Uma bem ensaiada Kamala Harris partiu para o ataque contra um irritado Donald Trump no primeiro e talvez único debate presidencial nesta corrida para o pleito estadunidense de 5 de novembro. O evento da noite desta terça-feira (10) pode não ter consagrado um vencedor claro, mas deve fornecer combustível para discussões políticas nos próximos dias.
A linguagem corporal importa. A democrata aparentou preparo e segurança - em contraste ainda maior com o desempenho trágico do então candidato democrata, Joe Biden, no debate anterior, em junho. Trump, por outro lado, foi desmentido algumas vezes.
A primeira vez ao mencionar o boato de internet de que imigrantes estariam devorando - sim, comendo literalmente - bichos de estimação de cidadãos estadunidenses como cães e gatos. A segunda ao mentir que os índices de violência aumentaram com a crescente imigração. O republicano seria desmentido pelos mediares ainda ao declarar que existiriam estados no país onde o assassinato de bebês seria permitido.
Por outro lado, Harris chamou Trump de "extremo" e "amigo de ditadores". Trump, que até algumas semanas atrás parecia franco favorito, reagiu aos ataques levantando a voz e recorrendo a insultos e divagações enigmáticas, como costuma fazer em seus comícios.
Harris, de 59 anos, respondeu olhando com um sorriso irônico, mas logo irritou o adversário ao afirmar que representa um novo começo após a "bagunça" da presidência de Trump, dizendo: "Não vamos voltar atrás".
"A principal questão é o Trump tinha que desmoralizar Harris, mostrar que ela não é uma boa candidata à presidenta e por isso ele foi muito agressivo. Ela resistiu, se defendeu e, pode não ter ganhado claramente o debate, mas mostrou ser uma candidata viável. Debateu de igual para igual", disse o analista político Giorgio Romano.
"Ela poderia ter sido mais agressiva, mas foi uma boa estratégia. Nas considerações finais ele só conseguiu falar dela, não apresentou uma única proposta, evitou abordar o futuro, que era o que ela insistia."
Mencionado problemático
Já a professora de Relações Internacionas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Layla Dawood destaca que "Trump tentou associar Kamala a Biden em vários momentos, especialmente com relação ao plano econômico da candidata e à gestão dos problemas de política externa".
"Fica evidente que Trump continua investindo no argumento sobre sua força em contraposição à fragilidade de Biden e de Kamala. Entretanto, para ilustrar essa projeção de força, afirmou que Victor Orban (primeiro-ministro da Hungria) considera que Trump seria temido e respeitado. Ao fazer isso, Trump abriu espaço para a acusação por parte de Kamala de que ele admira e se aproxima de regimes autoritários."
Romano destaca esse momento como um dos mais surpreendentes do embate desta terça. E não por bons motivos.
"Muito curioso que o Trump para se defender e dizer como é bem visto no exterior citou ninguém menos que o Victor Orban, o único líder da União Europeia, da OTAN que é amigo do Putin. Eu acho que ela nem sabe disso. Mostra que o debate internacional é realmente muito difícil pra eles. Europeus vendo o debate devem ter achado inacreditável citar alguém tão problemático."
Em meio à cacofonia de insultos, alguns se destacaram. Como quando Trump "previu" que Israel não duraria mais dois anos como país caso sua rival fosse eleita. Harris também arriscou interpretar o que Trump quis dizer quando afirmou que acabaria com a guerra na Ucrânia em 24h. "Ele provavelmente vai abandonar Zelensky", disse ela.
O debate entre os presidenciáveis dos EUA, no entanto, pode ter sido mais proveitoso do que pareceu. Minutos após o fim do embate, a cantora Taylor Swift declarou em sua redes apoio à democrata.
“Vou votar em @kamalaharris porque ela luta pelos direitos e causas que acredito que precisam de um guerreiro para defendê-los. Acho que ela é uma líder firme e talentosa e acredito que podemos realizar muito mais neste país se formos liderados pela calma e não pelo caos.”
Edição: Lucas Estanislau