TRAGÉDIA CLIMÁTICA

Rio Guaíba ultrapassa cota de inundação e comportas do Cais Mauá são fechadas

Defesa Civil já iniciou evacuação de moradores das ilhas de Porto Alegre; projeções apontam que cheia pode ser recorde

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Comportas de contenção do sistema de proteção contra enchentes em Porto Alegre foram fechadas na manhã desta quinta-feira (2) - Foto: Luciano Lanes/ PMPA

O Guaíba ultrapassou a cota de inundação no centro de Porto Alegre na tarde desta quinta-feira (2) e as águas já estão invadindo o Cais Mauá por conta das fortes chuvas que atingem o estado. As comportas de contenção do sistema de proteção contra enchentes da capital gaúcha foram fechadas pela prefeitura pouco antes disso, durante a manhã. As projeções são cheia recorde.

Conforme dados do Centro Integrado de Coordenação de Serviços (Ceic-POA), o nível das águas na régua do Cais Mauá marcava 3,14 metros às 15h15 desta quinta. A cota de inundação é 3 metros.

As águas estão subindo rapidamente. Às 15h15 de ontem, estavam na cota de 2,01 metros e no começo da manhã já marcavam 2,70 metros. A tendência é de nova enchente histórica, visto que o Guaíba recebe águas dos rios Jacuí, Sinos, Caí e Gravataí, que estão com cheias de grande volume.

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As cinco ilhas de Porto Alegre – Mauá, Pavão, Grande dos Marinheiros, Flores e Pintada – encontram-se inundadas. A água já invade as casas da população e as ruas de acesso estão bloqueadas pelas águas. A Defesa Civil iniciou a evacuação e tem apelando para que as pessoas deixem o local.

Na Zona Sul da Capital, as águas já avançam sobre a orla dos bairros Ipanema e Guarujá e a Avenida Guaíba apresenta diversos pontos de alagamento.

Uma enchente com esse volume no Guaíba não ocorre nesta época do ano desde a grande enchente de 1941. A Defesa Civil prevê que a água ultrapasse a marca de 4 metros na sexta. Em novembro de 2023 ele atingiu 3,46 metros.

O Ceic-POA alerta para o risco de inundação de bairros do 4º Distrito, como Humaitá, Navegantes, São Geraldo e Floresta, e da parte baixa do Centro Histórico. "Recomendamos que levantem seus móveis, eletrodomésticos e utensílios, retirem veículos das ruas e busquem abrigo junto a familiares ou na estrutura de acolhimento emergencial, localizado no Pepsi On Stage: av. Severo Dullius, bairro Anchieta (24 horas)", afirma.

A previsão de pesquisadores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), é ainda mais crítica. À GZH, o grupo afirma que o nível pode bater recordes, superando os 4m76cm registrados na enchente de 1941. O cenários mais preocupante projeta cheia de mais de 5 metros.


Projeção dos professores do IPH/Ufrgs apontam enchente histórica em Porto Alegre / Foto: IPH/Ufrgs/Reprodução GZH

Defesa Civil e a Procuradoria-Geral do Município (PGM) informaram que vão editar um decreto de situação de emergência de nível 2. O instrumento permite que o Executivo solicite e receba recursos, de forma facilitada, das esferas estadual e federal, além de autorizar o município a mobilizar todos os órgãos nas ações necessárias.

"É de suma importância que as pessoas compreendam que devem buscar um lugar seguro - seja a casa de familiares, ou as estruturas da prefeitura. Já as famílias que estão longe das áreas de risco devem priorizar ficar nas suas residências", ressalta o coordenador da Defesa Civil de Porto Alegre, Evaldo Rodrigues de Oliveira Júnior.

Mais de 100 pessoas abrigadas

De acordo com a prefeitura, 106 pessoas foram acolhidas em três abrigos temporários na tarde desta quinta-feira, em razão da elevação do nível do Guaíba. O número foi atualizado às 14h desta quinta.

Destas, 47 permanecem no Centro Social Padre Leonardi, na Restinga - sendo 29 adultos e 18 crianças. Outras 45 estão no Pepsi On Stage, onde está concentrado o acolhimento aos moradores das Ilhas, incluindo 27 adultos e 18 crianças. Já o Clube dos Correios, na Ponta Grossa, recebe 14 pessoas: 12 adultos e duas crianças.

Interrupção de energia elétrica

O prefeito Sebastião Melo (MDB), através de sua rede social, anunciou que a CEEE Equatorial irá interromper o abastecimento de energia elétrica nas cinco ilhas da Capital devido à elevação do nível da água do Guaíba. A alegação é o risco de choques elétricos.

A cheia do Guaíba e a falta de energia também fez com que o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) anunciasse que a interrupção do fornecimento de água na Estação de Tratamento de Água Ilhas (ETA). Segundo a prefeitura, as comunidades das ilhas serão abastecidas por caminhões-pipa.

Pela manhã, o prefeito reforçou que a situação nas ilhas está se agravando. "Viemos atuar no convencimento dos moradores para que aceitem o acolhimento. Não se pode esperar para sair."

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou na manhã desta quinta-feira que alguns serviços de saúde estão prejudicados devido à chuva. O Hospital Materno Infantil Presidente Vargas (HMIPV) e o Hospital de Pronto Socorro (HPS) funcionam normalmente.

Confira abaixo o funcionamento das unidades:

Abertas com restrições (equipe reduzida): CF Álvaro Difini, CF Belém Novo, CF José Mauro Ceratti Lopes, US Chácara do Banco, US Jardim das Palmeiras, US Macedônia, US Morro dos Sargentos, US Núcleo Esperança, US Paulo Viaro, US Quinta Unidade, US São Vicente Mártir, CF Modelo, US Glória, US Vila Fátima (equipe parcial), US Vila Jardim (equipe parcial).

Abertas com restrições (parte do serviço alagada): US Divina Providência, US Mapa (alagamento na recepção), US Mato Sampaio, US Milta Rodrigues (goteira e alagamento), US Santo Alfredo (alagamento nas salas de acolhimento).

Fechadas: US Chapéu do Sol, US Lami, US Ponta Grossa, US Restinga, US Domênico Feoli, US Ilha da Pintada, US Ilha do Pavão e US Sarandi.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Marcelo Ferreira