Sem licitação

Deputada do PT aciona Ministério Público questionando parceria do governo do RS com empresa Alvarez & Marsal

A empresa estadunidense que vende consultoria após tragédias foi anunciada para atuar na reconstrução do RS

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Rua da Praia, no centro da capital gaúcha, após recuo das águas do Guaíba - Foto: Rafa Dotti

A deputada estadual Laura Sito (PT) acionou o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) para que seja investigada a cooperação entre o governo gaúcho e a empresa estadunidense Alvarez & Marsal.  

O governo de Eduardo Leite (PSDB), seguindo a iniciativa tomada pouco antes pelo prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), anunciou uma parceria para que a consultora atue na reconstrução do estado, devastado pelas chuvas.  

Segundo informou à imprensa o secretário estadual extraordinário de apoio à reconstrução, Pedro Capeluppi, a Alvarez & Marsal deverá contribuir no mapeamento de moradias, escolas, hospitais e infraestrutura que precisarão ser refeitos. De acordo com o anúncio, a empresa trabalhará pelos próximos 30 dias “sem ônus”.  

Entre consultorias já vendidas pela Alvarez & Marsal para a gestão pública após catástrofes, estão os serviços prestados para o estado de Louisiana, nos Estados Unidos, depois da passagem do furacão Katrina.  

A gentrificação da região central e a privatização da educação pública na capital Nova Orleans, com a demissão de sete mil professores de escolas públicas, é um dos legados deste processo de reconstrução da cidade estadunidense. 

Em documento protocolado neste domingo (19), Sito alega que a parceria entre os entes públicos e privados no Rio Grande do Sul não consta no Diário Oficial.  

A deputada, que preside a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do RS, questiona por qual motivo que, por estar prestando um serviço público, ainda que de forma não onerosa, a empresa não deve estar sujeita ao controle externo da administração pública. 

“A Lei 14.133/2021, em seu art. 72, coloca o rol de documentos exigíveis para a contratação direta pela administração, em casos de inexigibilidade e de dispensa de licitação. Não conseguimos localizar essa documentação por parte da empresa, que já estaria atuando em solo gaúcho”, diz o documento entregue ao Ministério Público. 

A deputada argumenta, ainda, que a única exceção para que contratações diretas não constem no Portal Nacional de Contratações Públicas no prazo de 10 dias, é quando se trata de urgência. “Porém, como desconhecemos o conteúdo do contrato e a prefeitura referiu ser para ‘reconstrução’, não se pressupõe a urgência, tendo em vista que sequer baixou a água das enchentes”, diz Laura Sito, no documento. 

“Sabemos que são em momentos delicados como o que estamos vivendo que muitas empresas e instituições aproveitam para lucrar. São bilhões que estão sendo anunciados, por isso é preciso estarmos atentos. Queremos transparência”, afirmou Sito. 

O Brasil de Fato pediu posicionamentos para a Alvarez & Marsal e para o governo do Rio Grande do Sul e não teve respostas até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto e o texto será atualizado caso haja retorno.  

Edição: Matheus Alves de Almeida