AGROECOLOGIA

RS: Encontro busca reunir ciência e saber popular sobre plantas alimentícias não convencionais

A 7ª edição do HortPANC acontece entre os dias 23 e 25 de abril, na cidade de São Lourenço do Sul

Brasil de Fato | São Lourenço do Sul (RS) |
Encontro coloca em proximidade quem pesquisa e quem produz - Divulgação

Interessados nas Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) têm encontro marcado em São Lourenço do Sul, no Rio Grande do Sul, entre os dias 23 e 25 de abril.

Pela primeira vez no estado, o Encontro Nacional de Hortaliças Não Convencionais (HortPANC) irá congregar a grande diversidade de pessoas e segmentos dedicados ao tema. Participarão consumidores, agricultores familiares, extensionistas, pesquisadores, professores, estudantes e outros profissionais ligados à alimentação e saúde.

Conforme informam os organizadores, a atividade busca fortalecer e continuamente estimular laços de sistemas de produção local, cadeias curtas de comercialização e de agregação de valor às PANCs.

“É um grande encontro de vários setores da sociedade que vêm trabalhando pela sociobiodiversidade alimentícia”, sintetiza Jaqueline Durigon, professora da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e presidenta do evento, destacando o papel desse espaço na valorização da agricultura familiar e camponesa e na conservação das práticas agroecológicas e dos saberes populares.

As palestras, mesas redondas e apresentação de trabalhos, além de ilustrarem a grande diversidade de iniciativas existentes no país, buscam provocar o debate, apontar gargalos para a expansão da produção e do consumo das PANC e mostrar oportunidades para o avanço do conhecimento. A agenda do evento pode ser consultada na programação disponível no site oficial.

O encontro busca estabelecer um amplo diálogo entre as diversas áreas do conhecimento, tratando desde experiências consolidadas de cultivo e identificação de espécies potenciais a aspectos nutricionais e gastronômicos das PANCs. Há uma busca para instrumentalizar os participantes, bem como por elencar aspectos que ainda demandam pesquisa.

O Rio Grande do Sul é o estado berço do conceito de PANC. O município sede do evento é um território simbólico, banhado pela Laguna dos Patos, inserido no bioma Pampa, preenchido pela agricultura familiar camponesa, pelos povos tradicionais, indígenas e quilombolas, e por demais ações voltadas à agroecologia.

Ali, a Fundação Universidade do Rio Grande (FURG) realiza, juntamente com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), o projeto de extensão PANCPop, que busca popularizar o uso e o conhecimento sobre essas espécies

“O objetivo de trazer esse tema ao Sul do Rio Grande do Sul, interiorizando esse debate. É mantê-lo mais próximo aos camponeses e camponesas, para que essas pessoas tenham oportunidade de dialogar com os vários outros setores da sociedade”, explica Durigon.

“As PANCS são uma das formas que temos encontrado de contrapor o sistema alimentar hegemônico que define o que vamos comer, onde vai ser produzido esse alimento e onde vai ser ofertado”, explica a pesquisadora.

“Esse sistema restringe o número de espécies que chega à mesa da população e traz uma grande monotonia alimentar de norte a sul do país. As PANCS têm sido uma das bandeiras mais fortes em termos de cenário nacional, nessa mobilização de pessoas em prol da luta pela soberania e segurança alimentar.”

“Tivemos esse grande desafio de trazer ao interior um evento que geralmente é realizado em capitais ou grandes cidades”, completa. As edições anteriores foram realizadas em Curitiba, São Paulo, Jundiaí e duas vezes em Brasília. Houve ainda uma edição realizada durante a pandemia em formato online.


Espaços de diálogo, debate e partilha de saberes tradicionalmente fazem parte das edições do HortPANC / Divulgação

Aproximar pessoas e organizações para fortalecer laços

O HortPANC pretende ser um grande impulsionador da popularização dessas plantas, sendo o principal evento que reúne toda a comunidade dedicada ao tema no país.

“Junto àquelas e aqueles que defendem e inserem as PANCs nos seus agroecossistemas, vamos unir os saberes tradicionais e a ciência, trazendo o debate para as pautas que colocam as PANCs como elementos centrais para o presente e futuro da soberania e segurança alimentar do nosso país”, afirma o texto de apresentação do evento, que ainda tem possibilidade de agregar inscrições de participantes através do formulário disponível no site.

De acordo com o pesquisador Nuno Madeira, que atua na unidade Hortaliças da Embrapa, em Brasília, a cada edição, o HortPANC ganha novas perspectivas de aprendizado com base nas experiências vivenciadas pelos setores envolvidos na produção desses alimentos que, pouco a pouco, conquistam mais espaços no campo e na dieta dos brasileiros.

Madeira destaca a importância da feira, “que funciona como espaço didático e de vivência em torno dessas plantas, interiorizando o diálogo em torno da popularização das PANCs, normalmente mais pujante nos grandes centros urbanos”. Nesse aspecto, São Lourenço do Sul é citado pela Embrapa como um bom exemplo, tendo em vista o movimento coordenado pela FURG, com destaque para o projeto PANCPop.

Josuan Schiavon, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores e Pequenas Agricultoras (MPA) saúda a realização do encontro nacional no território e valoriza os esforços de aproximação entre academia, instituições de pesquisa e desenvolvimento com os camponeses e camponesas, que têm papel central na concretização dos objetivos alinhados à temática das PANCs.

“As plantas alimentícias não convencionais são um tema que sempre esteve muito presente nas práticas do campesinato e dos povos tradicionais e da agroecologia, mas como tudo que de alguma forma incomoda o modelo agrícola industrial, isso foi se perdendo, foi sendo imposto um processo de esquecimento. Agora é hora de resgate e reafirmação”, diz Schiavon.

Para Schiavon é preciso reconhecer o mérito do encontro “em articular os grupos participantes e tentar trazer os temas para próximo de fato a quem merece e precisa discutir para não virar apenas uma palavra bonita a ser utilizada em meios distantes da realidade concreta do povo”.

Esse é o mote, segundo o dirigente, que fez com que o MPA se somasse ao debate e à organização do evento. “Nós entendemos que as plantas alimentícias não convencionais têm múltiplos propósitos”, aponta, afirmando que são “importantíssimas para a sociobiodiversidade, exercendo um papel estratégico na garantia da soberania alimentar dos povos e na autonomia das famílias camponesas”.

Jaqueline Durigon acrescenta ainda que o encontro em São Lourenço do Sul “pretende trazer esse debate para que se possa criar estratégias de utilização dessas plantas, buscar políticas públicas municipais, estaduais e federais de inclusão destes alimentos nas cadeias curtas de comercialização, buscar a inclusão dos alimentos artesanais e da produção do campesinato nesses circuitos de comercialização de alimentos da sociobiodiversidade, refletindo em ações de grande importância social e ambiental em nível local, regional e nacional”.

* Com informações da Embrapa/Hortaliças, FURG, PANCPop e HortPANC


Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko