No dia seguinte ao pleito legislativo que impediu a vitória da extrema direita na França, partidos políticos negociam a formação do novo governo do país. O premiê, Gabriel Attal, teve seu pedido de demissão negado pelo presidente, Emmanuel Macron, que pediu nesta segunda-feira (8) que ele siga no cargo "por enquanto", durante as negociações.
Elas ocorrem porque nenhum partido elegeu 289 deputados - e consequentemente obteve maioria absoluta no Parlamento - para governar sozinho. A coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP) conquistou 182 cadeiras na Assembleia Nacional, a aliança centro-direita de Macron terá 168, e o partido de ultradireita Reagrupamento Nacional (RN) e seus aliados, 143.
Macron afirmou que só nomeará um novo primeiro-ministro após 18 de julho, quando começar o novo período legislativo. O presidente pediu que Attal permaneça no cargo até lá "para garantir estabilidade", levando também em consideração que Paris receberá as Olimpíadas 2024.
O socialista Oliver Faure afirmou que a frente de esquerda deve indicar um candidato a primeiro-ministro "ao longo da semana". Este nome seria escolhido por "consenso ou por votação".
Mas mesmo a coalizão NFP pode enfrentar dificuldades em encontrar um nome que seja aprovado internamente. O deputado líder do partido França Insubmissa (LFI), de esquerda, Jean-Luc Mélenchon, é apontado como um possível nome, embora enfrente resistência de outros setores.
"Teremos de nos comportar como adultos", disse Raphaël Glucksmann, da ala social-democrata da NFP ainda no domingo. Para ele, "dialogar é uma mudança de cultura política" em uma França pouco habituada ao parlamentarismo.
Feito político
As eleições legislativas foram convocadas surpreendentemente por Macron após derrota para a extrema direita nas eleições para o Parlamento Europeu, no começo de junho. No primeiro turno das eleições, no domingo 30 de junho, a ultradireita, representada pelo RN, dava sinais de que poderia eleger maioria suficiente para indicar o novo premiê.
A possibilidade de ser governada pela extrema direita levou a uma grande mobilização no país. Foram feitos inúmeros apelos para o comparecimento nas urnas. A França, que não tem voto obrigatório, registrou neste domingo o maior comparecimento às urnas em eleições legislativas das últimas quatro décadas.
Além disso, para evitar que o RN ocupasse mais cadeiras no parlamento, mais de 200 candidatos de centro e de esquerda se retiraram da disputa para concentrar os votos nos mais bem colocados. Assim, em distritos eleitorais onde havia três candidatos, ficaram apenas dois. Os eleitores contrários à direita concentraram seus votos em uma única opção.
A cientista política francesa Florence Poznanski disse ao Brasil de Fato que a derrota da extrema direita “só foi possível porque houve o processo das desistências”. Ela classifica a estratégia como um difícil feito político.
"Porque se você vota para um candidato de esquerda, você não vai facilmente votar em um candidato macronista. E vice-versa. São blocos políticos realmente distintos. Mas muita gente se mobilizou para impedir o RN”, afirma Poznanski.
E a extrema direita?
Cotada para se tornar a maior força de oposição, a líder do RN, Marine Le Pen, disse que espera chegar ao poder nas próximas eleições, em 2027.
"A maré está subindo. Desta vez não subiu o suficiente, mas continua subindo e, consequentemente, nossa vitória apenas foi adiada", disse ela.
Também nesta segunda, foi lançado o bloco de extrema direita "Patriotas pela Europa", iniciativa do premiê húngaro, Viktor Orbán, com a intenção de se tornar a terceira maior bancada no Parlamento Europeu.
Ela reúne cerca de 30 parlamentares do francês Reagrupamento Nacional, do húngaro Fidesz, do português Chega e do espanhol Vox, além do holandês Partido pela Liberdade. O bloco de extrema direita ficaria atrás do Partido Popular Europeu (PPE, à direita) e dos Socialistas e Democratas(S&D).
*Com AFP
Edição: Rodrigo Durão Coelho