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Bolsonarista que vandalizou ato pró-palestina é investigado por invadir escola estadual

Homem posta vídeos assediando docentes e estudantes; Polícia Civil investiga desacato a funcionária de escola

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Kleber Ribeiro pisa em boneco que simboliza bebê palestino durante ato em SP contra extermínio de crianças em Gaza - Redes Sociais/Brasil de Fato

Kleber Ribeiro, jovem que vandalizou com violência o ato pelo Dia da Criança Palestina, em São Paulo (SP), já protagonizou um ataque a uma escola estadual, durante o qual ofendeu aos gritos professores e servidores. A invasão virou caso de polícia e é investigada pelo 4º Distrito da Polícia Civil paulista. 

A Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) informou ao Brasil de Fato que "dois homens, ainda não identificados, entraram em uma escola e passaram a desacatar uma funcionária, de 42 anos". O incidente ocorreu no último dia 22 de março no colégio estadual Maria Aparecida Rodrigues.

A ação foi toda filmada e publicada nas redes sociais do próprio Ribeiro. As imagens mostram que Kleber entrou no colégio durante horário escolar, acompanhado por pelo menos um apoiador, que filmava a ação. 

No vídeo é possível ver que o portão entre o pátio externo e as salas de aula estava fechado. Do lado de fora, Ribeiro grita com uma funcionária que professores estariam "doutrinando" alunos no interior da instituição de ensino.

PM acompanhou confusão

Nas imagens, a Polícia Militar (PM) aparece acompanhando a ação sem reagir. Em outra parte do vídeo, um policial repousa a mão sobre o ombro de Ribeiro, enquanto ele finalmente deixa a instituição de ensino.

Apesar da presença da PM e dos vídeos postados por Kleber Ribeiro, a Polícia Civil diz que ainda não identificou os autores do ataque ao colégio. A Polícia Militar não respondeu até a publicação desta reportagem. 

Em seguida, Kleber Ribeiro se compara às vítimas do holocausto por ter sofrido, segundo ele, perseguição de professores quando era estudante. "Eu corria que nem os judeus corriam em 1945 dos nazistas", gritou em frente à escola Maria Aparecida Rodrigues e a um policial militar. 

Ainda em março deste ano, Ribeiro invadiu um evento pró-Palestina organizado por estudantes na Escola de Filosofia, Ciências Humanas e Letras (EFLCH) da Unifesp em Guarulhos. Ele gritou e ofendeu os alunos, até ser expulso pelos organizadores, antes de postar tudo nas redes sociais. 

"Não podemos nos deixar intimidar por esse tipo de ação extremista e antidemocrática", declarou a Apeoesp. 

Sindicato dos professores repudia 

Em nota enviada ao Brasil de Fato, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) repudiou o incidente, solidarizou-se com professores e estudantes e defendeu a punição do agressor. 

"A postura do rapaz que aparece no vídeo, que denota ódio e propensão à violência, inclusive tentando invadir a unidade escolar, mostra que precisamos todos estar atentos e prontos a defender a escola como espaço de liberdade e a educação pública, gratuita, laica, inclusiva de qualidade para todos", declarou a Apeoesp sobre o ataque à escola Maria Aparecida Rodrigues.

Homem pisou em bonecos que representavam bebês palestinos  

Na última sexta-feira (5), Kleber Ribeiro esperou o fim do ato pacífico pelo Dia da Criança Palestina, em São Paulo (SP), para destruir cartazes e faixas, além de pisar em bonecos que representavam bebês palestinos. A ação simbolizava repúdio à violência em Gaza.

A manifestação, organizada por movimentos populares pró-Palestina, se iniciou às 10h na estação Berrini da CPTM e terminou no final da manhã no Consulado Geral de Israel.

Desde que o mais recente massacre em Gaza começou, a ONU estima que 12,3 mil crianças foram mortas. O número é praticamente metade dos 30.449 mortos até o momento, segundo o Ministério da Saúde da Palestina.

O Brasil de Fato não conseguiu localizar o telefone ou e-mail de Kleber Ribeiro. O pedido de resposta foi enviado por meio de uma rede social. A reportagem será atualizada caso haja retorno.

"Não podemos nos deixar intimidar", diz sindicato de professores

A Apeoesp lamentou que agitadores de extrema direita, disfarçados de "influencers" e "youtubers", cometam assédio contra professores e estudantes das escolas públicas para tentarem impor, pela truculência, a censura e o pensamento único nas nossas escolas.

"Esse tipo de comportamento deplorável, massificado pelo movimento "escola sem partido", que foi derrotado em suas tentativas de impor leis restritivas em Câmaras Municipais e Assembleias Legislativas em todo o Brasil, deve merecer o repúdio de toda a sociedade", disse o sindicato.  

Para a entidade, que tem 180 mil sócios e é um dos maiores sindicatos da América Latina, os partidários da extrema direita atacam princípios básicos da educação brasileira, como a liberdade de ensinar e aprender e a pluralidade de concepções e práticas pedagógicas.

"Não podemos nos deixar intimidar por esse tipo de ação extremista e antidemocrática", declarou a Apeoesp. 

Edição: Thalita Pires