QUEIMADAS

Incêndios florestais na Bolívia atingem quase 3 mi de hectares e qualidade do ar é 'perigosa'

La Paz e Santa Cruz são as regiões mais afetadas; mais de 25 mil focos de calor pelo país foram registrados em agosto

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Bombeiros tentam apagar incêndio florestal no município de San Matías, na região de Santa Cruz - Divulgação/Agencia Boliviana de Información

O governo boliviano informou que 2,9 milhões de hectares em 20 municípios das regiões de Santa Cruz, Beni e Pando foram atingidos por incêndios florestais. Na última quinta-feira (5), a prefeitura de La Paz, capital da Bolívia, informou que a qualidade do ar no município é muito preocupante, situação causada pelas queimadas que estão devastando diversas regiões do país.

Nos últimos dois dias, uma densa fumaça pairou sobre a cidade. Segundo a última atualização do Índice da Qualidade do Ar (ICA), indicador que avalia o grau de contaminação, a situação de La Paz é considerada preocupante, com a qualidade do ar estacionada em "muito ruim", e que já chegou a bater o nível "perigoso", o que representa um risco de saúde para a população local, principalmente para grupos de risco e vulneráveis.

O governo da cidade orientou os cidadãos a fazerem uso de máscara facial. Além disso, o secretário de Educação e Desenvolvimento Social da Câmara Municipal de La Paz, Jaques Alcoba, sugeriu que as crianças tenham aulas no formato remoto para evitar que saiam de casa enquanto a qualidade do ar permanecer alarmante. A Sociedade Boliviana de Pneumologia solicitou ao governo que declare alerta sanitário, e advertiu que a densa fumaça é um dano para a saúde e meio ambiente

Até o momento, Santa Cruz é o departamento mais afetado pelas queimadas e seca extrema, que se agrava devido à falta de chuvas. Por conta da calamidade climática, o governo da região declarou estado de emergência ambiental.

Desde o dia 8 de abril, brigadas médicas e equipes de resposta rápida do Ministério da Saúde da Bolívia atenderam cinco mil pessoas afetadas, entre população civil e encarregados de conter as chamas, nos departamentos de Santa Cruz, Beni e Pando. De acordo com relatório oficial do Ministério, as doenças mais frequentes relatadas são: dor de cabeça, esgotamento por calor, conjuntivite e resfriados.

Carla Rojas, médica do Programa de Saúde da Família Comunitária Intercultural (Safci), declarou durante coletiva de imprensa que "as brigadas estão fazendo o possível para garantir os atendimentos, coordenados com os municípios".

"Vale ressaltar que elas não só atendem a população, mas também aos voluntários, bombeiros, militares, e todos que estão trabalhando para mitigar os focos de calor. Estão sendo proporcionadas para as brigadas todos os equipamentos e medicamentos necessários", disse. Desde o início dos atendimentos, o Ministério da Saúde disponibilizou mais de 1,5 milhão de toneladas de medicamentos.

O Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) do Brasil monitora os focos ativos de incêndios nos países sul-americanos desde 1998 e relatou 25.913 focos de calor no país em agosto, maior notificação em 14 anos e três vezes maior que a média histórica de 8.360.

Processos e prisões

A Autoridade de Fiscalização e Controle Social de Bosques e Terra da Bolívia (ABT) informou que, até o dia 29 de agosto, tramitavam 54 processos penais de acusação por início de incêndios florestais em diversas regiões do país. Do total de investigações, 48 ocorreram em Santa Cruz e seis em Beni.

A ABT também prosseguiu com 253 processos administrativos, sendo 155 em Santa Cruz, 36 em Beni e 62 espalhados pelo restante do país. A autoridade informou que 144 destes processos pertencem a propriedades privadas e 109 a comunidades de camponeses, interculturais ou em Territórios Comunitários de Origem (TCOs), que são marcos legais que garantem a posse comunitária de uma terra.

Três pessoas chegaram a ser presas em flagrante por iniciar incêndios em uma comunidade indígena no município de Urubichá (Santa Cruz), mas foram liberadas pelo juiz Roberto Cruz Hurtado Roca. O vice-ministro de Defesa Civil da Bolívia, Juan Carlos Calvimontes, lamentou a decisão do juiz e declarou que "essas pessoas tinham um acampamento e armazenavam combustível".

Edição: Lucas Estanislau