manifesto

Artistas, intelectuais e líderes políticos pedem a Lula o rompimento de relações com Israel

Documento trata ações em Gaza como 'carnificina insuportável', e é assinado por representantes da comunidade judaica

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Luta Palestina pela independência é histórica; população sofre com o massacre promovido por Israel em Gaza desde início de conflito em 7 de outubro - Foto: Thomas Coex/AFP

Um grupo de dezenas de artistas, intelectuais, líderes políticos e juristas assinou um manifesto conjunto pedindo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o rompimento das relações diplomáticas do Brasil com Israel, em meio ao que chamaram de "carnificina insuportável" nos territórios palestinos. O documento conta, inclusive, com assinaturas de representantes da comunidade judaica no Brasil, como Anita Leocádia, filha de Olga Benário Prestes; o jornalista Breno Altman e o professor Bruno Huberman.

"Estamos convencidos, querido presidente, que é hora de nosso país se juntar às demais nações que romperam relações diplomáticas e comerciais com o Estado de Israel, exigindo o cumprimento das decisões que colocam fim ao genocídio e garantem a autodeterminação do povo palestino", diz trecho do documento, que foi divulgado pela colunista Monica Bergamo, da Folha de S. Paulo.

O texto é assinado por artistas de renome, como Chico Buarque, Gilberto Gil e Emicida; por intelectuais e escritores, como Jessé Souza e Raduan Nassar; lideranças políticas, como José Genoíno, José Dirceu e João Pedro Stedile; e juristas, como Carol Proner e Pedro Serrano, que, pelas redes sociais, reiterou repúdio aos "crimes do Hamas", mas destacou a necessidade de pressão internacional para interromper os ataques israelenses ao povo palestino. 

O manifesto foi divulgado poucos dias após o bombardeio israelense a um campo de refugiados montado em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, que causou pelo menos 45 mortes e deixou centenas de feridos. O ataque, que deixou crianças, mulheres e idosos carbonizados, causou indignação na comunidade internacional.

"Recentes ataques contra um acampamento de deslocados em Rafah, no sul de Gaza, com dezenas de inocentes assassinados, demonstram claramente inaceitável desprezo à ética humanitária", aponta o manifesto, que está disponível na íntegra no fim deste texto.

Ainda nesta semana, Lula sinalizou uma deterioração nas relações bilaterais entre Brasil e Israel ao retirar de forma definitiva o embaixador brasileiro no país, Frederico Meyer. Não houve indicação de um substituto, e a representação diplomática brasileira em território israelense será liderada pelo chefe de negócios, o que indica um afastamento entre os Estados.

Leia o manifesto na íntegra:

Carta aberta ao presidente Lula sobre o genocídio do povo palestino

Estimado presidente Lula,

Antes de mais nada, queremos saudá-lo por seu comportamento sempre firme e coerente em solidariedade ao povo palestino, denunciando reiteradamente o genocídio do qual é vítima, especialmente suas mulheres e crianças.

O Brasil tem apresentado seguidas propostas para o cessar fogo na Faixa de Gaza e a solução de dois Estados estabelecida por resoluções internacionais. Graças ao seu governo, somos uma das nações que reconhecem, no âmbito das Nações Unidas, a soberania e a independência da Palestina.

No entanto, a crescente violência imposta pelo governo Netanyahu, com ataques desumanos e cruéis contra civis, obriga o mundo a ir além de gestos e propostas diplomáticas, como já debatem diversos países da União Europeia e outras regiões.

O governo Netanyahu viola abertamente deliberações emanadas da Corte Internacional de Justiça, colocando-se à margem do direito, além de desrespeitar o Conselho de Segurança e a Assembleia Geral da ONU.

Recentes ataques contra um acampamento de deslocados em Rafah, no sul de Gaza, com dezenas de inocentes assassinados, demonstram claramente inaceitável desprezo à ética humanitária.

Estamos convencidos, querido presidente, que é hora de nosso país se juntar às demais nações que romperam relações diplomáticas e comerciais com o Estado de Israel, exigindo o cumprimento das decisões que colocam fim ao genocídio e garantem a autodeterminação do povo palestino.

Essas medidas, adotadas por nosso país e sob uma liderança de sua envergadura, certamente serviriam de exemplo a outros governos e constituiriam uma imensa contribuição para que se encerre essa carnificina insuportável.

Amanda Harumy
Anita Leocadia Prestes
Antônio Carlos de Almeida Castro
Arlene Clemesha
Berenice Bento
Breno Altman
Bruno Huberman
Carol Proner
Cézar Brito
Chico Buarque
Eleonora Menicucci de Oliveira
Emicida
Eugênio Aragão
Francirosy Campos Barbosa
Gilberto Gil
Heloísa Vilela
Jamal Suleiman
Jessé Souza
João Pedro Stédile
Jones Manoel
José de Abreu
José Dirceu
José Genoíno
Juliana Neuenschwander
Juarez Tavares
Kenarik Boujikian
Larissa Ramina
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Luiz Carlos da Rocha
Manoel Caetano Ferreira Filho
Manuella Mirella
Margarida Lacombe
Marly Vianna
Milton Hatoum
Nathalia Urban
Ney Strozake
Paulo Borba Casella
Paulo Nogueira Batista Jr.
Paulo Sérgio Pinheiro
Paulo Vannuchi
Pedro Serrano
Reginaldo Nasser
Salem Nasser
Ualid Rabah

Edição: Geisa Marques