Na última segunda-feira (11), Pablo Marçal (PRTB), coach e pré-candidato à prefeitura de São Paulo, participou de uma sabatina realizada pelo canal bolsonarista Bradock Show, no YouTube. A previsão era que o tema da entrevista girasse em torno das ideias e propostas de Marçal para a capital paulista. No entanto, os entrevistadores exploraram apenas pautas amplas, que serviram para o coach marcar seu perfil ideológico.
Marçal também rasgou elogios ao deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro do Meio Ambiente do governo de Jair Bolsonaro (PL), que estava entre os entrevistadores, ao lado do blogueiro Rodrigo Constantino.
Salles chegou a ser cotado como possível pré-candidato do PL à Prefeitura de São Paulo. No entanto, Valdemar da Costa Neto, presidente da sigla, e Bolsonaro escantearam o deputado federal e decidiram apoiar o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), que tentará a reeleição. Caberá ao partido, agora, indicar o vice na chapa.
Para Marçal, o PL errou. "Salles, com todo o respeito, eu não sei o que você fez para ser preterido. Eu já sei que o Nunes não vai aceitar o coronel [Mello Araújo] como vice, peço que o Bolsonaro retifique essa decisão e coloque você como candidato. Eu não te vejo como concorrente, tem que ter um cara aguerrido e forte como você, um ser extremamente inteligente."
Salles cobrou de Marçal uma posição sobre o espectro político que defende. "Se for só pra gente acabar com a discussão, eu sou de direita. Vamos pensar se quem está passando fome, se ela quer saber o que é esquerda ou direita", respondeu o coach.
Valorizando o passe?
Guilherme Boulos (Psol), também pré-candidato à prefeitura da capital paulista, afirmou que Marçal se colocou como candidato para negociar a sua saída do pleito e apoio a Nunes. Em entrevista ao Brasil de Fato, o cientista Rudá Ricci foi pelo mesmo caminho. "A entrada do Marçal mostra que o mercado eleitoral de direita está disputado e dividido. Se você é um partido de direita, que de certa maneira flerta com o eleitorado bolsonarista, você precisa fazer discussão de fundo (eleitoral) para não rachar. Se eles estão rachando, é porque eles fizeram pesquisas e sabem que o Nunes não tem fôlego", afirmou.
"Aí começam a surgir candidatos para vender apoio, que é algo que a direita sempre fez em São Paulo, do Paulo Maluf ao Celso Russomano. Depois, você retira a candidatura e garante o apoio e dinheiro para o seu partido", explicou Ricci.
Durante a entrevista, Marçal desmentiu a tese. "Eu não vou arregar, não vou ser vice de ninguém e não vou vender minha candidatura, o Boulos está produzindo fake news falando que vou vender candidatura. Eu entrei com seriedade."
Perguntado sobre o que faria pela liberdade de expressão, o coach disse que "seria muito bom o Brasil ser como antigamente, coronelismo e cada um fala o que quer". Também foi indagado sobre as enchentes no Rio Grande do Sul e sobre vacinas. Disse que se vacinou apenas para entrar nos Estados Unidos e não fechou suas empresas durante o período de isolamento social na pandemia de covid-19.
No único momento em que Marçal tentou falar da política em São Paulo, atacou Boulos. "Eu quero ser o futuro de São Paulo, mas tem uma peste no meio do caminho, tem um sedutor no meio do caminho."
Por fim, o pré-candidato alfinetou a pauta do encontro. "É uma pena não termos discutido a cidade de São Paulo. Na próxima vez, me chama para falar de São Paulo."
Marçal, o bolsonarista
Diante da aliança tímida entre Ricardo Nunes e Jair Bolsonaro, setores do PL pressionam Valdemar da Costa Neto para que Pablo Marçal ganhe o apoio do partido e dos bolsonaristas.
A campanha ganhou força após a divulgação das pesquisas da AtlasIntel e Datafolha, divulgados no dia 29 de maio deste ano, que mostram Marçal com 10,4% e 7%, respectivamente, na corrida eleitoral pela Prefeitura de São Paulo.
Na última quarta-feira (5), Marçal se encontrou com Jair Bolsonaro, em Brasília. "Almoçamos juntos e não pedi nada ao Bolsonaro. Todavia, tomei conselhos importantes que irei seguir. Em breve, teremos você novamente guiando essa nação", contou Marçal em suas redes sociais.
O deputado federal Luciano Zucco (PL-RS) publicou vídeos acompanhando Marçal em sua passagem por Brasília. O fato gerou desconfiança de que ele teria intermediado o encontro, mas Zucco nega.
Fábio Wajngarten, advogado de Bolsonaro e principal fiador da aliança entre o ex-presidente e Nunes, não gostou do encontro. O bolsonarista se tornou um desafeto de Marçal. Em suas redes sociais, publicou o texto de um de seus seguidores atacando o coach.
"Marçal é um movimento impulsionado pelo MBL, trata-se de mais uma ação para usar o bolsonarismo e depois descartá-lo como papel higiênico". Ao republicar o texto, Fábio Wajngarten escreveu: "Perfeito."
Diante da ascensão de Marçal entre os eleitores da direita, Nunes e sua equipe devem abrir espaço para Bolsonaro e seus seguidores na agenda nas próximas semanas. A definição sobre o nome do vice na chapa com o atual prefeito pode andar mais rapidamente.
Hoje, os principais nomes são do ex-presidente da Ceagesp, Ricardo Mello Júnior e a vereadora Sonaira Fernandes (PL). Nunes não gostou dos nomes indicados e tem tentado negociar com Bolsonaro outras indicações.
Edição: Thalita Pires