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Feira em Goiás aponta reforma agrária como solução para alimentação saudável e combate à fome

Realizado pelo MST, atividade ocorreu em Goiânia para tratar sobre democratização e acesso à terra

Brasil de Fato | Goiânia (GO) |
Feira reuniu agricultores assentados, representantes de movimentos populares e a sociedade em geral - Foto: Heloisa Sousa

O debate sobre a valorização do alimento saudável, a valorização da produção agroecológica e os princípios da reforma agrária foram temas centrais da 1ª Feira Estadual da Reforma Agrária em Goiás. Realizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no estado (MST-GO), o evento ocorreu na capital goiana, no sábado e domingo (7 e 8), ocasião em que agricultores assentados, representantes dos movimentos sociais e a população se reuniram pelo debate sobre a democratização do acesso à terra e a sustentabilidade da produção camponesa.

Ao Brasil de Fato DF, João Paulo Rodrigues, da direção nacional do MST, afirmou que a feira é um ato político em que o alimento saudável precisa estar na agenda da classe trabalhadora, dos movimentos do campo e da cidade que produzem alimentos. Ele destacou que, em Goiás, quem produz alimentos é a agricultura familiar, os pequenos e médios agricultores. “Estamos numa região que é o centro político do agronegócio, e o agronegócio produz carne, soja e, eventualmente, algum outro produto”, disse.

Para o representante do Armazém do Campo em Goiás, Gael Gomide, a feira foi uma pequena amostra do que é produzido nos assentamentos e acampamentos no estado. "Essa é nossa primeira Feira Estadual da Reforma Agrária em Goiás. Ela é um espaço muito importante para os nossos assentados e nossos acampados virem até a cidade para mostrar o que o campo está produzindo, quais os nossos produtos das nossas áreas do MST. É um marco que estamos fazendo aqui", destaca.

Durante o evento, também ocorreu uma conferência sobre a importância da reforma agrária e o combate à fome. Segundo a reitora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Angelita Lima, a reforma agraria é uma política estruturante que permanece, ainda hoje, sendo um tema de embate político, que parece ser escondido. 

Para ela, é importante que os movimentos sociais ajudem a universidade trazendo suas pautas. “As escolas, institutos de ensino são fundamentais para a produção desses conhecimentos. Não podemos deixar que esses espaços mobilizadores sejam ocupados por pensamentos conservadores, de direita e que impede de darmos passos importantes”, explica Angelita.

Reforma agrária e combate à fome

Com uma análise de conjuntura, Rodrigues explica que o agronegócio não conseguiu oferecer uma solução ambiental para o Brasil e, isso por si só, é devastador. O diretor nacional do movimento explica que o setor não conseguiu resolver o problema do desmatamento, o que tem gerado um alto custo para a sociedade.

“A segunda contradição do agronegócio é que ele não transformou sua capacidade produtiva em uma potência de alimentos para o mercado interno; sua produção é voltada para exportação, ele é dependente de países estrangeiros. Se houver uma grande crise no capital internacional, o agronegócio quebra aqui. Por fim, o setor alega que o maior problema é o custo de produção, especialmente pela falta de mão de obra. Eles não conseguem manter a força de trabalho sem recorrer a condições análogas à escravidão."

O evento foi promovido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), em parceria com a UFG. Para o coordenador do MDA em Goiás, José Valmir Misnerovicz, a agricultura é fundamental para alimentar a população, mas também para gerar postos de trabalho e para dinamizar a economia local. "Esse segmento da agricultura é que precisa ser valorizado e o Ministério do Desenvolvimento, ao ser criada novamente pelo presidente Lula, tem essa missão", explica.

Entre os destaques do evento também está a Culinária da Terra, espaço em que foi comercializado quitandas e servidas refeições típicas feitas com ingredientes vindos diretamente dos assentamentos.

“Culinária da terra é o alimento saudável, um alimento da nossa produção, do nosso bioma, o Cerrado. Teve pratos com o pequi, que é um fruto bem valorizado tanto no estado, quanto nacional e internacionalmente”, afirma Alcione da Cruz Ferreira, do Acampamento Dom Tomas Balduíno.


Feira buscou aproximar as famílias assentadas e acampadas do MST com o público goianiense, que consome os alimentos produzidos pelo movimento / Foto: Heloisa Sousa

Cultura e política

Segundo Gilvan Rodrigues, coordenador do MST em Goiás, outro tripé da atividade foram os espaços de debate, conversas e contato direto entre os produtores dos assentamentos "e as pessoas que estão na cidade que, às vezes, consomem os alimentos, mas não sabe quem produz."

Na ocasião, foram realizadas rodas de conversas temáticas, em que especialistas, agricultores e ativistas discutiram sobre os desafios e conquistas do movimento. Na primeira roda, os convidados e convidadas debateram sobre as práticas sustentáveis de plantio de árvores e produção de alimentos saudáveis, essenciais para o equilíbrio ambiental e a segurança alimentar.

Já a segunda roda foi dedicada aos conflitos agrários, analisando os desafios e as perspectivas da política de reforma agrária no Brasil. Por fim, na terceira roda, os participantes refletiram sobre os 40 anos de luta e conquistas do MST, destacando sua resistência e a importância de sua atuação na promoção de direitos e na transformação social.

Outro grande destaque do evento foi o show do artista popular Pereira da Viola. No espaço cultural, também se apresentaram a cantora Lyra Dyas; Moacir Amorim, do Assentamento Canudos; Mauricinho, também do Assentamento Canudos; Luciano Cachimbo, ator e diretor de teatro; Victor Batista, violeiro do município de Pirenópolis; ART, MC goiano independente; e Tereza Stefany, cantora popular.

Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Flávia Quirino