Investigação

Ex-primeira-dama argentina depõe contra Alberto Fernández por violência de gênero

Depoimento foi por videoconferência a partir do consulado argentino em Madri, cidade onde ela reside

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Fabiola Yañez, ex-companheira do ex-presidente argentino (2019-2023) Alberto Fernandez, denunciou-o por violência de gênero em 6 de agosto de 2024 - Chandan Khanna / AFP

A ex-primeira-dama da Argentina Fabiola Yáñez depôs pela primeira vez nesta terça-feira (13) no processo por violência de gênero que move contra seu ex-marido, o ex-presidente Alberto Fernández (2019-23), um dia após apresentar um documento com novas revelações.

Yáñez depôs por cerca de quatro horas ao promotor Ramiro González. O procedimento foi realizado por videoconferência a partir do consulado argentino em Madri, cidade onde reside.

"Ela pôde prestar depoimento e se sentiu muito confortável", afirmou à imprensa a advogada de Yañez, Mariana Gallego, acrescentando que "resta apenas confiar na Justiça e nos passos processuais".

Em declaração por escrito apresentada à Justiça na segunda-feira, à qual a AFP teve acesso, Yañez afirma que "os maus-tratos, assédio, desprezo, agressões, socos, eram uma constante" e que levava "tapas quase diários".

No texto, ela detalha as circunstâncias de um desses golpes: "Havíamos discutido antes, muito, como já era habitual, e como encerramento da discussão ele me acertou do seu lado da cama um terrível soco", relatou, acusando o médico presidencial de encobrir o fato.

Ex-jornalista de 43 anos, Yáñez, que tem um filho de dois anos com Fernández, disse no documento que sua convivência com o agora ex-mandatário começou em 2016. A ex-primeira-dama também afirmou que Fernández exerceu sobre ela "violência reprodutiva" ao pressioná-la a fazer um aborto naquele mesmo ano.

Há uma semana, Yáñez denunciou o ex-presidente por violência física e psicológica e, na quinta-feira, a imprensa local publicou supostas conversas e fotos em que ela aparece com hematomas no rosto e no braço. A denúncia surgiu a partir do vazamento à imprensa de mensagens entre Yáñez e a secretária particular de Fernández, María Cantero, a quem a então primeira-dama teria contado sobre as agressões sofridas.

As mensagens foram encontradas no âmbito de outro processo que investiga supostos atos de corrupção para o qual o celular de Cantero foi periciado.

Não participaram do depoimento de Yáñez nesta terça-feira, por decisão do juiz, nem o ex-presidente nem sua advogada, o que levou esta última a considerar diante da imprensa que "a audiência não é válida".

"Por que não são permitidas as perguntas desta defesa para que meu cliente possa exercer o direito constitucional correspondente?", indagou a advogada, assegurando que Fernández vai depor quando for solicitado.

A resposta de Fernández

Além de uma eventual apresentação à Justiça, Fernández deu sua versão dos fatos à imprensa. Em entrevista ao jornal espanhol El País publicada nesta terça-feira, o ex-presidente negou ter sido autor das agressões.

"Estou sendo acusado de algo que não fiz. Não bati em Fabiola. Nunca bati em uma mulher", afirmou. "O que farei é esperar, ir à Justiça e deixar que a Justiça resolva", acrescentou o político de 65 anos.

Em outras declarações ao meio local El Cohete a la Luna, Fernández disse que o hematoma visível no olho de Yáñez nas fotos se devia a um tratamento estético e não a um golpe desferido por ele. Fernández também considerou que "há alguém que incentivou" Yáñez a o denunciar e afirmou que há um aproveitamento político do governo (do presidente Javier Milei).

*Com AFP

Edição: Leandro Melito