Agroecologia

Venezuela e MST anunciam projeto de produção de alimentos com 10 mil hectares no sul do país

Trabalho entre o Movimento e o governo foi divulgado pelo presidente Nicolás Maduro durante seu programa de televisão

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Brigada do MST na Venezuela esteve no programa Con Maduro + - Prensa Presidencial

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) terá um projeto conjunto com o governo da Venezuela para a produção de alimentos em um terreno de mais de 10 mil hectares no estado Bolívar, no sul do país. O trabalho em conjunto foi anunciado pelo presidente Nicolás Maduro na segunda-feira (9), durante o seu programa de televisão semanal Con Maduro +

O MST atua no país há quase 20 anos em parceria com as comunas venezuelanas, ajudando em projetos de agroecologia, além de formação técnica e a produção de alimentos orgânicos. Segundo Maduro, foi formada uma equipe para acompanhar esse trabalho, que será encabeçada pelo ex-ministro da Agricultura, Castro Soteldo. 

O programa segue convocação feita pelo presidente no final de agosto. Maduro usou o boné do MST em entrevista coletiva e pediu o envio de uma brigada de mil agricultores da organização ao país para produzir em solo venezuelano.

O presidente disse que esse será um grande projeto produtivo e elogiou o trabalho do Movimento não só na Venezuela, mas também no Brasil. “O MST tem uma experiência maravilhosa. Respeitam a terra, produzem na terra, praticam a solidariedade, os valores humanos. Bem-vindo, MST!”, disse Maduro. 

A coordenadora da brigada do Movimento na Venezuela, Simone Magalhães, se reuniu com o chefe do Executivo e afirmou que o trabalho do MST no Brasil é um sucesso. De acordo com Magalhães, além da produção de alimentos orgânicos, a organização também tem como ponto fundamental a formação teórica. 

“Mais de 70% do que chega à mesa dos brasileiros é produzido pela agricultura familiar. O agronegócio não alimenta o povo brasileiro. Só produz commodities para a exportação. Para nós é importante mostrar que a agroecologia é uma ciência, por isso precisamos desenvolver teoria. Não basta produzir sem gerar conhecimento. Requer conhecer, estudar. Nós temos um método”, afirmou. 

Soteldo foi ministro de 2016 a agosto de 2024. Para ele, uma das 3 grandes políticas que foram legado de sua gestão é a “pequena escala e alto rendimento”. De acordo com o ex-ministro, isso significa usar tecnologias limpas, o conhecimento e a agroecologia na produção. 

O ministro das Comunas, Angel Prado, também participou do encontro. Ele é um dos principais articuladores do trabalho realizado entre as comunas e o MST no país. Prado reforça que o trabalho de produção de conhecimento feito pelo movimento brasileiro ajuda na busca de soluções inovadoras para produção em zonas rurais. 

“Os irmãos do MST não só produzem, como estudam para inovar e tecnificar o campo e transformam isso em educação. Nós temos propostas que vêm da base para debater tudo isso. Vamos desenvolver projetos em diferentes povos com áreas desocupadas, inclusive no perímetro de Caracas”, afirmou.

Magalhães reforçou também um trabalho que já é realizado no Instituto Latinoamericano de Agroecologia Paulo Freire (Iala). Fundado em 2006, o espaço tem como princípios formadores o internacionalismo, vínculo comunitário, educação popular libertadora, práxis e tem na agroecologia o seu pilar de ensino. 

Marlon dos Santos é militante do MST e está na Venezuela contribuindo com a produção da comuna El Maizal. Para ele, esse trabalho com a juventude é importante especialmente nas universidades, que terão a formação profissional pautada nesses valores.

“Temos trabalhado com os jovens das comunas, na parte educativa. A agroecologia é sumamente importante, inclusive está nas universidades, conseguimos aplicar isso aqui. A gente busca mostrar para os jovens que produzir alimentos não é algo retrógrado, de pessoas que não avançam no tempo. É possível produzir sem o uso de agrotóxicos”, afirmou. 

Agricultura familiar e o conuco

Uma das metas do trabalho em conjunto entre MST e o governo venezuelano é o resgate do conceito de conuco. A ideia é proporcionar segurança alimentar para as famílias em um conceito agro sustentável, agroecológico, de preservação, diversificação produtiva e cuidado da terra. Dessa forma, é criada uma alternativa ao agronegócio na produção de alimentos nacionais.

Maduro disse que o livro A Ciência do Conuco e sua Visão Integral tem que ser usado como base para o desenvolvimento da agricultura venezuelana. A obra apresenta o conuco e sua aplicação nos espaços produtivos. O presidente afirmou que tem a intenção de unir o MST ao conceito de conuco. 

“A filosofia do Conuco, da pequena propriedade produzindo alimentos saudáveis é, sem dúvidas, uma metodologia acertada. Isso se encontra com a agricultura familiar brasileira. Produzir em pequenas propriedades com diversidade de cultivos, de produtos, sem prejudicar a natureza. Agricultura familiar também resguarda essa metodologia. Não nos importa produzir qualquer alimento. Temos que conhecer o clima, a realidade produtiva daquela região, acesso à água”, afirmou. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho