OPERAÇÃO DO MP

Contratos de empresas de ônibus com prefeitura de São Paulo são mal administrados, diz especialista

Rafael Calabria afirma que problema é antigo, mas pode ter piorado na gestão Nunes

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Em 2023, Transwolff e UpBus receberam juntas da prefeitura de São Paulo a quantia de 800 milhões de reais; dinheiro teria ajudado a financiar crime organizado - Transwolff/Reprodução Redes Sociais

Um dia depois da operação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) que prendeu dirigentes de empresas de ônibus na capital paulista por envolvimento com o PCC, a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana foram aos terminais para garantir a circulação normal do transporte público. Nesta quarta-feira (10), os agentes de segurança estiveram presentes também perto das garagens das empresas denunciadas e investigadas pelo MP, a Transwolff e a UpBus. 

O MP sustenta, na denúncia, que os repasses feitos pela prefeitura para as empresas foram usados para financiar o crime organizado. Rafael Calabria, coordenador do Programa de Mobilidade Urbana do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) pontua que chama atenção o montante recebido pelas empresas. Em 2023, Transwolff e UpBus receberam, juntas, a quantia de 800 milhões de reais.

" [O envolvimento do crime organizado com empresas de transporte público] é uma suspeita antiga, tem até tese e estudos acadêmicos, mestrado, que falam sobre o assunto. Vira e mexe tem algumas investigações, mas essa surpreende pelo tamanho da ação estatal, com a polícia, com a Receita Federal. Uma articulação grande puxada pelo Ministério Público. É o tamanho que surpreende na ação em algumas empresas, principalmente na Transwolff, que tem uma relevância muito grande na cidade hoje", afirma Calabria.

O pesquisador ressalta que essas empresas de ônibus foram regularizadas primeiro como cooperativas, que juntaram os perueiros que atuavam clandestinamente na cidade. Para ele, o formato de organização deixou brechas para que problemas como esse ocorressem ao longo dos anos. No entanto, é possível que o quadro tenha piorado na gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

"A seleção das empresas não tem processos para evitar que isso [uso das empresas pelo crime organizado] aconteça. O atual contrato [de 2019] deveria trazer elementos novos para o sistema: mudança na remuneração das empresas tirando o pagamento por passageiro, que facilita os problemas de cálculo que podem abrir espaço para a lavagem de dinheiro", diz. Ele afirma ainda que elementos de fiscalização e controle não foram implementados.

O coordenador técnico do Idec afirma que há suspeitas de que a Transwolff e a UpBus cresceram não apenas com dinheiro do crime, mas com apoio de políticos. As duas empresas estão sob intervenção da gestão municipal por causa da denúncia.

"Essas duas cresceram, possivelmente, com o apoio de setores ilegais, como o tráfico. O caso da Transwolff é mais marcante: ela tem um grande apoio de vereadores da Câmara Municipal, principalmente do presidente atual da Câmara, Milton Leite. Agora, se existe uma correlação da Câmara com esses malfeitos ainda não dá pra afirmar – o MP até falou que não existe. Mas é complexo. Tem que investigar um pouco mais até outras empresas da cidade", cobra. 

O promotor de Justiça Lincoln Gakiya afirmou que outras empresas já estão sendo investigadas e podem precisar passar pelo mesmo processo de intervenção. O coordenador do Idec diz que, se o problema exposto for combatido, há chances de melhorias no transporte para os passageiros. "Dá um pouco de surpresa no setor o tamanho disso e um pouco de esperança de que consiga gerar alguns frutos bons para os usuários, para as usuárias e para os setor de transportes", pontua.

"O desafio é saber se essa gestão Nunes – que é tão fraca, que não tem tido muita atenção ao tema da mobilidade, que tem feito cortes, reduções, cortes de integrações, vale transporte – vai ter a força política, a intenção e a visão de aproveitar esse momento para implementar as melhorias que esse momento possibilita que aconteça. Depende muito da prefeitura".

A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta quarta-feira (10) do Central do Brasil, que está disponível no canal do Brasil de Fato no YouTube.

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Edição: Thalita Pires