Segundo turno

Racismo, xenofobia e mais poluição: conheça as propostas da extrema direita na França

Discurso presente em programa do partido é radicalizado em candidaturas avulsas com racismo e defesa do nazismo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Cartaz do partido de extrema-direita francês RN com retratos desfigurados do presidente do partido, Jordan Bardella e da presidente do grupo parlamentar do RN, Marine Le Pen - JOEL SAGET / AFP

Fortalecido após o primeiro turno das eleições legislativas na França, o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen e seus aliados podem, segundo as projeções, alcançar uma maioria absoluta de 289 deputados no segundo turno que acontece no próximo domingo (7).

Revelado na segunda-feira (24 de junho), o programa elaborado pelo partido, presidido por Jordan Bardella, de 28 anos, inclui medidas contra imigrantes, discriminação contra o Islamismo e traz uma série de medidas que representam um retrocesso em relação à emergência climática e ao meio ambiente. 

O item do programa que apresenta medidas para "preservar a civilização francesa" que estaria em “declínio”, propõe introduzir uma legislação específica voltada para as "ideologias islâmicas", que classifica como “uma ameaça real de totalitarismo moderno”.

Em relação aos cidadãos migrantes, o programa propõe abrir negociações com os parceiros europeus para restringir a livre circulação de Schengen apenas a cidadãos europeus, assim como endurecer as penalidades para empregadores de trabalhadores ilegais e introduzir, "se necessário, por meio de referendo constitucional",  a prioridade nacional para o acesso às garantias da legislação trabalhista francesa. "Reservar abonos de família para cidadãos franceses e condicionar o acesso a benefícios sociais não contributivos a 5 anos de trabalho na França."

Retrocesso ambiental

O documento do RN deixa claro que deseja abolir o Acordo Verde, vigente na União Europeia, renunciando a algumas de suas políticas, como a proibição da venda de novos carros movidos a combustíveis fósseis em 2035.

Em 2026, a Comissão Europeia é obrigada a revisar sua lei de padrões de CO² para carros e há uma pressão para alterar dos carros com motor de combustão interna após essa data. A mudança ou a abolição da meta, porém, teria que ser adotada por uma maioria qualificada dos estados-membros para se concretizar enquanto uma política do bloco.

Outra proposta do partido em relação aos combustíveis fósseis, necessita de apoio unânime dos estados-membros para ser adotada: a redução do imposto IVA sobre produtos energéticos de 20% para 5,5%. A medida é possível de acordo com a legislação da UE para eletricidade e gás, mas não para combustíveis.   

O RN também quer abolir as Zonas de Baixa Emissão (LEZs) - áreas onde determinados veículos são proibidos, com base nos padrões de poluição estabelecidos na diretiva da UE sobre qualidade do ar ambiente.   

Candidaturas nazistas e xenófobas

A candidata do RN Ludivine Daoudi se classificou para o segundo turno das eleições legislativas depois de obter 19,95% dos votos no domingo (30), no 1º distrito eleitoral de Calvados, na Normandia, mas foi eliminada da corrida eleitoral pelo próprio partido após a circulação de uma foto, nas redes sociais, em que ela está usando um boné nazista. A decisão de retirá-la foi tomada "no nível da sede do RN", disse o chefe da filial local do RN, Philippe Chapron, falando à rádio France Bleu Normandie na manhã de terça-feira (2).

Já o deputado Daniel Grenon, que concorre à reeleição pelo RN fez ataques racistas à ex-ministra da Educação Najat Vallaud-Belkacem, nascida no Marrocos e naturalizada francesa em 1998 que integra a equipe do ex-presidente François Hollande. 

Grenon defendeu a promessa de Bardella de proibir franceses com dupla nacionalidade de ocupar cargos estratégicos no governo, mas foi além: "Magrebinos [imigrantes do norte da África] chegaram ao poder em 2016. Estas pessoas não podem ocupar cargos elevados", disse em um debate realizado em Yonne.

*Com Le Monde e Euractiv

Edição: Leandro Melito