O presidente reeleito da Venezuela, Nicolás Maduro, disse nesta sexta-feira (2) que os Estados Unidos tentam interferir nos assuntos internos e pediu que os estadunidenses “tirem o nariz” do país. A fala do mandatário vem na esteira do comunicado do Departamento de Estado dos EUA afirmando, sem apresentar provas, que o vencedor das eleições da Venezuela foi Edmundo González Urrutia.
Na nota, o governo estadunidense disse que o candidato da Plataforma Unitária recebeu mais votos na eleição presidencial. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) divulgou no domingo o resultado das eleições com uma vitória do atual presidente Nicolás Maduro com 51,2% dos votos contra 44,2% de Edmundo, com 80% das urnas apuradas.
“Os Estados Unidos devem tirar o nariz da Venezuela, porque o povo soberano é quem governa na Venezuela, quem põe em prática, quem decide. Os EUA nomearam um novo Guaidó: Edmundo González Urrutia, que é um assassino, um agente da CIA, ligado ao assassinato de religiosos em El Salvador nos anos 80”, disse Maduro.
O presidente faz referência ao ex-deputado Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente em 2019, um ano depois da primeira reeleição de Maduro.
Antes do comunicado do Departamento de Estado, Maduro afirmou que se os EUA estiverem dispostos a respeitar a soberania da Venezuela, seria possível retomar o diálogo entre os países. No começo de julho, os governos da Venezuela e dos Estados Unidos abriram uma nova rodada de negociações. A ideia é retomar o diálogo e as negociações comerciais entre os dois países.
Antes da divulgação dos resultados no domingo, a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, expressou apoio "à decisão do povo venezuelano". Em publicação nas redes sociais, ela disse que "apesar dos muitos desafios", continuará trabalhando por um futuro mais "democrático, próspero e seguro" para os venezuelanos. No último pleito presidencial, em 2018, os EUA não reconheceram a eleição de Nicolás Maduro e deram apoio ao presidente autoproclamado Juan Guaidó.
Já no comunicado desta quinta, os EUA disseram que a declaração da vitória de Maduro veio "sem nenhuma evidência de apoio" e questionaram a lentidão na divulgação das atas.
"A rápida declaração do CNE de Nicolás Maduro como vencedor da eleição presidencial veio sem nenhuma evidência de apoio. O CNE ainda não publicou dados desagregados ou nenhuma das folhas de contagem de votos, apesar dos repetidos apelos dos venezuelanos e da comunidade internacional para fazê-lo", diz o comunicado.
A divulgação das atas eleitorais é o principal tema envolvido nas eleições da Venezuela. A oposição afirma ter mais de 70% das atas e que isso garantiria a vitória de Edmundo González Urrutia. Antes mesmo da divulgação dos resultados, a ex-deputada ultraliberal María Corina Machado já havia dito que "González Urrutia teve 70% dos votos e Nicolás Maduro 30%”.
Países pedem atas
Outros governos têm afirmado que não é possível ter qualquer segurança sobre as denúncias da oposição sem que as atas sejam divulgadas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a questão será completamente resolvida depois que forem divulgadas as atas.
"Se tem um problema, como vai resolver? Apresenta a ata. Se houver dúvida entre oposição e situação sobre a ata, a oposição entra com recurso e vai esperar na Justiça correr o processo. Terá uma decisão que a gente tem que acatar", disse Lula à Globonews.
Edição: Leandro Melito