O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, defendeu nesta quinta-feira (14) a fala do presidente Lula comparando o massacre promovido pelas forças militares israelenses em Gaza ao Holocausto e afirmou que a ofensiva mira toda a população do território, não somente o Hamas. Ele falou sobre os temas durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado, realizada nesta manhã.
"É preciso condenar e repudiar a atrocidade do ataque terrorista sofrido [por Israel] no dia 7 de outubro. Sim, Israel tem o direito de defender sua população, mas isso tem de ser feito dentro de regras do direito internacional. A cada dia que passa resta claro que a reação de Israel ao ataque sofrido tem sido extremamente desproporcional e não tem como alvo somente os responsáveis pelos ataques, mas todo o povo palestino", afirmou o chanceler.
Questionado sobre a fala de Lula que comparou o atual massacre à perseguição e tentativa de extermínio de judeus pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra, o embaixador brasileiro atribui a comparação à "profunda indignação" do presidente com a situação na região.
"A questão que se impõe é quantas vidas mais serão perdidas até que todos atuem para impedir o morticínio em curso. É nesse contexto de profunda indignação que se inserem as declarações do presidente Lula. São palavras que expressam a sinceridade de quem busca preservar e valorizar o valor supremo que é a vida humana", afirmou Vieira.
Após a fala de Lula, o chanceler israelense, Israel Katz, declarou o presidente brasileiro persona non grata no país e convocou o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, para uma reprimenda. Na audiência desta quinta, o chanceler brasileiro lamentou o episódio e afirmou que o comportamento em relação a Meyer desabonou a "prática diplomática internacional".
"Lamento que a chancelaria israelense tenha se dirigido de forma desrespeitosa a um chefe de Estado de país amigo, o presidente Lula. Reputo igualmente lamentável o tratamento indecoroso e descabido dado ao embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer", disse Vieira aos senadores.
Após o episódio, ocorrido em fevereiro, Frederico Meyer foi chamado de volta para o Brasil.
O ministro das Relações Exteriores foi à Comissão de Relações Exteriores nesta quinta atendendo a um convite do presidente do colegiado, senador Renan Calheiros (MDB-AL), para prestar esclarecimentos sobre a fala de Lula.
Bloqueio de insumos
Durante a audiência pública, Mauro Vieira também comentou sobre o bloqueio israelense de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza por meio da fronteira com o Egito, em Rafah. Como mostrou o Brasil de Fato, em meio aos insumos que estão bloqueados há cerca de 30 caixas com purificados de água e filtros enviados pelo Brasil que não conseguem atravessar a fronteira.
Para o chanceler brasileiro, a situação é uma violação do direito internacional.
"A estimativa é de que mais de 15 mil toneladas de suprimentos de ajuda humanitária internacional ainda aguardariam aprovação israelense para entrar em Gaza, sendo mais da metade alimentos. Sem sombra de dúvidas, o bloqueio à ajuda humanitária consiste em uma violação do direito internacional", disse Vieira.
O ministro ainda ressaltou o compromisso histórico do Brasil com o diálogo e com a busca por uma solução pacífica para a região, e reiterou também que o país segue dialogando com todos os países em sua política externa.
"Temos compromisso histórico com o Estado de Israel e temos também um compromisso histórico com o Estado palestino, reconhecido por 139 países. (...) Também valorizamos nossa disposição para apoiar e tentar encontrar um caminho de paz naquela região que é tão importante e relevante para os brasileiros."
Edição: Nicolau Soares