A passagem destrutiva do furacão Beryl pelo Caribe deu início ao que tudo indica será uma intensa e devastadora temporada de furacões no Atlântico. Até o momento, já foram registradas pelo menos nove mortes.
A antecipada e rápida formação do Beryl constitui mais um alarmante sinal das consequências destrutivas das mudanças climáticas. Trata-se da primeira vez, em um momento tão antecipado da temporada, que uma tempestade tropical se transforma em um grande furacão - ultrapassando 210 km por hora. Historicamente, a formação do primeiro furacão na região acontece por volta do dia 11 de agosto.
Beryl também surpreendeu pela velocidade com que se tornou de uma depressão tropical a um grande furacão. Em apenas 48 horas após sua formação, no dia 30 de junho, tornou-se um furacão de categoria 5 na noite de 1º de julho.
Para que os furacões se formem, as temperaturas do oceano precisam estar quentes. Nessa região do Atlântico, isso costumava ocorrer no final de agosto e início de setembro. Entretanto, uma das consequências do aquecimento global tem sido o aumento da temperatura dos oceanos, o que tem acelerado e facilitado a formação de furacões.
"Devastação total"
"É quase como o armagedom, com danos quase totais e a destruição de todos os prédios, sejam eles prédios públicos, residências ou outras instalações particulares", afirmou o primeiro-ministro de Granada, Dickon Mitchell, na noite de terça-feira, depois de visitar as ilhas de Carriacou e Petite Martinique.
As autoridades estimam que 98% dos edifícios das ilhas foram danificados ou destruídos. A rede elétrica e os sistemas de comunicação foram paralisados, enquanto o Princess Royal, o principal hospital de Carriacou, e o aeroporto foram completamente destruídos.
"Tendo visto isso pessoalmente, não tem nada que possa nos preparar para ver este nível de destruição. Devastação total e destruição da agricultura, destruição total e completa do ambiente natural. Literalmente, não há mais vegetação em nenhum lugar da ilha de Carriacou", lamentou.
Durante a coletiva de imprensa, Mitchell acusou as grandes potências de "ficarem de braços cruzados" e exigiu "justiça climática", Ele também afirmou que os países responsáveis pela mudança climática que está afetando o Caribe "permanecem à margem com banalidades e simbolismo".
"Este furacão é um resultado direto da crise climática da qual Granada, o Caribe e outros pequenos Estados insulares em desenvolvimento (SIDS) se encontram na linha de frente. Exigimos e merecemos justiça climática. Não estamos mais dispostos a aceitar que não há problema em sofrer constantemente perdas e danos significativos causados por eventos climáticos e que se espere que tomemos empréstimos e reconstruamos ano após ano, enquanto os países responsáveis por criar a situação ficam de braços cruzados com banalidades e simbolismo. Esse furacão deixou o povo de Carricou e Petit Martinique com anos de atraso e espera-se que eles se recuperem sozinhos. Isso não está certo, não é justo e não é correto."
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Os eventos climáticos extremos afetam todo o planeta. No entanto, são os setores mais pobres da sociedade os mais prejudicados, embora sejam os que menos contribuem para a poluição global, como mostram dados apresentados na 28ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP28, realizada em Dubai, no final de 2023.
Estima-se que os 10% mais ricos da população mundial produzam 50% das emissões globais de gases de efeito estufa, enquanto os 50% mais pobres contribuem com apenas 8% da poluição global.
O mesmo paralelo pode ser traçado entre os países. Cientistas calculam que o país que mais poluiu na história, desde a revolução industrial, são os Estados Unidos, responsável por 24% de todas as emissões de gás carbônico registradas. Já a região que mais poluiu foi a Europa, com 33% das emissões de gás carbônico.
Promessas não cumpridas
Localizada apenas 109 km ao norte de Granada, a destruição em São Vicente e Granadinas também foi semelhante. Em sua mensagem à nação, o primeiro-ministro Ralph Gonsalves declarou que "há centenas de casas em São Vicente que foram severamente danificadas ou destruídas. Os telhados sumiram, os prédios do governo, especialmente as escolas... foram severamente danificados e, é claro, há igrejas".
Em uma entrevista ao Democracy Now! na quarta-feira (3), Gonsalves criticou os poderes constituídos por não cumprirem suas promessas.
"Os países desenvolvidos fazem muitas promessas, mas quase nenhuma delas é cumprida. É por isso que temos furacões cada vez mais intensos e graves, secas e degradação da terra. Esses são todos os lados da mesma moeda, estabelecidos pela ciência", afirmou.
"Não temos justiça climática. As instituições financeiras internacionais não estão se alinhando para ajudar. Agora teremos centenas de milhões de dólares em infraestrutura que teremos de recuperar e reconstruir. Quando você conseguir um projeto ou alguns recursos por meio do Banco Mundial, já terão se passado três ou quatro anos. Até lá, haverá um acúmulo de outros desastres. E, como eu disse, você está subindo a escada rolante. É simplesmente terrível, muito injusto. Mas, mais do que isso, o egoísmo da atual economia política dominante do mundo está nos levando, se não à extinção, a um lugar terrível e inóspito chamado Terra."
Edição: Nicolau Soares