Apesar do plano de cessar-fogo aprovado na última segunda-feira (10) no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), o conflito entre Israel e Hamas pode não ter trégua tão cedo. A proposta foi apresentada pelos Estados Unidos e recebeu 14 votos favoráveis, nenhum contrário e contou com a abstenção da Rússia.
O Hamas declarou que aceita o plano. Não houve manifestação por parte de Israel, mesmo com a previsão, em uma das fases do plano, da libertação de reféns sequestrados pelo Hamas. O país segue efetuando ataques contra civis na Faixa de Gaza.
Há dúvidas sobre como seria o processo de libertação dos reféns, como explica Fernando Brancoli, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
"O problema maior dessa tentativa de cessar-fogo diz respeito a convencer as partes não só na Palestina como dentro de Israel. Israel está numa crise interna política também. A coalizão que sustenta o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está esfacelada. Então, nem dentro de Israel há uma concordância sobre o que deve ser feito dentro desse tipo de lógica", conta.
"O ponto central diz respeito aos reféns, tanto do lado israelense como da Palestina: há pessoas presas, há pessoas sequestrados e há uma discussão de como seria feita a entrega das pessoas, em que cargos, quem faria a mediação desse processo."
Apesar dos Estados Unidos se colocarem como mediador do conflito junto com Egito e Catar, o país não conseguem ser entendido como negociador de fato, diz Brancoli.
"Quem continua sofrendo é a população civil, enquanto o cessar-fogo não sai, enquanto a gente não tem uma tentativa de mediação. Ficam essas discussões de que dia vai entregar o refém, em quais termos, mas não se adianta. E aí efetivamente há mais de 40 mil mortos em Gaza, mais de 1,2 mil mortos em Israel, a tragédia continua", pontua o professor.
Nesta quarta-feira (12), o secretário de estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, confirmou haver dificuldade para diálogos avançarem e declarou que o Hamas propôs mudanças no plano de cessar-fogo – não foram divulgadas quais. O Hamas, no entanto, negou ter exigido alterações na resolução sobre a trégua em Gaza.
O professor da UFRJ lembra que Netanyahu já declarou algumas vezes que não quer acabar com a guerra até a completa destruição do Hamas. Seria também uma forma de escapar de possível culpa pelo início do conflito.
"Dados do Departamento de Estado dos Estados Unidos – ou seja, não é, definitivamente, um grupo pró-Palestina – mostram que, desde outubro, cerca de 20% a 30% do Hamas foi destruído. Então, imagina, após essa destruição completa em Gaza, a gente tem pelo menos 70% da força do Hamas intacta ainda funcionando. A ideia de que o Hamas pode ser completamente destruído, nas palavras dos Estados Unidos, é inverossímil", defende.
"Vai ter que adaptar, ou pelo menos encontrar uma forma de adaptar, o que vai ser esse objetivo que não seja destruição completa do Hamas, mas pelo menos a criação de estruturas para contê-lo no que diz respeito a Israel e obviamente a garantia de que itens básicos e de uma vida minimamente normal possa chegar aos palestinos em Gaza."
A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta quarta-feira (11) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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Edição: Thalita Pires