A vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, disse que o Brasil está convidado para observar as eleições venezuelanas e espera que o país envie representantes. A declaração foi feita ao Brasil de Fato depois do Seminário Internacional de Desenvolvimento Econômico 2024 realizado em Caracas.
“Haverá centenas de observadores internacionais na Venezuela. O mundo inteiro está convidado. Quem não está convidado é porque não respeita a soberania da Venezuela, que são poucos no mundo. É um Ocidente cada dia menor e excluído do mundo novo que está surgindo. O Brasil está convidado, estará aqui”, disse ao Brasil de Fato.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda não respondeu ao governo da Venezuela se vai enviar observadores para acompanhar as eleições de 28 de julho no país. Apesar de jornais brasileiros terem noticiado a decisão do órgão eleitoral brasileiro de não enviar representantes, o Brasil de Fato apurou que o martelo ainda não foi batido e a confirmação oficial não foi enviada.
Em março, o CNE anunciou ter convidado a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), Comunidade do Caribe (Caricom), União Africana, União Europeia, especialistas da ONU, Brics e o Centro Carter dos Estados Unidos para observar as eleições de 28 de julho na Venezuela.
Dois meses depois, no entanto, o órgão eleitoral venezuelano cancelou o convite para a União Europeia. A decisão foi tomada depois que o bloco europeu anunciou o aumento da validade das sanções contra a Venezuela até 10 de janeiro, data da posse do presidente eleito.
Delcy também comentou a escolha do ex-embaixador Edmundo González Urrutia de não assinar o acordo firmado entre os candidatos para respeitar o resultado das eleições. O candidato da Plataforma Unitária está sendo apoiado pela ex-deputada ultraliberal María Corina Machado, que está inabilitada por 15 anos pela Justiça venezuelana. Dos 10 candidatos, 8 estiveram no evento. Somente Urrutia e Enrique Márquez, do partido Centrados, não assinaram.
Segundo Delcy Rodríguez, quem não assinou o documento deu um sinal sobre o que pensa da paz no país.
“Ontem o presidente Nicolás Maduro, que é candidato, disse que estava assinando aquele documento pela paz da Venezuela. Os que estão se somaram a essa medida querem a paz no país. Esse país quer tranquilidade. [Porque ele não assinou] é algo que tem que ser perguntado a ele”, afirmou.
A vice realizou dois discursos no evento realizado em Caracas. Ela disse que o país está "prestes" a entrar no Brics+. De acordo com Delcy Rodríguez, o tamanho das reservas de petróleo venezuelano pode mudar a posição do bloco na geopolítica global e “tem muito a oferecer” para os países que compõem o grupo.
“Estamos prestes a entrar no BRICS com potencial. Quais são os potenciais da Venezuela? Não só sabemos disso, como sofremos, porque é isso que torna a Venezuela tão atraente para os centros hegemônicos do norte global. As maiores reservas energéticas do planeta estão na Venezuela. Se tivéssemos níveis de produção de 3 milhões de barris por dia, por exemplo, [ainda assim] levaríamos quase três séculos para esgotar nossas reservas", disse Delcy Rodríguez.
A fala da vice-presidente foi feita durante a abertura do “Seminário Internacional de Desenvolvimento Econômico 2024: Transformação Econômica em um Novo Contexto Global”, realizado em Caracas. O evento contou com a participação de especialistas e agentes econômicos de diferentes países.
Segundo Delcy, a participação da Venezuela no grupo aumentaria as “reservas energéticas” do bloco para 35% das reservas mundiais. De acordo com a vice venezuelana, o país tem a 4ª maior reserva de gás e de ouro do mundo, a 6ª maior de de diamante e a 8ª de ferro. Por isso, ela reforçou a importância da articulação com outros países do chamado Sul Global e do combate às sanções impostas pelos EUA e União Europeia contra a Venezuela.
“A mudança está na ordem econômica internacional, em que o crescimento significará maior procura de energia. É por isso que vemos humildemente a importância da Venezuela e a razão da agressão ilegítima contra o país”, afirmou.
Ela também criticou o que chamou de “roubo de intelectuais” por meio da migração. De acordo com ela, agências internacionais coordenaram a saída de trabalhadores especializados em engenharia, medicina e advogados para depois massificar a saída de venezuelanos.
Nos dois dias de apresentação, palestrantes de Colômbia, Brasil, Argentina, China e outros países falaram sobre a queda no uso de dólares nas transações internacionais e o uso de outras moedas para o comércio entre países asiáticos, sul-americanos e africanos.
Edição: Rodrigo Durão Coelho