Representantes da nova geração camponesa do Movimento dos Pequenos Agricultores e das Pequenas Agricultoras (MPA), juntamente com organizações sociais e populares aliadas, estiveram reunidos de 8 a 14 de julho, no distrito de Daltro Filho, em Imigrante (RS). A jornada da Escola Nacional de Formação de Juventude Nega Pataxó recebeu jovens camponeses, estudantes, periféricos e trabalhadores da Amazônia ao Sul do país para definir suas pautas de luta, centrar focos em temas de estudo necessários à compreensão da sua realidade de classe e da conjuntura nacional, bem como pautar os próximos passos da luta pela construção de um novo modelo de agricultura baseado na agroecologia.
No evento, os jovens mergulharam em um processo profundo de formação, reflexão e ação, visando fortalecer a luta do MPA por uma sociedade mais justa e igualitária. A jornada priorizou a formação para continuidade do trabalho com a juventude nos estados; a reflexão sobre as mudanças climáticas que vivemos na atualidade, firmando papel e a tarefa do campesinato e a agricultura camponesa como solução; o avanço da luta contra a extrema direita; assegurar ação concreta de solidariedade da juventude em territórios do RS impactados pela catástrofe climática; afirmar o compromisso da juventude com a construção de um projeto popular para o Brasil; e proporcionar integração e partilha de experiências entre as juventudes.
Na avaliação da integrante da Coordenação Nacional do MPA Ana Isabel Ramalho, de Rondônia, a escola cumpriu as expectativas. Ela destacou a diversidade da juventude, com forte presença das mulheres, e o processo de coordenação assumido pelos mais jovens. “O evento foi maravilhoso pelo empenho e dedicação pessoal da nossa juventude e da coordenação do coletivo nacional na perspectiva de garantir o melhor possível da escola, com presença da diversidade, que nos remete a refletir sobre várias outras questões para efetivar o diálogo com essa geração de jovens”, disse.
Integrante da direção do MPA no RS, Miqueli Schiavon considera que o evento foi importante. Ele destaca os esforços de todos para transferir as atividades para o Rio Grande do Sul neste momento histórico em que o estado passa por um momento de tragédia socioclimática. "Isso tirou o movimento de uma zona de conforto. A vinda da escola pra cá oportunizou o desafio de reorganizar as regiões para retomar um trabalho com bastante força e construir espaços regionais para garantir a realização de encontros regionais, com apoio das direções do MPA."
Julia Furtado, militante do MPA do Rio de Janeiro, parabenizou a união da juventude que a jornada propiciou no Rio Grande do Sul. Ela disse que a crise climática foi tratada com muita seriedade, ao contrário da mídia hegemônica que aborda o assunto de forma abstrata. Outro ponto ressaltado "é o plano camponês que aponta quais alternativas que a gente tem pela frente, contra essa crise que é produto do próprio capitalismo, desse modo de produção do agronegócio". Para a jovem está claro que "a juventude que se reuniu no RS aponta para a agricultura camponesa agroecológica como a solução para superar a crise atual".
Confira abaixo a íntegra do documento final da jornada:
Carta Compromisso da Escola Nacional de Formação de Juventude Nega Pataxó
Daltro Filho, Rio Grande do Sul, 14 de julho de 2024
Hoje, ao finalizarmos esta jornada na Escola Nacional de Formação de Juventude Nega Pataxó, nossos corações transbordam de gratidão, esperança e compromisso. Da Amazônia ao Sul do Brasil, viemos como jovens camponeses, estudantes, periféricos e trabalhadores, unidos pelo desejo de construir um futuro melhor para todos e todas. Durante estes dias, entre os dias 8 e 14 de julho, mergulhamos em um processo profundo de formação, reflexão e ação, fortalecendo nossa convicção na luta por uma sociedade mais justa e igualitária.
A Escola Nacional de Formação de Juventude Nega Pataxó foi mais do que um espaço de aprendizado; foi um encontro de almas dedicadas à transformação social. Nos propusemos a compreender e enfrentar os desafios impostos pelo modelo capitalista de exploração, reafirmando nosso papel como atores políticos na construção de uma nova sociedade. Juntos, refletimos sobre as mudanças climáticas, o avanço da extrema direita e a importância da agricultura camponesa como solução para garantir a soberania alimentar e enfrentar a crise climática.
Durante esta semana, construímos laços de solidariedade e trocamos experiências valiosas. Cada oficina, debate e atividade nos mostrou que a força da juventude está em nossa união e determinação. Reafirmamos nosso compromisso com a construção de territórios emancipados, livres de opressão, e com a luta pela soberania alimentar. A história e o legado de grandes lutadores e lutadoras do povo nos inspiram e fortalecem nossa revolução, baseada no Poder Popular.
Nosso compromisso com a juventude e com os territórios não termina aqui. Saímos desta escola com a missão de continuar o trabalho de formação, organização e luta em nossos estados. Devemos assegurar a continuidade do processo de animação e formação, contribuindo para o avanço da luta contra a extrema direita e garantindo ações concretas de solidariedade. Precisamos estar presentes nos territórios impactados pelas catástrofes climáticas, reafirmando nossa responsabilidade na construção de um projeto popular para o Brasil.
Este é o momento de assumirmos, com ainda mais vigor, nosso papel na construção de uma nova geração camponesa. A luta pela educação pública e contextualizada, pelo direito à terra e à cultura, e pela defesa de nossos territórios deve ser constante. A construção de uma sociedade socialista é o horizonte que nos guia, e para isso, devemos seguir firmes na organização e mobilização de nossa juventude.
Saímos daqui com a certeza de que juntos somos mais fortes. Que cada jovem militante leve consigo o compromisso de transformar sua realidade, inspirando e mobilizando outros jovens em seus territórios. Que nossa luta seja constante, nossas vozes sejam ouvidas e nossa presença seja sentida em cada canto deste país.
Juventude Camponesa: Semeando Solidariedade construindo o Projeto Popular
*Editado a partir de texto original de Camila Borges e Paulo Miranda, publicado no site do MPA Brasil.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira