O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, disse nesta terça-feira (6) ter contato direto com o chanceler Mauro Vieira para fortalecer a comunicação com o governo venezuelano, pedindo a entrega das atas eleitorais. Na segunda, o presidente da França, Emmanuel Macron, já havia apoiado Lula nesse processo.
A postura dos dois países se soma à última posição do governo dos Estados Unidos em uma declaração de confiança no governo brasileiro para amenizar a disputa política em torno das eleições da Venezuela.
Desde a divulgação da vitória de Nicolás Maduro em 28 de julho, o governo brasileiro tem conseguido dialogar com outros países e articular uma queda na tensão no país vizinho.
Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Gilberto Maringoni, a conduta do Brasil é a melhor possível até agora. De acordo com ele, o país já tem uma posição estratégica nesse contexto e "está em melhores condições" para o diálogo, "pela proximidade não só territorial, mas pelo histórico" entre os países.
"Lula sempre esteve muito próximo do ex-presidente Hugo Chávez e, entre López Obrador [México] e Gustavo Petro [Colômbia], é Lula quem tem a melhor relação pessoal com Nicolás Maduro. Cabe ao Brasil, por causa do Lula, essa confiança de coordenar essa situação”, disse ao Brasil de Fato.
O professor afirma que a posição dos Estados Unidos é “surpreendentemente” interessante. Depois de idas e vindas, os EUA mantiveram a posição de esperar a atuação de Brasil, Colômbia e México. Os três governos de esquerda apontam que "as controvérsias sobre o processo eleitoral devem ser dirimidas pela via institucional" e que o resultado do pleito deve passar por "verificação imparcial".
Depois de afirmar que Edmundo González havia vencido o pleito, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Milller, disse na segunda (5) que o governo estadunidense “ainda não chegou ao ponto” de reconhecer uma vitória de Edmundo e afirmou que os EUA mantêm contato com Brasil, México e Colômbia “para encontrar um caminho” para a situação.
“Brasil, México e Colômbia, e EUA, por incrível que pareça, tiveram uma posição sensata. Respeitamos o processo, mas queremos as atas. Foi diplomaticamente correta. Tudo indica que essa posição foi acertada com o governo norte-americano, ou com o presidente Joe Biden. A nota do Departamento de Estado reconhecendo Edmundo foi açodada. Isso mostrou duas posições dos EUA, uma à direita, com Antony Blinken, outra ao centro com Biden. O recuo do governo americano mostra uma correção”, afirmou.
O principal tema de discussão agora nas eleições venezuelanas é a divulgação das atas eleitorais – que são os comprovantes que saem das urnas. O Conselho Nacional Eleitoral do país (CNE) afirmou ter atrasado a divulgação dos resultados e a publicação das atas devido a um ataque hacker.
O presidente Nicolás Maduro pediu a abertura de uma investigação na Justiça para apurar o caso. O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) deu 72 horas para que o órgão entregasse as atas eleitorais para análise. Os documentos eleitorais que estavam com o CNE foram entregues e agora estão sendo analisados.
A oposição afirma ter mais de 80% das atas e que isso garantiria a vitória de Edmundo González Urrutia. Nicolás Maduro venceu as eleições da Venezuela com 6,4 milhões de votos (51,97%) contra 5,3 milhões (43,18%) do opositor Edmundo González com 96,87% das urnas apuradas.
Segundo Maringoni, o Brasil terá agora um peso na mediação em torno das atas. Para ele, a situação pode sair do campo diplomático se essa situação não for esclarecida.
“O Brasil vai ser uma espécie de avalista, vai ter um peso nessa questão. Não sei se o Brasil vai sentar com todo mundo da oposição e governo, mas acho que pode formar um pool de países para negociar essa questão. Ou aparecem as atas, ou a solução pode acabar indo para uma disputa de forças. O Brasil vai medir, mas a bola tá com o CNE”, afirmou.
Edição: Leandro Melito