A economia brasileira cresceu 1,4% no segundo trimestre deste ano e superou com folga a previsão de analistas ligados ao mercado financeiro para o indicador. Segundo o Ministério do Planejamento, eles estimavam que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceria 0,9%.
O governo, por outro lado, já esperava um crescimento maior, de 1,35%. Não foi tão surpreendido quanto o mercado porque, segundo economistas ouvidos pelo Brasil de Fato, foram justamente as suas ações que levaram a uma alta trimestral do PIB tão expressiva – a maior desde o final de 2020, quando o país se recuperava da pandemia.
"O resultado é muito positivo. Isso é por conta do impulso fiscal, principalmente os dados no ano passado", resumiu o economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Pedro Rossi.
O tal "impulso fiscal" citado por ele tem a ver com gastos do governo visando justamente estimular a atividade econômica. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retomou esse tipo de política pública, apesar de toda resistência de setores afeitos à austeridade. Parte delas mostrou agora seus resultados.
"Foi só retomar uma política de aumento de salários e retomar o pagamento de benefícios sociais que a renda das pessoas foi recomposta", acrescentou Pedro Faria, também economista. "As pessoas consomem, e os capitalistas investem porque vendem."
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que calcula o desempenho da economia, só no segundo trimestre, o consumo das famílias e dos governos cresceu 1,3% ante ao trimestre anterior. Já a chamada formação bruta de capital fixo – valor de compras de empresas para aumentar sua produção – aumentou 2,1%.
A alta do consumo das famílias foi direcionada principalmente para a indústria, cuja produção cresceu 1,8% no trimestre. O setor de serviços cresceu 1% e a agropecuária – que havia puxado o crescimento econômico em 2023 – encolheu 2,3%.
"A indústria voltou forte e a formação bruta do capital fixo [que diz respeito ao investimento] também ficou acima da expectativa", comemorou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). "Temos que olhar para o investimento porque é ele que garante um crescimento com baixa inflação. Se não aumentarmos nossa capacidade instalada de produção, teremos dificuldade de crescer sem inflação".
Política industrial
Weslley Cantelmo, economista e presidente do Instituto Economias e Planejamento, também disse que o crescimento da indústria não é mero acaso. Segundo ele, o governo tomou medidas para fortalecer o setor. Quem mais recebeu incentivo cresceu mais.
"O BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] tem taxas especiais para investimentos em energia eólica e fotovoltaica, que têm crescido a sua participação de maneira vertiginosa. Também tem ação do BNDES no setor de gestão de resíduos", disse ele. "Ainda houve aportes em concessões para melhoria da infraestrutura."
O governo estimava que a economia brasileira cresça 2,5% durante todo 2024. Haddad disse que essa revisão terá de ser revista após o resultado do trimestre. "O PIB deve superar os 2,7% ou 2,8%", afirmou. "Há instituições que estimam um crescimento de 3%."
Economistas ligados a bancos preveem que a economia brasileira crescerá 2,46%. O percentual na edição do Boletim Focus divulgado pelo Banco Central na segunda-feira (2).
No início do ano, esses profissionais previam que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceria 1,5% em 2024. Naquele momento, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda já previa alta de 2,2%.
"O mercado tem um viés de erro sempre para baixo", ponderou Rossi. "Eu acho que o PIB deve, sim, crescer 3% neste ano. Não é uma grande taxa, mas a melhor em dez anos."
Seca contra agro
O economista e engenheiro-agrônomo José Giacomo Baccarin disse que, em cenários de crescimento maior, é esperado que indústria e serviços cresçam mais que o setor agropecuário. "O consumo de alimentos não cresce tanto, mas cresce o de carros, eletroeletrônicos, viagens, etc", explicou.
Baccarin ressaltou que a queda da produção agropecuária registrada neste trimestre não tem a ver com esse movimento. É, na verdade, consequência da seca que atinge o país.
"A produção de soja, disparada nossa principal atividade agrícola, foi comprometida em 15% por ondas de calor e seca. Outras culturas também foram impactadas. E houve o desastre do Rio Grande do Sul, com impactos sobre a criação de animais, o milho e arroz", disse.
Em 2023, o PIB brasileiro cresceu 2,9%. Isso teve a ver com a safra recorde de soja e milho colhida no país naquele ano.
Edição: Thalita Pires