Em programa realizado na manhã desta segunda-feira (29), o ex-deputado José Genoíno (PT) criticou a demora do governo brasileiro em se manifestar sobre a vitória de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais da Venezuela desse domingo (28).
“Eu acho que o governo brasileiro já devia ter reconhecido o resultado da eleição do Maduro”, disse em entrevista ao Brasil de Fato.
“A Venezuela está construindo o seu caminho de maneira autônoma, soberana, inclusive é um dos países da América que tem mais eleições, que tem mais consulta, que tem mais organização popular”, destacou
Para Genoíno, a derrota da direita na Venezuela enfraquece o movimento internacional de avanço da extrema-direita, e cobrou respeito à tradição brasileira de não intervenção dos assuntos internos dos países.
“O Brasil tem uma tradição e uma história que não pode ficar se metendo nos assuntos internos desse ou daquele país. Eu acho que ele tem que pensar grande porque o que está em jogo é se nós vamos integrar regionalmente a América do Sul”
O ex-deputado lembrou a troca de declarações entre os presidentes Lula e Maduro, durante o processo eleitoral na Venezuela e pediu foco no objetivo central que fortalecer os veículos regionais e avançar na integração.
“O que está em jogo no projeto na eleição na Venezuela é algo estratégico. Esses problemas de forma, esses problemas de detalhe, não podem cobrir o que está em jogo, que são interesses geopolíticos poderosos para conter um projeto de transformação”, disse Genoíno
Na ocasião, Lula questionou a fala de Maduro sobre um possível banho de sangue da direita no país. Maduro, por sua vez, fez afirmações que questionavam o processo eleitoral do Brasil.
Quem também se somou ao apelo para que o governo brasileiro reconheça o resultado das eleições na Venezuela foi o professor e historiador Valério Arcary.
“Têm responsabilidades o governo Lula. Eu vejo pelas notícias que o [assessor especial da Presidência] Celso Amorim, está exigindo a publicação das atas para dizer que reconhece a vitória do maduro. Nós temos que pedir total transparência mas, ao mesmo tempo, reconhecer que o que está acontecendo é uma campanha política denunciando que há fraude. Esta campanha aconteceria em qualquer circunstância”, destacou.
"Se tivesse ocorrido a fraude, por que não chamaram a mobilização ontem à noite?”, questionou o historiador.
O também historiador e professor Miguel Stedile afirmou que o Brasil pode ajudar a acalmar os ânimos e, inclusive, a aliviar o cenário de sanções que tem prejudicado a população venezuelana. Ele destacou o papel do Brasil na liderança do processo de integração regional, sem o qual os países da região terão dificuldades de encontrar espaço na ordem geopolítica mundial.
“A postura brasileira é fundamental para a gente reconstruir esses projetos de integração. Nessa nova ordem geopolítica que está se construindo, não tem espaço para o Brasil individualmente, não tem espaço para a Venezuela individualmente, não tem para o Uruguai, não tem para a Argentina. A única saída para a América do Sul ou para a América Latina é a participação em bloco”.
Nicolás Maduro, foi reeleito para um novo mandato de seis anos com 51,20% dos votos contra 44,2% do ex-embaixador Edmundo González Urrutia, segundo o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, (CNE).
Edição: Nathallia Fonseca