A Associação de Mulheres Indígenas Organizadas em Rede (Amior) entregou, na última terça-feira (4), uma carta à ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, denunciando as violências de gênero que ocorrem nas Terras Indígenas (TI) do Paraná.
O documento foi entregue durante a visita da ministra à Terra Indígena Rio das Cobras, em Novas Laranjeiras, região Centro-Sul do estado, como parte das atividades da 2ª Jornada da Natureza. No texto, a Amior solicita atenção imediata às questões que afetam os territórios indígenas no Paraná, causando sérios problemas, especialmente para mulheres e crianças.
:: Feminicídio indígena cresce 500% em 10 anos; Paraná está acima da média nacional ::
Realidade indígena no estado
O Paraná abriga atualmente 31.460 indígenas autodeclarados, conforme o Censo 2023. Desses, 13.887 (45,59%) vivem nos 38 territórios indígenas em diferentes estágios de regularização. Esses territórios são habitados por diversos povos, incluindo Kaingang, Guarani M’byá, Guarani Nhandeva, Awá Guarani, Guarani Kaiowá, Xetá, Xokleng, além de alguns Terenas e outras etnias provenientes de outros estados.
A carta destaca que, embora as mulheres indígenas desempenhem um papel central nas relações comunitárias, elas ainda são minoritárias em funções de liderança e em espaços decisórios. As relações de poder nesses territórios têm colocado as mulheres em situações de risco e vulnerabilidade. As violências relatadas incluem abuso infantil, estupros coletivos, casamentos forçados, retirada de filhos, prisão e expulsão.
A Amior também aponta que, na mesma medida em que crescem as violências contra as mulheres, aumentam os desmatamentos e arrendamentos dentro dos territórios indígenas. A carta ressalta a grave ameaça do agronegócio às terras indígenas e o impacto dessas ações sobre toda a comunidade.
"O que buscamos é ressaltar a grave ameaça do agronegócio dentro das terras indígenas e o reflexo dessas ações no povo como um todo. Auxilie-nos neste grito de socorro e que sua presença e fala venham trazer a responsabilidade dessas lideranças, que são somentes homens, [...] que possuem uma clara linha de atuação política em favor doagronegócio dentro dos nossos territórios", pede a carta entregue à ministra.
A Amior expõe no documento a íntima relação da violência de gênero e do desmatamento, uma vez quesão as mulheres as responsáveis pela manutenção de uma cultura tradicional que é ligada à floresta, este é o grupo mais vulnerável às violências praticadas pela negociação das TI em benefício do agronegócio.
"As meninas indígenas, desde a mais tenra idade, estão sob grave ameaça dentro dos territórios indígenas. Essas ameaças já não vêm mais de fora de suas próprias comunidades, mas na maioria das vezes de dentro da própria família ou das lideranças da aldeia", alerta a Amior.
A Associação solicita a escuta de suas denúncias e a investigação dos crimes que relatam no documento. Além de ser entregue pessoalmente à ministra, a carta também foi protocolada em outros quatro ministérios: Ministério dos Povos Indígenas, Ministério dos Direitos Humanos, Ministério da Saúde e Ministério da Mulher.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Pedro Carrano