PRÓXIMOS PASSOS

Caso Marielle: 'Ainda há o dever de que os mandantes sejam devidamente responsabilizados', cobra ONG

Diretora da Justiça Global diz que sociedade precisa estar alerta para que articuladores do crime não escapem de punição

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Familiares de Marielle e Anderson no segundo e último dia do júri popular dos executores do crime nesta quinta-feira (31) - Foto: TJ-RJ

A condenação dos executores, nesta quinta-feira (31), mais de seis anos depois do crime contra a vereadora Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes, trouxe alívio às famílias que clamavam por Justiça desde então. 

Réus confessos, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram julgados e condenados pelo 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro. Lessa terá que cumprir pena de 78 anos e 9 meses de prisão, enquanto Queiroz deve ficar preso por 59 anos e 8 meses. Os dois também terão que cumprir outras determinações judiciais, como o pagamento de multa e indenização aos familiares das vítimas. 

Após a sentença, Anielle Franco, irmã de Marielle e ministra da Igualdade Racial, ressaltou a importância de não desistir de lutar por Justiça desde que o crime ocorreu, em março de 2018. E declarou: "A luta continua ainda".

É também o que afirma Gláucia Marinho, diretora-executiva da ONG Justiça Global. Ela conversou com o jornal Central do Brasil e falou sobre as pendências ainda existentes no caso Marielle.

"Ontem [31 de outubro] foi um dia histórico. Nós esperávamos a condenação dos atiradores, a gente esperava que o júri fosse o momento de efetivação da justiça para esses mais de seis anos de luta por memória, por reparação para Marielle e Anderson. Mas a luta não terminou. Agora a gente segue com a mobilização para que os mandantes também sejam responsabilizados por esse brutal crime."

Os acusados de serem os mandantes do crime são os irmãos Chiquinho Brazão, deputado federal atualmente sem partido, e Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ). Outro acusado é o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio, que teria prejudicado as investigações e acobertado os Brazão. 

Os três estão presos desde 24 de março deste ano e são julgados num processo paralelo no Supremo Tribunal Federal (STF) devido ao foro privilegiado de Chiquinho.

Para Gláucia, choca como os mandantes agiram. "Nos assustam. Todas as pessoas que acompanharam o júri [de Lessa e Queiroz] viram como os atiradores e os mandantes agiram, a investigação da família, do cotidiano da Marielle, das pessoas que trabalhavam, de outras pessoas do partido. A gente espera também que o júri dos mandantes desarticule toda essa organização criminosa que foi estabelecida para ceifar a vida da vereadora e defensora de direitos humanos."

A diretora da Justiça Global ainda defende que o poder político que os suspeitos de serem os mandantes têm não deve impedir que eles sejam devidamente punidos. A sociedade, que perguntou por anos quem mandou matar a vereadora, precisa estar alerta, segundo ela. 

"Lutar pela memória, a justiça de Marielle, por todo o legado que ela deixou, é continuar na rua, porque a mobilização não para. A gente ainda tem um dever, que é um dever de todo mundo que defende direitos, um dever, na verdade, de toda sociedade brasileira, que é estar alerta para que os mandantes sejam devidamente responsabilizados", declara. 

"Os mandantes estavam também nas entranhas do estado, agentes públicos com foro especial, então eles têm poder político e a gente tem que ficar alerta para eles não escaparem por causa desse poder político que eles têm. O caso Marielle-Anderson é uma oportunidade da gente também frear o avanço desses grupos criminosos aqui no estado".

A entrevista completa está disponível na edição desta sexta-feira (1) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.

E tem mais!

Swing States

Nos Estados Unidos, republicanos e democratas investem os últimos momentos da campanha nos chamados estados-pêndulo, que definem o ganhador das eleições.

Servidores em Luta

Nesta semana, se comemorou o Dia do Servidor Público; em Minas Gerais, a data foi de luta para a categoria.

O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.

Edição: Martina Medina