Aqui estamos, milhões de brasileiros e brasileiras, diante do segundo turno das eleições municipais. Com essa nova configuração, os debates tornam-se mais diretos, entre apenas dois candidatos, o que muda estratégias de campanha e oferece uma oportunidade valiosa para tratar de propostas e dos planos de governo. Discutir o futuro da cidade exige, necessariamente, fazer um diagnóstico preciso de sua realidade atual.
Veja o caso de São Paulo (SP). Não há como ignorar os inúmeros problemas enfrentados diariamente na cidade. A semana em que este texto foi escrito ilustra bem uma dessas fragilidades, já que milhares de pessoas ficaram sete, oito dias sem energia elétrica e à mercê das consequências dessa situação. Um problema recorrente. Um problema previsível.
Em um momento de tamanha vulnerabilidade para os cidadãos, a falta de coordenação e de respostas eficazes por parte do poder público ficou evidente. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), em conjunto com Guilherme Lencastre, presidente da Enel – empresa estrangeira que detém a concessão bilionária para distribuição de energia elétrica na Região Metropolitana –, se envolveram em um "jogo de empurra-empurra", tentando se eximir da responsabilidade.
Episódios como este podem ser um fator decisivo na escolha de muitos eleitores no segundo turno. Afinal, a capacidade de liderança dos candidatos em situações de emergência e a preocupação com a vulnerabilidade dos habitantes da cidade é fundamental. E há também diversas questões políticas em debate.
Em Belo Horizonte, por exemplo, até a ideia de democracia como valor está em jogo na disputa, uma vez que a extrema direita coloca em "xeque muitos valores centrais à sobrevivência democrática", afirma Ricardo Mendonça, integrante do Grupo de Pesquisa em Democracia e Justiça (Margem).
O cenário em Goiânia (GO) não é muito diferente, já que "os bolsonaristas têm a capital como um quintal garantido do ponto de vista ideológico e têm toda a pretensão de transformar isso em voto", explica Pedro Célio Borges, professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Já em Porto Alegre (RS), para onde todos os olhares se direcionaram no primeiro semestre de 2024, as discussões seguem caminhos diferentes do esperado, considerando a tragédia das enchentes no início do ano, e em Natal (RN), os candidatos disputam os eleitores indecisos, já que ambos têm baixa rejeição.
Voltando à capital paulista, que esteve em destaque durante todo outubro, outro aspecto será crucial na definição do segundo turno: o comportamento dos mais de 1,7 milhão de eleitores que votaram em Pablo Marçal e dos quase 2,5 milhões de eleitores que não compareceram ao 1º turno, número que representa 27,3% do total do eleitorado da cidade (9,3 milhões).
Em ambos os recortes, análises indicam um descontentamento com a política institucional e destacam a necessidade de engajamento para o segundo turno. E esse é um problema nacional, mas ainda temos a expectativa de que momentos de crise possam permitir que nós tomemos a responsabilidade pelo futuro da nossa metrópole.
Na preparação para este segundo turno, o Brasil de Fato foi às ruas para ouvir relatos de moradores e definir as pautas que são prioritárias. O que é urgente para quem vive e trabalha na cidade? As pessoas estão preocupadas com o tempo que gastam no transporte público, a sensação de insegurança nas ruas e a qualidade dos serviços públicos disponíveis.
E é assim que fizemos em todos os últimos meses: uma cobertura das eleições municipais que coloca a população em primeiro lugar, atentos a municípios importantes, capitais de destaque e embates emblemáticos. E assim pretendemos continuar, para que você saiba para onde correr em momentos de decisão.
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Edição: Nicolau Soares