Mais de 100 mil palestinos deixaram a cidade palestina de Rafah na Faixa de Gaza, desde que Israel intensificou os ataques na fronteira com o Egito esta semana. As informações são da agência para refugiados palestinos da ONU, UNWRA.
Segundo a agência de notícias Reuters, os tanques israelenses se deslocaram para a estrada principal que divide o leste e o oeste de Rafah, cercando efetivamente o leste da cidade. Moradores citados pela agência relataram que explosões contínuas e troca de tiros podem ser ouvidas no leste e nordeste da cidade.
Principal aliado político e econômico de Israel, os Estados Unidos se posicionaram contra a invasão de Rafah O presidente Joe Biden deixou claro que essa operação israelense não conta com o apoio de Washington e suspendeu o envio de 3.500 bombas para evitar que armas americanas sejam usadas na cidade.
Em resposta, o principal porta-voz das Forças Armadas de Israel, Daniel Hagari, disse na quinta-feira (9) que o Exército israelense teria munição suficiente para invadir Rafah e realizar "outras operações já planejadas".
Membro da OMS é atingido
O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que um membro da organização, sua esposa e um filho ficaram feridos em um ataque aéreo que destruiu sua casa em Rafah na quarta-feira. A sobrinha de sete anos do membro da equipe foi morta, escreveu o chefe da OMS no X.
"Este é outro exemplo devastador de como a situação é insegura em Rafah e em toda a Faixa de Gaza", escreveu Tedros. "Pedimos a proteção de todos os trabalhadores humanitários e de todos os civis. Pedimos um cessar-fogo".
Na terça-feira (7), a OMS alertou que a iminente operação militar israelense na cidade palestina de Rafah deve ser interrompida imediatamente para não colocar em risco a vida de 1,5 milhão de palestinos, incluindo cerca de 600 mil crianças. O alerta foi feito pelo diretor regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Mediterrâneo Oriental, Hanan Balkhy.
Cada vez mais perto
Nas primeiras horas da terça-feira (7), Rafah recebeu intensos bombardeios de Israel e a passagem pela qual entram mantimentos para outras parte de Gaza foi fechada por tanques, no que parece ser um passo em direção a uma operação militar em grande escala. O termo é eufemismo usado por Israel para o massacre que, desde outubro, já matou quase 35 mil palestinos.
O bloqueio da entrada de Rafah ocorreu horas depois de o Hamas afirmar que aceitaria a proposta de cessar-fogo negociada por medidores de Egito e Catar. Israel, entretanto, disse que que a proposta estaria "longe das exigências essenciais".
Contexto
O atual massacre israelense na Faixa de Gaza começou em outubro do ano passado, mas as condições no território palestino já eram consideradas "sufocantes" pela ONU antes disso.
O bloqueio israelense de 17 anos — para obrigar o Hamas, partido que ganhou as eleições palestinas em 2006, a abdicar do poder — gerou taxas de desemprego de 45% e insegurança alimentar que atingia 64% da população. A ONU calculava que mais de 80% dos moradores de Gaza dependiam de ajuda externa para sobreviver.
Em 7 de outubro, integrantes do Hamas ingressaram em Israel e realizaram o ataque mais violento já sofrido pelo país, deixando cerca de 1,2 mil mortos e capturando 240 reféns. A resposta do governo Netanyahu foi considerada desproporcional pela comunidade internacional. Bombardeios diários no que é considerado um dos territórios mais densamente povoados do mundo vêm causando a morte de dezenas de milhares de palestinos e destruindo toda a infraestrutura de Gaza.
O número de vítimas fatais ultrapassou 34 mil palestinos — cerca de 70% mulheres e crianças —, com mais de 8 mil pessoas desaparecidas debaixo dos escombros. Foram destruídos 35% dos prédios e praticamente todos os mais de dois milhões de habitantes foram forçados a deixar suas casas.
No outro território palestino ocupado, a Cisjordânia, a violência ilegal praticada por colonos israelenses é diária, com mais de 500 mortos. Desde o início do conflito, milhares de palestinos foram presos e o governo anunciou que outros milhares vão ser detidos este ano.
*Com Al Jazeera
Edição: Leandro Melito