"Vamos continuar a lutar nas urnas, nos tribunais e nas ruas", discursou nesta quarta-feira (6) a candidata democrata Kamala Harris, derrotada pelo republicano Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos.
"Nunca vamos desistir da nossa luta pela democracia, da luta por direitos. Temos direitos fundamentais e liberdades que devem ser respeitadas e apoiadas", disse aos seus apoiadores.
"A luta pela liberdade vai dar muito trabalho, mas nós gostamos de trabalho duro", disse Harris no campus da Howard University, onde se graduou em 1986. Apelidada de "Harvard negra" ("Black Harvard"), a instituição ocupa uma posição central na biografia de vida da vice-presidente.
"Sei que muitas pessoas acham que estamos entrando em um período sombrio, mas, para o bem de todos nós, espero que não seja esse o caso", disse Harris no encerramento de seu discurso. "Mas a questão é a seguinte, Estados Unidos: se for, vamos encher o céu com a luz de um bilhão de estrelas brilhantes. A luz... do otimismo, da fé, da verdade e do serviço. Que esse trabalho nos guie, mesmo diante de contratempos, em direção à extraordinária promessa dos Estados Unidos da América."
O companheiro de chapa de Kamala Harris, Tim Walz, assistiu ao discurso ao lado do palco com sua filha, Hope. Alguns funcionários estavam chorando e enxugando os olhos quando a vice-presidente saiu do palco, de acordo com o The Washington Post.
Unir o país
A vice-presidente telefonou para Trump na tarde desta quarta-feira quarta (6) para parabenizá-lo pela vitória nas eleições. Segundo o porta-voz republicano, ela e Trump "concordaram com a importância de unir o país".
"O presidente Trump reconheceu à vice-presidente [Kamala] Harris sua determinação, profissionalismo e perseverança ao longo da campanha", acrescentou Steven Cheung sobre a candidata democrata.
Após conversar por telefone com Kamala, o presidente Joe Biden parabenizou, também por telefone, o presidente eleito Donald Trump por sua vitória. Ele disse a Trump que estava comprometido em garantir uma transição tranquila e em unir o país. Ele também convidou o republicano para se reunir com ele na Casa Branca, e as duas equipes definirão uma data. Biden planeja falar à nação na quinta-feira, discutindo os resultados da eleição e a transição, de acordo com a Casa Branca.
Declarado vencedor das eleições presidenciais nos Estados Unidos, Trump adicionou nesta quarta-feira (6) o estado de Michigan à sua vitória, segundo a Fox News e a NBC News.
Assim, o republicano conquista os três estados-pêndulo do norte do país que até terça-feira à noite eram considerados bastante favoráveis à candidata democrata. Até o começo da noite desta quarta-feira (6), o magnata havia ganhado 292 colégios eleitorais, contra 224 da democrata. Para ser eleito, o candidato deve conquistar, no mínimo, 270 destes colégios.
Voto latino
Os eleitores latinos, especialmente os homens, contribuíram para a vitória de Trump, colocando fim à lua de mel desta comunidade com os democratas, segundo uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (6).
Trump obteve o apoio de 45% dos eleitores latinos nacionalmente, em comparação com 53% de Kamala Harris, segundo uma pesquisa de boca de urna da NBC News. O número é consideravelmente maior do que os 32% obtidos em 2020, frente aos 65% de seu rival democrata, Joe Biden.
Uma vez que a contagem de votos seja concluída, pode até ser o melhor resultado do Partido Republicano entre os latinos nas eleições presidenciais desde que George W. Bush obteve: 44% em 2004. Nacionalmente, os latinos representaram 12% do eleitorado neste pleito.
Quando assumir a Presidência, caso cumpra o prometido em sua campanha eleitoral, Trump revogará o Status de Proteção Temporária (TPS), que beneficia cubanos, haitianos, nicaraguenses e venezuelanos, e fará a "maior deportação da história dos Estados Unidos" de imigrantes sem documentos.
O republicano, que ocupou a Casa Branca de 2016 a 2021, prometeu revogar o direito de jus soli (nacionalidade automática por nascimento), proibir a escolarização de filhos de indocumentados, separar crianças de seus pais na fronteira e desmantelar o sistema de asilo.
Essas medidas podem afetar mais de 11 milhões de pessoas, em grande parte mexicanas, que vivem, trabalham e pagam impostos no país - em média, há 15 anos - sem conseguirem regularizar sua situação.
Voto muçulmano
Donald Trump conseguiu um feito surpreendente no final da campanha, conquistando os eleitores muçulmanos com uma promessa de "acabar com a guerra" no Oriente Médio.
Em Dearborn, o maior enclave árabe-americano dos Estados Unidos, os resultados preliminares mostraram Trump em primeiro lugar - uma mudança dramática em relação a 2020, quando o presidente democrata Joe Biden, que está deixando o cargo, venceu com folga.
Desta vez, o voto de esquerda se dividiu entre a vice-presidente Kamala Harris e Jill Stein, do Partido Verde.
"As pessoas entenderam a mensagem de que Trump está tentando trazer a paz para o Oriente Médio e para o mundo inteiro", disse Bill Bazzi, prefeito libanês-americano da vizinha Dearborn Heights, falando à AFP de um bar de narguilé tarde da noite que se transformou em uma festa de manhã cedo.
O primeiro mandato de Trump, no entanto, mostra um quadro diferente.
O republicano impôs uma proibição de viagens a várias nações de maioria muçulmana, endossou os assentamentos israelenses na Cisjordânia - considerados ilegais de acordo com a lei internacional - e transferiu a embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém, um grande golpe para a criação do Estado palestino.
E, durante a campanha, ele alardeou seu status de amigo mais forte de Israel, dizendo que Biden deveria deixar o primeiro-ministro israelense Netanyahu "terminar o trabalho" contra o Hamas em Gaza.
Decepção com democratas
Como muitos outros árabes-americanos, a ativista iemenita-americana e corretora de imóveis Samra'a Luqman ficou indignada com o apoio militar e diplomático inabalável do governo Biden-Harris a Israel nos conflitos em Gaza e no Líbano, onde o número de mortes de civis continua a aumentar.
"Eles podem nos culpar pela perda de Harris. Eu quero que o façam", disse ela. "Foi a minha comunidade que disse: 'Se vocês cometerem genocídio, nós os responsabilizaremos por isso'", disse à AFP.
*Com AFP
Edição: Leandro Melito