Fim da trégua

Colômbia suspende cessar-fogo com dissidência das Farc após ataque a grupo indígena

Ministro da Defesa colombiano assinou um decreto que retoma operações militares contra EMC

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
A crise nos diálogos acontece logo depois de o governo reabrir diálogos com o EMC - JOAQUIN SARMIENTO / AFP

O governo da Colômbia suspendeu neste domingo (17) o cessar-fogo com a principal dissidência das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o Estado-Maior Central (EMC). Segundo o presidente Gustavo Petro, a medida foi tomada depois de um ataque, no sábado, contra um grupo indígena em Cali.

O EMC havia participado de uma reunião com o chefe do Executivo colombiano para discutir proposta de paz no território e demonstrar apoio às reformas propostas por Petro. Segundo a Associação de Conselheiros Indígenas do Norte de Cauca, a comissão que representou os indígenas foi atacada de forma “violenta”. 

De acordo com o governo, o ataque representa uma “violação do acordo de cessar-fogo”. O ministro da Defesa colombiano, Iván Velázquez, assinou decreto interrompendo o cessar-fogo que era acordado com o grupo armado. A medida será válida a partir da meia noite de 20 de março nos Estados de Cauca, Nariño e Valle de Cauca. Os três locais têm forte atuação do EMC.

 

 

A crise nos diálogos acontece logo depois de o governo reabrir diálogos com o EMC. As duas partes discutiram na semana passada acordos sobre territórios, participação social, pedagogia e comunicações. O EMC tinha um acordo de cessar-fogo com o governo desde outubro de 2023. Em janeiro, as duas partes prorrogaram a trégua até 15 de julho.

O presidente Gustavo Petro rejeitou a ação do EMC e disse que o grupo não quis um processo de paz sério.

“O EMC de Cauca, nas suas diferentes frentes, não deu nenhum sinal, desde o início, de querer um processo de paz sério. Acreditava, muito erradamente, que a negociação era para se fortalecer militarmente e que o seu fortalecimento se fazia submetendo a população à sua estruturas e se financiando com a economia ilícita e com grande capital ilícito", disse Petro nas redes sociais.

O Alto Comissariado das Nações Unidas na Colômbia condenou os ataques e pediu que os atores não estatais respeitem “a vida e demais direitos e liberdades fundamentais”. 

O governo assinou em 2016 um acordo de paz com as Farc. O grupo armado entregou as armas e se transformou num partido Força Alternativa Revolucionária do Comum. Mas muitos guerrilheiros que não concordaram com o documento assinado com o governo e deixaram as Farc.

Negociações com outros grupos

O governo da Colômbia já tem negociações de paz com outro grupo dissidente das Farc, o grupo armado Segunda Marquetalia. Em fevereiro, as duas partes anunciaram que se comprometeram a iniciar as negociações para um acordo de paz definitivo e estabelecer de forma “imediata” acordos prévios para reduzir os confrontos.

O Exército de Libertação Nacional (ELN) também tem um acordo firmado com o governo. Depois do 6º ciclo de negociações realizado em Cuba, as duas partes concordaram em ampliar o cessar-fogo até agosto. O grupo foi o primeiro a assinar um Acordo de Paz com o Estado colombiano em 2016, durante o governo de Juan Manuel Santos. 

O diálogo permanente com os grupos armados é uma das políticas implementadas por Petro desde o início do seu mandato em 2022. O presidente transformou a Paz Total em uma política de Estado a partir da aprovação da lei 418, que firma o compromisso do Estado colombiano em manter contato para negociar o fim dos confrontos entre esses grupos.
 

Edição: Rodrigo Durão Coelho