Estados Unidos

Trabalhadores de fast food da Califórnia, nos EUA, conquistam aumento do salário mínimo do setor

Luta foi movida pelo Sindicato dos Trabalhadores de Fast Food do estado

Brasil de Fato | Nova York (EUA) |
Salário mínimo do setor passou a ser 25% do que o salário mínimo geral do estado no dia primeiro de abril - AFP

Mais de meio milhão de trabalhadores de redes de fast food na Califórnia, nos Estados Unidos, começaram o mês de abril com a perspectiva de um salário maior.

O motivo é que começou a valer, no dia primeiro, o novo salário mínimo estadual para quem trabalha nesses estabelecimentos. O valor é de US$ 20 a hora (cerca de R 100), US$ 4 acima do salário mínimo geral do estado.

“Muitos dirão ‘uau, são US$ 20”’ Sim. Mas hoje em dia, na Califórnia, todos sabemos que US$ 20 por hora ainda é muito pouco para pagar o aluguel”, diz Julieta Garcia, que trabalha em uma filiam da Pizza Hut.



Julieta afirma que paga mais de US$ 2.200 por mês só pelo aluguel de um apartamento de um quarto. “Os US$ 20 ainda são muito pouco para a nossa sobrevivência”, afirma.

Uma vitória do movimento sindical

Além de trabalhar na rede Pizza Hut, Julieta faz parte do Sindicato dos Trabalhadores de Fast Food da Califórnia.  Foi graças à mobilização deles que, no fim do ano passado, o governador Gavin Newsom (democrata) assinou a lei que autorizou o aumento nos salários.

A Califórnia é um estado extremamente caro, mas o aumento de US$ 4 a hora não é pouca coisa. Para quem trabalha 40 horas semanais, o aumento mensal é de quase US$ 700, o correspondente a R$ 3.500.

“Não há dúvidas de que é uma melhoria”, disse o historiador e cientista político Steve Ellner ao Brasil de Fato, “e eu acho que devemos contextualiza-lo. O movimento trabalhista dos EUA tem se aquecido nos últimos 2 anos, de 2 a 3 anos. Tem tido greves em lugares e profissões que antes ninguém podia imaginar”.

Erick Salvador, que trabalha no McDonald’s, está feliz com o aumento: “O aumento significa muito, porque pelo trabalho que temos aqui, estamos nos esforçando e todo trabalho aqui é pesado. E acho que o aumento que eu ganhei anteriormente foi de US$ 16,75 e agora que chegou a US$ 20 já nos ajuda muito”.

As empresas contra-atacam

A reação por parte das empresas foi rápida. Uma rede de sorveterias e outra de pizzarias fecharam lojas em algumas localidades do estado. Outras redes, como o Starbucks, anunciaram o aumento nos preços a partir do dia primeiro. As empresas afirmam que o novo salário mínimo vai pesar no bolso dos consumidores.

“Desde o início dos sindicatos foi assim”, afirma Ellner. “As empresas sempre dizem que o aumento será passado para o consumidor. E isso é, no melhor dos cenários, uma meia verdade. Porque por mais que você tenha monopólios, o sistema é baseado em oligopólios, o que significa pouca competição… ainda assim há competição. No capitalismo sempre há diferentes formas de competição”.

Na prática isso significa que uma empresa não pode aumentar os preços drasticamente de uma hora pra outra, caso contrário perderá parte da clientela.

Essa não é a primeira vez que empresas reagem a conquistas trabalhistas com ameaças de fechar as portas. Nas últimas décadas, grande parte do setor produtivo dos EUA fechou fábricas e mudou a produção para outros países. No caso da indústria dos serviços, porém, essa não é uma possibilidade.

“No que diz respeito ao setor alimentício, a história é outra. Porque você não tem um mercado nacional, mas sim um mercado local. Então empresas como McDonald’s e Wenddy’s, etc, não têm essa opção”, diz Steve Ellner.

Edição: Rodrigo Durão Coelho