Uma "chave para recuperar a ética na política", é dessa maneira que as organizadoras do livro A Radical Imaginação Política das Mulheres Negras Brasileiras definem o objetivo da obra, que reúne textos de pensadoras pretas significativas para o Brasil.
Entre as autoras estão nomes como: Áurea Carolina, Benedita da Silva, Marielle Franco, Leci Brandão, Talíria Petrone e Lélia Gonzalez. As reflexões transitam por diversas áreas. Em artigos, entrevistas e projetos de lei há soluções, caminhos e debates sobre saúde, direitos reprodutivos, violência, cultura, justiça ambiental, entre outras.
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Embora a coletânea traga reflexões de nomes específicos e simbólicos, o principal aspecto que compõe a narrativa é o da coletividade. Os escritos expõem visões críticas e propostas de soluções para problemas históricos, a partir de um ponto de vista único e que tem contato direto com a desigualdade no cotidiano.
A socióloga Ana Carolina Lourenço, uma das organizadoras do livro, explica que há um denominador comum, a reflexão sobre a raiz dos problemas: "Tem uma característica muito transformadora nesses textos".
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Ela conta que o projeto dá espaço também para ideias que não avançaram quando propostas. Mesmo que tenham "perdido na arena pública", as reflexões ainda representam possibilidades de avanço para os dias atuais.
"Esse é um repositório criativo, inovador e a gente pode se voltar a ele, porque ali tem respostas, soluções para saída da crise social, política e econômica que a gente está vivendo hoje. É um pouco de inspiração, de capacidade de transformação e de mudança", reflete a socióloga.
Origem
Segundo Ana Carolina Lourenço, a ideia do livro nasceu da percepção de que o ativismo das mulheres negras passou a acontecer cada vez mais nos espaços da política institucional nos últimos anos.
Embora a representatividade ainda seja pequena e enfrente desafios histórico, não há dúvidas de que há um reforço no caminho para ocupação desses espaços. Ana Carolina cita a Marcha Nacional de Mulheres Negras (2018) e a eleição de Talíria Petrone e Marielle Franco (ambas do Psol), como exemplos.
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"A ideia principal é fortalecer e visibilizar essas narrativas. O ativismo das mulheres negras sempre disputou a política institucional. A baixa representatividade não é fruto da falta de disputa, é fruto de uma série de problemas estruturais. A nossa história em torno da política e da condução do estado é uma história longeva".
Junto com Ana Carollina no projeto, está a ativista Anielle Franco, irmã de Marielle. A vereadora - assassinada em 2018 em um crime político até hoje sem resposta - está presente no livro, que traz um projeto de lei de autoria dela estabelecendo diretrizes para a criação das Casas de Parto na cidade do Rio de Janeiro.
Nas páginas finais do livro, as organizadoras pontuam, "as mulheres negras podem ser as agentes de um verdadeiro processo de transformação e reconstrução da sociedade brasileira".
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Para Ana Carolina e Anielle, as vozes apresentadas rejeitam uma sociedade que não valoriza o essencial para a vida. As respostas e soluções empreendidas pelas mulheres negras para as crises social, política e econômica têm muito a ensinar.
"Ao acessar esta radical imaginação política, a crise em vez de nos forçar a pisar no freio, pode, deve nos inspirar à mudança", concluem.
O livro Radical Imaginação Política das Mulheres Negras Brasileiras foi publicado em parceria entre as organizações Fundação Rosa Luxemburgo, Mulheres Negras Decidem e Instituto Marielle Franco, com edição da Oralituras.
Para acessar a publicação gratuitamente, clique aqui.
Edição: Rebeca Cavalcante