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Neste domingo, Caminhada do Silêncio sai pela primeira vez do antigo DOI-Codi em SP para homenagear vítimas da ditadura

Quarta edição do evento parte do principal local de tortura e assassinato dos opositores ao regime militar em SP

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Detalhe de cartazes com fotografias de vitimas durante a 3ª Caminhada do Silêncio pelas Vítimas da Violência do Estado em São Paulo - Rovena Rosa/Agência Brasil

Cobrar por justiça e relembrar os 60 anos do golpe militar no Brasil é o mote da Caminhada do Silêncio pelas Vítimas da Violência de Estado, que acontece neste domingo (31), em São Paulo.

O evento é organizado pelo Instituto Vladimir Herzog, o Movimento Vozes do Silêncio, o Núcleo de Preservação da Memória Política e a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. A quarta edição do ato, que também ocorre no Rio de Janeiro, é vinculada às caminhadas realizadas em outros países que também sofreram com a ditadura no mesmo período, como a Argentina e o Uruguai.

A caminhada inicia em frente ao local onde funcionou o Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), na Rua Tutóia. O local foi responsável pela tortura e assassinato dos opositores ao regime militar. A mudança do local é uma das grandes diferenças para as edições anteriores, como pontuou Cesar Novelli, membro do Núcleo de Preservação da Memória Política, em entrevista recente ao Brasil de Fato.

"Bom, 2019 foi o primeiro ano do governo Bolsonaro. Na sua campanha, se falava muito de uma volta dos militares no poder. Então eu acredito que em março, ainda nos três meses do início de um governo Bolsonaro, as pessoas estavam reverberando tudo isso. O número expressivo da Caminhada do Silêncio em 2019, coloco na conta desse contexto", colocou Novelli. "Em 2022 e 2023 acho que as pessoas deram menos importância à temática da ditadura. E aí tem uma série de fatores, a forma como socialmente — a imprensa, as escolas, enfim — não se toca tanto nesse assunto. Até por conta disso, mudamos o plano este ano. Ao invés do Parque do Ibirapuera, vamos nos concentrar no antigo DOI-Codi, até para que a gente consiga levar a pauta simbolicamente para as ruas", completou.


Futuro interrompido: 60 anos do Golpe no Brasil / Foto: Evandro Teixeira | Arte: Brasil de Fato

Lorrane Rodrigues, coordenadora de Memória, Verdade e Justiça do Instituto Vladimir Herzog, pontua que a mudança do local do ato é um marco para a relação das forças armadas e a sociedade brasileira, um tema em questão na atualidade após os ataques golpistas em Brasília. A caminhada também faz homenagem às populações periféricas, que seguem sofrendo com a violência policial.

"O DOI-Codi era um órgão subordinado à segunda seção do estado maior do exército. Era um pequeno prédio de dois andares onde eram realizadas as torturas, os assassinatos, os desaparecimentos politicos", explica Rodrigues, em entrevista à rede TVT.

"O que a gente vê nessas manifestações como as do 8 de janeiro, dos jovens que morrem nas periferias, da violência policial presente, estamos falando sobretudo desse passado que não passa. A gente está falando de uma sociedade que tem dificuldade de falar sobre os seus traumas", completa.

A concentração para a Caminhada do Silêncio será às 16h. Por volta das 18h, os participantes seguem em direção ao Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos, no Parque Ibirapuera.

O evento deve reunir pelo menos 10 organizações, como a União Nacional dos Estudantes, a Ordem dos Advogados do Brasil - São Paulo, a Comissão Arns e a Anistia Internacional. 

*Com informações de Agência Brasil e TVT

Edição: Nicolau Soares