EM UMA SEMANA

Haiti: quase 17 mil pessoas deixaram suas casas em uma semana; setores progressistas denunciam ligação de gangues com os EUA

Cerca de 60% dessas pessoas foram para a região que já abriga 116 mil deslocados desde dezembro

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Visão aérea da capital do Haiti, Porto Príncipe - clarens SIFFROY / AFP

A ação violenta de grupos armados na região metropolitana de Porto Príncipe, capital do Haiti, provocou o deslocamento de quase 17 mil pessoas apenas entre os dias 8 e 14 de março, segundo a Organização Internacional de Migrações (OIM), agência das Nações Unidas. Nesta segunda-feira (18), foram registradas 12 mortes em Porto Príncipe.

O relatório aponta que diversas áreas no entorno da capital têm registrado um aumento de ataques por armas de fogo desde 29 de fevereiro, situação que levou parte da população da região metropolitana de Porto Príncipe a buscar refúgio em outras províncias do país, "assumindo os riscos de passar por rotas controladas por gangues", diz a agência da ONU.

Com base nisso, a entidade realizou um monitoramento nas cinco estações de ônibus mais utilizadas na região da capital. A maioria dos deslocados entre 8 e 14 de março se dirigiram para a região do Grande Sul, que compreende os departamentos Grande'Anse, Sul, Nippes e Sudeste, região que já abrigava cerca de 116 mil pessoas deslocadas em dezembro de 2023. 

Assembleia dos Povos do Caribe defende solução haitiana para a crise

Representantes de países membros da Assembleia dos Povos do Caribe (APC) se pronunciaram sobre a crise no Haiti por meio de comunicado em que apontam que o nível de violência que o país enfrenta é "o resultado das gangues armadas lideradas por alguns ex-policiais, financiados pela elite política e econômica com apoio dos Estados Unidos e outros países imperialistas."

Essa violência, diz o comunicado, é dirigida principalmente para a classe proletária e setores da classe média haitianas: "Os ricos e setores mais privilegiados da classe média não são alvos das gangues armadas".

A Assembleia dos Povos do Caribe se manifestou contrária ao envio de tropas estrangeiras para o Haiti, por meio da Missão Multinacional da ONU, liderada pelo Quênia. "As diferentes intervenções que já foram feitas, pioraram a situação no Haiti. O envio de tropas matou dezenas de pessoas, deixou o país com grandes problemas econômicos, além dos soldados estrangeiros terem violado mulheres, meninas e meninos, e deixado muitas crianças órfãs."

A Assembleia dos Povos do Caribe é composta por integrantes do Haiti, Cuba, Porto Rico, República Dominicana, Martinica, Barbados, Suriname e Trinidade y Tobago.

Em um comunicado enviado à imprensa haitiana, o partido de esquerda Rasin Kan Pep La, afirma que a ação das gangues no Haiti foi estimulada pelo governo de Ariel Henry, com respaldo dos Estados Unidos. "O governo estadunidense confiou a liderança do país aos bandidos legais do PHTK (Partido Cabeças Raspadas de Ariel Henry) por cerca de 15 anos. Agora eles tentam seguir o mesmo caminho, entregando o poder a líderes de gangues e traficantes de drogas", diz o comunicado.

O partido Rasin Kan Pep La defende uma "transição de ruptura" no Haiti, por meio de "eleições honestas" realizadas pelo Conselho Eleitoral Provisório (CEP). "Abaixo a gangsterização de nosso sistema político, viva uma transição de ruptura. Viva as eleições honestas com um Conselho Eleitoral Provisório que não receberá ordens da oligarquia e nem dos imperialistas."

 

*Com Agencia de Prensa Popular Haitiana

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho