AGRESSÃO

Ministério Público pede indiciamento de ex-presidente argentino Fernández por 'lesões graves' e 'ameaças'

Ramiro González ampliou a denúncia acusando-o de ferimentos, ameaças e abuso de poder

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Ex-presidente argentino Alberto Fernández - Reprodução

O promotor federal da Argentina, Ramiro González acusou nesta quarta-feira (14) o ex-presidente Alberto Fernández pelos crimes de lesões graves duplamente agravadas pelo vínculo e por terem ocorrido em um contexto de gênero e ameaças coercitivas em detrimento de sua ex-companheira, Fabiola Yañez.

De acordo com o promotor, Yañez “sofreu um relacionamento marcado por assédio, assédio psicológico e agressão física em um contexto de violência doméstica e de gênero”.

Esse assédio, considerou, ocorreu no contexto de uma “relação de poder assimétrica e desigual que se desenvolveu ao longo do tempo, que foi exponencialmente aumentada pela eleição de Fernández como Presidente da Nação e pelo exercício do cargo”.

No documento, o promotor descreveu nove episódios de violência que Yáñez alega ter sofrido, destacando um aborto forçado por Fernández através de "um plano que envolvia desprezo, negação da palavra, assédio e frases como 'isso precisa ser resolvido, você tem que abortar'".

González também mencionou dois episódios de 2021, em que Fernández teria segurado Yáñez pelo braço e a golpeado no olho, causando lesões visíveis.

Pelo menos uma dessas lesões teria sido fotografada por Yáñez e enviada à secretária particular de Fernández, María Cantero.

Outro incidente impactante relatado pelo promotor González ocorreu, segundo Yáñez, em 12 de agosto de 2021, quando o ex-presidente teria dado um chute em seu abdômen, "sabendo que ela poderia estar grávida naquele momento".

Esse fato ocorreu no mesmo dia em que vazou para a imprensa a chamada "foto de Olivos", onde Fernández e Yáñez aparecem com várias pessoas em uma festa de aniversário na residência presidencial, quando as reuniões estavam proibidas devido à pandemia de covid-19.

Foi a partir do celular de Cantero que a investigação sobre a suposta violência de Fernández começou, pois o juiz Ercolini encontrou essa foto e outras mensagens relatando agressões por parte do ex-presidente e entrou em contato com Yáñez para informá-la. Inicialmente, Yáñez não quis apresentar a denúncia, mas depois mudou de ideia.

A acusação apresentada por González acontece após Fabiola Yáñez depor pela primeira vez na terça-feira (13), durante quatro horas, no processo por violência de gênero que move contra seu ex-marido, um dia após apresentar um documento com novas revelações.

O procedimento foi realizado por videoconferência a partir do consulado argentino em Madri, cidade onde Yáñez reside.

"Ela pôde prestar depoimento e se sentiu muito confortável", afirmou à imprensa a advogada de Yañez, Mariana Gallego, acrescentando que "resta apenas confiar na Justiça e nos passos processuais".

Em declaração por escrito apresentada à Justiça na segunda-feira, à qual a AFP teve acesso, Yañez afirma que "os maus-tratos, assédio, desprezo, agressões, socos, eram uma constante" e que levava "tapas quase diários".

A resposta de Fernández

Além de uma eventual apresentação à Justiça, Fernández deu sua versão dos fatos à imprensa. Em entrevista ao jornal espanhol El País publicada nesta terça-feira, o ex-presidente negou as agressões.

"Estou sendo acusado de algo que não fiz. Não bati em Fabiola. Nunca bati em uma mulher", afirmou. "O que farei é esperar, ir à Justiça e deixar que a Justiça resolva", acrescentou o político de 65 anos.

Em outras declarações ao meio local El Cohete a la Luna, Fernández disse que o hematoma visível no olho de Yáñez nas fotos se devia a um tratamento estético e não a um golpe desferido por ele. Fernández também considerou que "há alguém que incentivou" Yáñez a o denunciar e afirmou que há um aproveitamento político do governo (do presidente Javier Milei).

*Com AFP e Página 12

Edição: Leandro Melito