O governo de Colômbia e México se manifestaram nesta terça-feira (29) sobre a eleição de Nicolás Maduro na Venezuela no último domingo (28). O Presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, pediu a todos que questionam e até denunciam uma fraude nas eleições que deram a Nicolás Maduro um terceiro mandato consecutivo que "não metam o nariz" na Venezuela.
"Que se revisem as atas, que se contem os votos, mas que não haja desconhecimento a priori e que não metam as mãos nem o nariz aqueles que não agem de verdade, na realidade, de forma democrática", disse o mandatário esquerdista durante sua habitual coletiva de imprensa.
Obrador, reiterou que o seu governo reconhecerá os resultados emitidos pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e instou a esperar a contagem final e a "não desqualificar" as eleições "nem de um lado nem do outro".
Obrador criticou também o "intervencionismo" de governos estrangeiros e da Organização dos Estados Americanos (OEA), que nesta terça denunciou que as eleições de domingo sofreram "a mais aberrante manipulação".
"Não é um organismo nem democrático, nem autônomo, nem representa os países da América. Está aí como um apêndice, uma facção. Não serve para nada, serve para agravar os problemas", disse Obrador.
"Os governos de outros países pequenos, médios ou grandes não têm o que fazer? Por que se intrometem nos assuntos de outros países? Por que o intervencionismo? Por que a OEA tem que se intrometer?", questionou López Obrador.
O Conselho Permanente da OEA convocou uma reunião extraordinária para a próxima quarta-feira (31) para "abordar os resultados do processo eleitoral", após um pedido, nesse sentido, dos governos da Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai.
"A OEA não tem credibilidade, com que fundamento a OEA sustenta que o outro candidato [Edmundo González] ganhou? Onde estão as provas?", disse o presidente mexicano.
A oposição venezuelana, liderada por María Corina Machado, bem como grande parte da comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos, a União Europeia, o Brasil e a Colômbia, questionaram os resultados das votações.
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Em vídeo no seu perfil da rede social X, o chanceler colombiano Luis Gilberto Murillo cobrou do governo venezuelano a divulgação de todas as atas para que o processo democrático no país possa ter respaldo internacional.
"Colômbia insta as autoridades venezuelanas que respaldem esse processo democrático com evidências, ferramentas, que a Constituição do seu país permite. Manter o diálogo entre as partes e evitar a violência nas ruas será fundamental para avançar em um acordo. Pela paz da Venezuela se requer conhecer todas as atas do resultado final e que estas sejam auditadas pelo mundo. A comunidade internacional e o povo venezuelano esperam que prevaleça a transparência e as garantias eleitorais para todos os setores", disse Murillo.
Eleição, suposta fraude e violência: como chegamos até aqui?
A votação no último domingo (28) ocorreu com tranquilidade, segundo as próprias autoridades eleitorais. Os resultados definitivos foram divulgados por volta da 1h da manhã da segunda-feira (29) pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Com 80% das urnas apuradas, o órgão deu vitória ao atual presidente Nicolás Maduro com 51,2% dos votos contra 44,2% de Edmundo González Urrutia, ex-diplomata de direita e principal candidato da oposição. Os resultados, segundo o CNE, já eram irreversíveis.
No palácio de Miraflores e rodeado por apoiadores, Maduro fez seu discurso da vitória, no qual agradeceu os eleitores e pediu respeito aos resultados eleitorais. "Haverá paz, estabilidade e justiça. Respeitem a decisão de 28 de julho", disse.
Minutos depois, a oposição se manifestou e não reconheceu os resultados. González apareceu acompanhado de Maria Corina Machado, líder opositora que, por complicações com a Justiça, foi inabilitada de ocupar cargos públicos no país, e disse que era o vencedor da disputa.
Sem apresentar provas, os opositores alegaram uma "fraude eleitoral" e disseram ter atas de votação que supostamente comprovariam a divergência nos números.
Após a postura de González e Machado, o dia seguinte foi de tensão e violência. Marchas foram registradas em redutos historicamente opositores de Caracas, capital venezuelana, e manifestantes chegaram a incendiar prédios e patrimônios públicos.
O governo denunciou as ações, responsabilizou os opositores pela violência e classificou o movimento como uma "tentativa de golpe de Estado".
Na noite da segunda-feira (29), Edmundo González e Maria Corina Machado voltaram a denunciar a existência de "fraude eleitoral" e, desta vez, deram números: supostamente, o candidato de direita teria vencido com mais de 6 milhões de votos.
Eles ainda alegaram estar em posse de 73% das atas eleitorais que comprovariam este resultado e que esses documentos seriam disponibilizados em um site. A página, no entanto, não permite uma consulta ampla aos comprovantes e é impossível checar por conta própria a veracidade da narrativa opositora.
Até às 18h do dia 30 de julho, o CNE, por sua vez, ainda não havia divulgado a totalização das atas. Os números são aguardados por países como Brasil, Colômbia e México para uma posição final sobre o processo.
*Com AFP
Edição: Leandro Melito