“Se o campo não planta, a cidade não janta.” Como o povo não come commodities, essas palavras de ordem do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) nunca fez tanto sentido. Diante do cenário de fome e insegurança alimentar que voltou a assolar o Brasil é importante escolher candidaturas comprometidas com a pauta da valorização da agricultura familiar. Ampliar essa representação no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas é fundamental para garantir políticas públicas sistemáticas que fortaleçam os pequenos agricultores e os povos originários e invertam a lógica dos investimentos aplicados no agronegócio, como acontece atualmente no país.
Nos últimos anos o MST passou a refletir sobre a importância de lançar candidaturas dentre seus quadros, de forma a também ocupar espaços de representação institucional. Assim, este ano, o movimento apresenta candidaturas em 15 estados brasileiros e no Distrito Federal. Elas carregam as pautas aliadas à luta pela moradia, pelo acesso à terra e à produção de alimentos saudáveis, tradicionais bandeiras do Movimento. No nordeste, são três candidaturas ao legislativo estadual, o Ceará, Pernambuco e Bahia; e à Câmara Federal, pelo Maranhão. Todas lançadas pelo Partido dos Trabalhadores.
No Ceará, os Sem Terra disputam uma vaga na Assembleia com o candidato Missias do MST. Filho de agricultores, sua vida se cruza com o Movimento a partir da ocupação da fazenda Serrote, em Crateús, hoje Assentamento Palmares. Sua família era moradora do acampamento e ele estudou na escolinha que funcionava no local, ingressando na militância do MST ainda adolescente.
Formado em administração, Missias do MST se soma na defesa da classe trabalhadora, do desenvolvimento sustentável, da valorização da agricultura familiar e no combate ao desmonte produzido pelo governo Bolsonaro. “Nós que fazemos a luta pela terra no Brasil sabemos que o Bolsonaro não fez nada pelo MST, nem uma família foi assentada no seu governo, são mais de 90 mil famílias acampadas no Brasil. E enquanto o Governo causou milhares de mortes sem cuidar da pandemia, o MST doou 7 mil toneladas de alimentos para a população mais pobre dos centros urbanos. Continuamos na luta, queremos terra, queremos reforma agrária e estamos firmes para construir um projeto verdadeiro para o povo brasileiro, para o povo cearense”, afirmou o candidato.
O Brasil foi retirado do Mapa da Fome, pela primeira vez na história, em 2014, após dois governos Lula e um governo Dilma. O feito histórico foi resultado de uma série de iniciativas promovidas pelos governos do PT, como a política do Fome Zero, depois Bolsa Família, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o fortalecimento do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), além de diversos programas de apoio à agricultura familiar e economia solidária. Todos encerrados ou desarticulados pelo governo de Bolsonaro.
Em Pernambuco, foi o desmonte das políticas públicas de combate à fome, aliado à concentração fundiária, à vulnerabilidade social das pessoas do campo e ao desejo de renovar a política, que motivaram a candidata Rosa Amorim (PT) a enfrentar o desafio de uma campanha eleitoral aos 25 anos. Tentando uma vaga na Assembleia Legislativa de Pernambuco, Rosa é assentada em Normandia, Zona Rural de Caruaru, agreste pernambucano e cresceu sabendo reconhecer o valor da terra, da agricultura familiar e a importância da união do povo. "As eleições de 2022 têm um caráter decisivo em nossa história. A agricultura familiar precisa do fortalecimento de políticas públicas como o PNAE e o PAA para produzirem ainda mais. Ter parlamentares comprometidos com a segurança alimentar e nutricional, com o combate à fome e com as políticas estruturais para a agricultura camponesa, faz a diferença para quem produz e também para quem consome esses alimentos”, diz.
Esse olhar atento e construtivo de Rosa também brilha há 49 anos nos olhos de Lucinha Barbosa (PT), em Eunápolis, no Extremo Sul da Bahia. Com apenas 15 anos, ela participou da segunda ocupação realizada no seu estado, que construiu o Assentamento Bela Vista e desde então dedica sua vida à luta do campo. “A agricultura familiar é a base de toda alimentação saudável e do desenvolvimento dos comércios locais e no Nordeste o peso da agricultura familiar é muito maior. Nós não falamos só dos assentados ou quilombolas e pequenos produtores. Precisamos nos preocupar com o outro, com quem depende do que estamos produzindo. Uma alimentação saudável, mais barata e essencial para as inúmeras pequenas cidades que tem nesse país”, defende a candidata à deputada estadual da Bahia.
As mulheres sempre desempenharam importantes papéis nas mais variadas frentes do MST atuando no combate às políticas que ampliam a retirada de direitos. No Maranhão, a candidata Vânia do MST (PT) disputa uma vaga para a Câmara Federal. Nascida em uma família de trabalhadores rurais, Vânia conheceu o Movimento aos 17 anos. Contribuiu com a fundação do MST em vários estados do nordeste, até fixar residência no Maranhão, onde atua como educadora popular e pedagoga, contribuindo na formação da juventude no campo e na periferia. “Priorizamos a produção de alimentos saudáveis garantindo o princípio da soberania alimentar. Livres de agrotóxicos e de sementes transgênicas, criando políticas de crédito subsidiado, apoiando pesquisas voltadas para a produção agrícola e incentivando à adoção de técnicas que aumentem a produção do trabalho em equilíbrio com a natureza. Sempre visando combater a fome e garantir renda mínima aos trabalhadores do campo para que eles vivam com dignidade, a mesma que merece todos os brasileiros e brasileiras”, ressalta Vânia.
Unindo forças
Apesar do campo ser responsável por cerca de 70% dos alimentos que chegam à nossa mesa, produtores e produtoras rurais passam fome no Brasil. Pesquisa recente realizada pela Rede Pennssan, que reúne pesquisadores de várias instituições e universidades do país, mostrou que a fome atinge quase 20% das residências nas áreas rurais, a maioria no Norte e Nordeste.
As candidaturas do MST são unânimes ao afirmarem que políticas assistencialistas não substituem as políticas sociais de combate à fome desmontadas no governo Bolsonaro. Elas defendem que é preciso atuar no campo e na cidade, na zona rural e nas periferias para recuperar a renda da população e acabar com a pobreza com ações integradas na saúde, educação, entre outras áreas.
Ainda pelo PT, o Ceará conta com outras duas candidaturas ao legislativo estadual que defendem a agricultura familiar. De Assis Diniz, que foi presidente do partido e Secretário de Desenvolvimento Agrário no governo de Camilo Santana. E de Moisés Braz, liderança construída junto aos sindicatos de trabalhadores rurais, foi o primeiro agricultor da Assembleia Legislativa e tenta seu terceiro mandato. “A esperança está de volta com Lula, mas não basta eleger somente ele. É preciso que o povo entenda a importância de reequilibrar as forças na Câmara e no Senado para o país sonhar em escapar no precipício onde fomos jogados. Essa luta é dever de todos nós. E o primeiro passo é no dia 2 de outubro”, lembra, o candidato.
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Fonte: BdF Ceará
Edição: Camila Garcia