Os Estados Unidos criticaram nesta segunda-feira (1) a medida adotada por Israel de censurar a emissora de TV Al Jazeera. Horas antes legisladores israelenses haviam aprovado lei que abre caminho para proibir a operação no país de meios de comunicação internacionais considerados uma ameaça à segurança nacional.
“Acreditamos na liberdade de imprensa. É crítico. É extremamente importante, e os Estados Unidos apoiam o trabalho extremamente importante que os jornalistas realizam em todo o mundo, e isso inclui aqueles que reportam sobre o conflito em Gaza”, disse porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.
Depois de o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, ter prometido tomar medidas imediatas para forçar o fim das operações do canal de notícias com sede no Catar, o parlamento aprovou a autorização para que ministros do governo decidam encerrar a transmissão de redes de notícias estrangeiras.
Netanyahu confirmou a decisão nas redes sociais. “A Al Jazeera não será mais transmitida de Israel”, escreveu Netanyahu em um post no X depois que da aprovação da lei . “Pretendo agir imediatamente de acordo com a nova lei para interromper a atividade do canal.”
Além dos EUA, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas ( CPJ) disse que a lei aprovada dá ao governo de Netanyahu “autoridade para fechar qualquer meio de comunicação estrangeiro que opere em Israel, representando uma ameaça significativa para mídia internacional”.
“Isto contribui para um clima de autocensura e hostilidade em relação à imprensa, uma tendência que se intensificou desde o início da guerra Israel-Gaza”, afirmou o CPJ.
A TV Al Jazeera é considerada uma dos maiores e de mais credibilidade emissoras de notícias do mundo. Sua cobertura costuma dar voz ao ponto de vista árabe no conflito, além de críticos do massacre israelense na Faixa de Gaza.
Pressão interna
Enquanto tenta silenciar críticas na imprensa, Netanyahu lida com insatisfação interna. Nesta segunda-feira, multidões se formaram em Jerusalém Ocidental, na frente do Parlamento, o Knesset, pedindo novas eleições.
Imagens mostram centenas de tendas montadas na rua em frente ao Knesset, no que é o segundo de um protesto de quatro dias, de acordo com os organizadores. No primeiro dia, sábado, 16 pessoas foram detidas.
Os manifestantes exigem a saída de Netanyahu por não agir para a libertação dos reféns israelenses capturados pelo Hamas em 7 de outubro.
“Chega de matança, chega de desespero, os reféns são a coisa mais importante", diziam os manifestantes.
Contexto
O atual massacre israelense na Faixa de Gaza — ou operação militar, como chama Israel — começou em outubro do ano passado, mas as condições no território palestino já eram consideradas "sufocantes" pela ONU antes disso.
O bloqueio israelense de 17 anos — para obrigar o Hamas, partido que ganhou as eleições palestinas em 2006, a abdicar do poder — gerou taxas de desemprego de 45% e insegurança alimentar que atingia 64% da população. A ONU calculava que mais de 80% dos moradores de Gaza dependiam de ajuda externa para sobreviver.
Em 7 de outubro, integrantes do Hamas ingressaram em Israel e realizaram o ataque mais violento já sofrido pelo país, deixando cerca de 1,2 mil mortos e capturando 240 reféns. A resposta do governo Netanyahu foi considerada desproporcional pela comunidade internacional. Bombardeios diários no que é considerado um dos territórios mais densamente povoados do mundo vêm causando a morte de dezenas de milhares de palestinos e destruindo toda a infraestrutura de Gaza.
O número de vítimas fatais ultrapassou 32 mil palestinos — cerca de 70% mulheres e crianças —, com mais de 8 mil pessoas desaparecidas debaixo dos escombros. Foram destruídos 35% dos prédios e praticamente todos os mais de dois milhões de habitantes foram forçados a deixar suas casas.
No outro território palestino ocupado, a Cisjordânia, a violência ilegal praticada por colonos israelenses é diária, com mais de 500 mortos. Desde o início do conflito, milhares de palestinos foram presos e o governo anunciou que outros milhares vão ser detidos este ano.
A ONU alerta para o desastre humanitário, acusando Israel de usar a fome coletiva como arma de guerra e ressaltando a possibilidade real de que centenas de milhares de palestinos venham a morrer por falta de alimentos.
Edição: Matheus Alves de Almeida