], até tinha a viatura do próprio batalhão [dos policiais envolvidos na morte de Ryan] aqui no cemitério”, criticou o ouvidor.
Sobre a presença da PM, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) disse, em nota, que irá analisar as denúncias citadas. “As ações de patrulhamento preventivo e ostensivo na região foram intensificadas desde a última terça-feira (5), com unidades do policiamento de área e de outros batalhões”.
Escalada da violência
Sob o comando de Derrite, a Baixada Santista vive uma escalada da violência policial. Desde 2023, primeiro ano do governo Tarcísio de Freitas, os municípios do litoral têm sido foco de operações policiais repressivas com alto número de mortes.
De julho a setembro de 2023, a Operação Escudo resultou na morte de 28 pessoas. Em 2024, de janeiro a abril, a Operação Verão, do governo paulista, deixou 56 civis mortos, além de dois policiais.
As ações são classificadas por organizações de direitos humanos, como o Instituto Sou da Paz, como "operações institucionais de vingança", tendo em vista que ocorrem após a morte de policiais e acumulam denúncias de tortura e execuções sumárias.
Ryan era filho de Leonel Andrade dos Santos, uma das vítimas da Operação Escudo/Verão, morto em fevereiro deste ano pela polícia. Leonel tinha uma deficiência física, o que, para a família e organizações de direitos humanos, desmonta a versão de confronto com os policiais. No momento da ação, ele estava com muletas.
Sem freios ou controle
Em nota pública sobre a morte de Ryan e Gregory, lançada na quarta-feira (7), organizações de direitos humanos de São Paulo cobraram a atuação de uma polícia profissional "que seja capaz de investigar os crimes mais graves, agir dentro da lei e de romper com o ciclo criminal atacando o alto escalão do crime organizado".
Na avaliação das entidades, a atual gestão do governador Tarcísio de Freitas tem feito o oposto, "com a realização de ações indicativas de execuções sumárias por agentes policiais, sem freios ou controles efetivos para os repetidos abusos aos direitos fundamentais."
A nota diz ainda que a PM tem se sentido legitimada para "agir com truculência e verbalizando vingança". "Aparentemente a gestão e os agentes policiais que atuam em locais empobrecidos abandonaram o uso dos protocolos, a construção de uma relação de confiança com a comunidade e até mesmo a sua própria segurança, em nome de resultados operacionais que não afetam em nada a estrutura profunda do crime organizado."
Edição: Nathallia Fonseca