Daniel Jadue, prefeito comunista da cidade chilena de Recoleta, está preso desde o início do mês por desafiar o monopólio e o poder das grandes empresas farmacêuticas, segundo lideranças da América Latina e Espanha. As declarações foram dadas ao Brasil de Fato durante o seminário Poder e Prosperidade em um Mundo Multipolar, realizado na Unicamp nesta quinta-feira (20).
Jadue foi acusado de suborno, administração desleal, fraude fiscal e fraude na gestão das farmácias populares, que promoveu como alternativa de baixo custo às redes comerciais.
"Desde o primeiro momento em que soubemos que ele se envolveu com as empresas farmacêuticas, sabíamos que ele estava em risco", disse Andres Arauz, ex-ministro e ex-candidato à Presidência do Equador.
"Minha total solidariedade com Daniel Jadue, acho que ele foi um prefeito que fez um bom trabalho, também nos processos de transparência dos preços reais dos produtos farmacêuticos, e há muitas pessoas que ainda estão sendo perseguidas por isso."
A dirigente cubana Mariela Castro, ativista fundadora e líder da Federação das Mulheres Cubanas, filha de Raul e sobrinha de Fidel Castro, concorda, afirmando que "essa é outra expressão de como os interesses corporativos, especialmente as empresas farmacêuticas, lucram desproporcionalmente com o preço dos medicamentos, que é uma necessidade humana básica".
"Os governos não têm conseguido regular os preços, porque a presença desses laboratórios, que são transnacionais, pesa muito na esfera econômica e política", disse ela.
Para o deputado espanhol e ex-vice-prefeito de Barcelona, Gerardo Pisarello, o caso de Jadue "é terrível" porque, mesmo sem provas, ocorreu por causa de uma campanha midiática de difamação, da mesma forma que acontece em outras partes do mundo. "Mas o caso de Jadue é muito mais sério, porque eles decretaram a prisão preventiva de um prefeito porque ele defendia as farmácias populares", disse ele.
Mariela Castro diz que cabe aos governos limitar o poder destas empresas transnacionais. "Teriam que ser criadas leis para estabelecer esses limites. E mais populações devem ser protegidas para que não lucrem com sua saúde, não só com o preço dos hospitais, quando não conseguem garantir uma boa saúde pública, mas também com o preço dos medicamentos em nível internacional e nacional."
"Eles [farmacêuticas} são das corporações mais lucrativas que existem no momento. E muitos desses laboratórios são israelenses", ressalta ela, mencionando o movimento global que pede boicote a empresas israelenses por causa do genocídio cometido atualmente pelo governo do país contra a população palestina na Faixa de Gaza.
Entenda o caso de Daniel Jadue
A Justiça chilena ordenou no dia 3 de junho a prisão preventiva de Daniel Jadue, ex-candidato presidencial e uma das maiores figuras do Partido Comunista, que faz parte da coalizão do governo.
Segundo a juíza Paulina Moya, que pediu a prisão conforme solicitado pelo Ministério Público, a liberdade de Jadue seria “perigosa para a segurança da sociedade”. “Julgam-me por nossa gestão transformadora. (...) Vamos recorrer desta medida desproporcional!”, reagiu ele na rede social X. Sua defesa alega que o caso configura perseguição política.
Além das farmácias populares, a gestão de Jadue na prefeitura de Recoleta é marcada também pela popularização dos serviços de óticas, livrarias e imobiliárias por meio do estímulo municipal, assim como uma política de escolas e universidades abertas.
"É um sinal claro e contundente de que, quando ousamos propor um modo de vida diferente, que se oponha aos desvalores da acumulação, do egoísmo e da desapropriação do sistema capitalista e neoliberal, é o mesmo sistema e suas ferramentas comunicacionais e jurídicas que são ativadas para impedi-lo a todo custo", afirma o vice-presidente do Partido Popular do Chile, Juan Pablo Sanhueza.
"Daniel Jadue é o aviso do que está por vir para qualquer projeto de transformação no Chile e no mundo", disse ele.
Mais de mil personalidades chilenas assinaram uma carta que enfatiza “a falta de provas concretas" contra Daniel Jadue. "As acusações não são apenas infundadas, mas também representam um uso indevido de recursos legais contra uma figura política” e aponta que “não há bases sólidas para formalizar qualquer acusação por qualquer um dos crimes pelos quais ele é acusado”.
Edição: Rodrigo Durão Coelho