Arte e luta

Exposição em São Paulo homenageia Lélia Gonzalez e 'amefricanidade' das festas populares brasileiras

Mostra é inspirada em livro da pensadora nunca publicado comercialmente e que, agora, ganha nova edição

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Obra de Sérgio Vidal é uma das que compõem a exposição, que marca os 30 anos de morte da filósofa - ©Everton Ballardin

A partir desta quarta-feira (26), a cidade de São Paulo (SP) recebe uma exposição gratuita em homenagem à intelectual e ativista brasileira Lélia Gonzáles. Nascida em Belo Horizonte (MG), no ano de 1935, a filósofa e antropóloga é pioneira na luta contra o racismo e autora referência em temas de raça, classe, gênero e feminismo negro. 

A mostra Lélia em nós: festas populares e amefricanidade, com curadoria de Glaucea Britto e Raquel Barreto, será aberta ao público a partir de quinta-feira (27) e fica em cartaz no Sesc Vila Mariana até 24 de novembro.

O projeto foi inspirado no livro Festas Populares no Brasil, de 1967, única obra que González publicou em vida exclusivamente como autora. O título será relançado pela Boitempo este ano. Por meio de um repertório artístico, que vai da música às artes plásticas, a exposição reverencia a publicação e marca os 30 anos de morte da pensadora.

Da produção autoral da filósofa saiu, por exemplo, a palavra 'amefricanidade'. O termo, que compõe o nome da mostra, busca uma compreensão mais ampla sobre as influências da cultura de povos africanos trazidos à força para o Brasil na identidade do território. 

No livro, ela traz textos sobre o intenso diálogo entre as festas populares brasileiras e as manifestações e simbolismos de regiões africanas. A obra é ilustrada por registros fotográficos e faz uma reflexão importante sobre o poder dessa integração. 

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"As festas afro-brasileiras são o efeito simbólico de um extraordinário esforço de preservação de formas culturais essenciais trazidas de outro continente e que, aqui, foram recriadas sob condições as mais adversas", escreveu Lélia Gonzalez. 

A exposição busca expressar as possibilidades potenciais desse diálogo histórico e em constante movimento, com pinturas, fotografias, vídeos, documentos históricos, objetos, instalações e performances.  

São trabalhos de diferentes períodos e artistas, a exemplo de Alberto Pitta, Heitor dos Prazeres, Januário Garcia, Maria Auxiliadora, Nelson Sargento e Walter Firmo. Além disso, há produções inéditas do Coletivo Lentes Malungas, Eneida Sanches, Lidia Lisboa, Lita Cerqueira, Manuela Navas, Maurício Pazz, Rafael Galante e Rainha Favelada. 

Parte da coleção de discos de Lélia Gonzáles está na mostra. Na lista estão álbuns de Luiz Gonzaga, Tamba Trio, Clementina de Jesus, Jamelão e Lazzo Matumbi. A presença da música na exposição também estará em sonoridades do universo das festas populares e nas intervenções do DJ Machintown e do trombonista Allan Abbadia. 

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Festas populares

O livro Festas Populares no Brasil foi lançado em 1987 como edição especial de distribuição limitada e nunca foi comercializado. Agora, a editora Boitempo publica a obra para circulação ampla pela primeira vez. A nova edição tem prólogo de Leci Brandão, prefácio de Raquel Marreto, posfácio de Leda Maria Martins, texto de orelha de Sueli Carneiro e quarta capa de Angela Davis e Zezé Motta. 

Serviço

O Sesc Vila Mariana fica na Rua Pelotas, 141, no Bairro Vila Mariana, em São Paulo. A abertura da exposição e o lançamento do livro acontecem nesta quarta-feira (26), às 19h. Os dias e horários de visitação, a partir de 27 de junho, são de terça a sexta, das 10h às 21h; aos sábados, das 10h às 20h e aos domingos e feriados, das 10h às 18h.  

Edição: Martina Medina