Violência

Lideranças indígenas são perseguidas e atropeladas ao voltar de moto para retomada em Douradina (MS)

Este é o quarto ataque sofrido pelos Guarani-Kaiowá desde que realizaram três retomadas neste território indígena

Brasil de Fato | Campo Grande |
Rezadoras Guarani Kaiowá fazem ritual em frente a vigília de fazendeiros que ameaçam retomada - Aty Guasu

Um casal Guarani-Kaiowá, lideranças de uma retomada da Terra Indígena Panambi Lagoa-Rica, em Douradina (MS), relata ter sofrido uma tentativa de homicídio no último sábado (24). Voltavam de moto da cidade para a área que, sobreposta por fazendas, está ocupada pelos indígenas desde meados de julho, quando um carro os perseguiu e atropelou. O homem machucou a perna e a mulher se feriu seriamente no rosto, além do joelho e braço. Por segurança, ambos pediram para não ser identificados. 

Este é o quarto ataque sofrido pelos Guarani-Kaiowá desde que realizaram três retomadas neste território indígena, em 13 de julho. Além de um acampamento de fazendeiros, montado a poucos metros de uma das áreas recuperadas, o tekoha -- 'lugar onde se é', em guarani -- Yvy Ajerê, houve atentados contra as comunidades indígenas feitos por homens armados, de cima de caminhonetes. No último 3 de agosto, entre dez feridos, dois jovens foram alvejados no pescoço e na cabeça, mas sobreviveram. 


Casal de lideranças sofreu ferimentos após perseguição e atropelamento / Divulgação Yvy Ajerê

Desta vez, segundo relata o casal Guarani-Kaiowá ao Brasil de Fato, a perseguição na estrada foi feita por "pistoleiros" em um uno vermelho. Por volta das 19h deste sábado (24), quando voltavam do mercado, os indígenas da retomada Yvy Ajerê passaram de moto e foram reconhecidos por homens que estavam em um bar. Ainda de acordo com eles, os homens os perseguiram de carro por cerca de 1 km, até os derrubar. 

Sobreposta por fazendas, a TI Panambi-Lagoa Rica já foi reconhecida e delimitada pela Funai como de ocupação tradicional indígena em 2011. Passados 13 anos, o processo demarcatório, que depende ainda da portaria declaratória e da homologação, está estagnado. Cansados de esperar, indígenas optaram por recuperar áreas das quais seu povo foi expulso na década de 1940, quando o Estado brasileiro os confinou em reservas e emitiu títulos de colônias agrícolas para fazendeiros.

Desde o acirramento do conflito, a região recebeu comitivas de órgãos como Funai e Ministério dos Povos Indígenas (MPI). Um efetivo da Força Nacional, vinculada ao Ministério da Justiça, foi enviado ao local e atualmente estabeleceu uma base no território. A tensão, no entanto, segue.

No último 16 de agosto, produtores rurais "em defesa do direito de propriedade" organizaram um "tratoraço" que desfilou pelas ruas de Douradina, com bandeiras do Brasil e ao som do hino nacional.

Em nota, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) informou que, junto à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), visitou a residência do casal. "No momento da visita, uma das vítimas estava na Casa de Saúde Indígena (CASAI) de Dourados/MS, de modo que foi possível dialogar apenas com a outra", informa o documento. Ainda segundo o MPI, um relato sobre a ocorrência foi colhido. "O MPI qualificou as informações do ocorrido, vai acionar as autoridades públicas e solicitar as devidas apurações", diz a pasta. 

O Brasil de Fato também buscou posicionamento do Ministério da Justiça, que disse que "não recebeu informações oficiais acerca do caso em questão" e acrescentou que "a Força Nacional atua na região em um programa de cooperação federativa, portanto, sua atuação funciona como apoio e suporte".
 

Edição: Nathallia Fonseca